domingo, julho 06, 2003

CARTA ABERTA DO PRESIDENTE LULA

Profa. Dra. Tânia Pellegrini
Universidade Federal de São Carlos
São Paulo

Prezado Presidente:

Esta foi a única maneira que encontrei para tentar amenizar o
sentimento de profunda frustração que se abateu sobre mim, em
vista dos rumos que o governo Lula tem tomado. Depois de lutar durante
mais de vinte anos pelo PT, mesmo não sendo filiada,
depois de acreditar que efetivamente um governo de esquerda, com um
presidente legítimo filho do povo, poderia modificar o país
ou pelo menos apontar nessa direção, vejo que alimentei esperanças
vãs.

É com profunda perplexidade que assisto ao
continuísmo da política econômica, a um discurso eivado de
meias-verdades, a um endosso de praticas detestáveis antes
perpetradas por partidos de direita, a um favorecimento acintoso do
capital financeiro, a um desprezo pelo empresariado nacional
e a um desrespeito insuportável pelo funcionalismo público. Este mais
uma vez, vai entrar como "moeda de troca" em favor de uma
hipotética distribuição de renda futura aos desvalidos da nação.

Sou professora universitária e toda minha vida trabalhei pelo ensino
público e no ensino público. Assisti com horror, ao longo de 33 anos,
ao desmonte, primeiro do ensino de primeiro grau, depois ao do
segundo grau e agora antevejo com agonia o mesmo fim para o ensino
de terceiro grau. Não preciso dizer nada sobre a destruição que a
reforma da Previdência fará na universidade pública.

Isso tem sido por demais veiculado pela imprensa, sob todos os matizes ideológicos. A
continuar o "rolo compressor' (termo antes usado pelo PT para denominar
práticas da direita) que se criou para a aprovação a toque de caixa
da reforma da Previdência, nada mais haverá em que acreditar.

O governo do PT vai fazer pela educação pública universitária, por meio da
reforma da Previdência, aquilo que o governo FHC não conseguiu fazer porque
resistimos bravamente, durante oito longos anos. Não me sinto mais com
forças para , por trás da barricadas, ainda dizer: "No passarán!".

Vocês já passaram, infelizmente com o auxílio do meu voto, da minha
confiança e da minha esperança. Só me restam hoje o desencanto,
a desesperança e o medo de ser para sempre infeliz, sobretudo porque,
politicamente, eu e milhares de outros na minha situação sentimo-nos

órfãos de uma utopia que nunca mais renascerá.

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