terça-feira, novembro 25, 2003




era uma vez uma cartucha, senhora magra de rosto , cheia de corpo, a quem nada agradava. palpiteira infeliz agonizava numa sonambulice só por preguiça de colocar seu corpo na horizontal. ou talvez temor de que não mais o erguesse.

a seu lado estava sempre um molequinho com a cabeça coberta por dois cornos desmaiados e calções bufantes. achava-se cheio de graça. cabriolava e olhava a dama encartuchada com um lenço na crista a indicar que havia vento.

do castelo eles sentiam o perfume de pastel japonês sendo fritado. de caldo de cana. vatapá. mas nada os atraía mais do que a solene forca cujo laço fatal pendia acima da cabeça da pobre mulher que ainda não indicara ao bufão sua decisão: matar-se ou continuar viva.

até que um gato sem pelo, lembrando uma rã ou um feto, subiu-lhe pela saia rodada em busca de colo. ela olhou para o gato e persistiu na sua posição de nada. tocou-se, no entanto, quando reparou que sua saia estava remendada e que atrás de si a enleando havia uma rede tecida por aranhas gigantescas.

olhou profundamente para o absoluto negativo. Absolutou-se. e sem abrir os lábios transmitiu dirigindo-se ao bufão sem mãos. vou assim ficar sua besta. Até que as formigas me devorem. e mais não falou e nada lhe foi perguntado. por séculos e séculos calou-se. e até hoje está lá sentada.

pergunta-se: alguém lembra quem fez este desenho?


Nenhum comentário: