quarta-feira, novembro 19, 2003

publicado na Tribuna da Imprensa dia 17 de novembro


Um país sem memória

Hoje, está fazendo exatamente 100 anos que o Brasil derrotou os Estados Unidos e a Inglaterra, e o fato vai passar em branco junto à opinião pública, numa demonstração maior do descaso existente em relação à memória
deste País.

A 17 de novembro de 1902, no governo de Rodrigues Alves, o Barão de Rio Branco assinava o Tratado de Petrópolis, garantindo para o Brasil a soberania definitiva sobre o Acre, território que até então pertencia à Bolívia.

A chamada revolução acreana, cujo centenário transcorreu em 6 de agosto passado, foi uma epopéia de sangue, bravura e amor ao País, mas é uma história que não se ensina nos colégios e poucos brasileiros conhecem.

Foi uma revolução feita exclusivamente pelo povo, sem qualquer ajuda do governo brasileiro. O líder Plácido de Castro tinha apenas 29 anos, mas conseguiu organizar os seringueiros e venceu o Exército boliviano,
expulsando suas tropas de Puerto Soares, que se tornou Porto Acre.

Com a derrota dos bolivianos, desfez-se o Bolivian Sindicate, instituição anglo-americana que arrendara à Bolívia o extenso e rico território, responsável pelo estratégico abastecimento de borracha ao mundo e que passaria a ser regido pelas leis dos Estados Unidos, com juízes norte-americanos e tudo o mais.

Assim, os seringueiros de Plácido de Castro simplesmente garantiram ao Brasil a soberania da Amazônia, que ainda hoje é tão contestada. Mas nenhum livro educativo conta essa emocionante saga, o mais belo episódio da História do Brasil, uma história que o Brasil não conhece.

Galvez

À época, o descaso do governo brasileiro pela situação dos seringueiros que colonizavam a Amazônia Ocidental era tão grande que o espanhol Galvez chegou a proclamar o Estado Independente do Acre, dizendo: "Já que o Brasil não nos quer, vamos ser livres".

Mas o governo brasileiro logo mandou tropas para destronar Galvez e devolver a região à Bolívia, numa burrice monumental.

"Sindicate"

O arrendamento da riquíssima região ao Bolivian Sindicate foi a gota d'água, fazendo os seringueiros se levantarem e invadirem o quartel das tropas bolivianas a 6 de agosto, exatamente no dia em que a Bolívia comemora sua independência.

Se o Bolivian Sindicate tivesse prosperado, com toda certeza a Amazônia hoje não seria brasileira.

Bandeira

Não é por mera coincidência que o Acre seja hoje o único estado brasileiro cuja bandeira é inteiramente verde e amarela.
É também o único estado onde, em todas as escolas, as crianças cantam o Hino Acreano e o Hino Nacional, todos os dias, antes de serem iniciadas as aulas.

Amazon River

Registre-se que anos antes da revolução acreana, em Belém, os paraenses já haviam impedido que entrassem no Rio Amazonas as embarcações da empresa americana Amazon River, na primeira tentativa de derrubar a soberania
brasileira sobre aquela região.

Herói

Plácido de Castro, o gaúcho que amava a Amazônia, é o maior herói da História do Brasil. Um dia, quem sabe, nossos jovens aprenderão na escola alguma coisa sobre ele.


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