sábado, dezembro 13, 2003

edalmo veio conversar. foi antiquário em poços de caldas. preparei um pão-de-ló, receita do livro da mãe do frei beto. ele falou sobre os eloins que perderam o poder da similitude. são os ets que vagam por aí. alguns transtornam nosso pobre mundo exatamente porque a cada dia deles é retirado o poder de replicar.

fiquei olhando o filho dele. calado. afastado. usa calça jeans toda rasgada. dizem rasgado estético, uma argola no lábio, outra no nariz . edalmo falava e eu olhava o filho dele. o rosto parecendo sempre de perfil. e as argolas. não dói quando come, perguntei? ele riu. fiquei olhando o menino.

fiquei olhando a boca do pai movendo os lábios se tocando, abrindo, a língua estremecia. pelo carto do olho percorria o menino. quieto, com as argolas penduradas. todo rasgado. escondido. não aceitou pão-de-ló. tomou chá. a argola esbarrando na chávena .

ai como é bom dizer a um menino com argola na boca se ele aceita uma chávena! pura inveja. porque amanhã mesmo vou pendurar duas argolas. uma em cada olho, em feitio de lágrima.

dando recado: mesmo quando o olho está seco pranteio por nós, a humanidade. e todos os eloins.




Nenhum comentário: