quarta-feira, fevereiro 25, 2004


enquanto roubava a saudade e a morte na marcia maia,
lembrando da beth salgueiro que não deixou url , depois de uns fiapos de conversa com a a fal creio que ante-ontem, vi que o post da senhora sobre os anseios da idade sublimados em filhos, netos e bisnetos chocou a garotada.

porque não é estético o amor em idosos. a baba é. o esquecimento, a repetição dos fatos. até molhar os fundilhos por incontinência das partes baixas internas é normal. mas falar de amor, pretender sentí-lo , almejar vibrar com o gozo, e é um tipo de emoção que só este prazer confere a alma, é desonesto, antiestético.

aos idosos cabe administrar sua espectativa de vida e nada mais. espectativa que todos em volta observam, mas não falam. porque falar de morte também é desacato à beleza. stacato: a vida é uma farsa só. eu fabulo para mim, o outro simula, os demais aparentam a maioria dissumula , grande parte dá-se ares, finge. ser hipócrita foi o que fizemos a vida inteira.

sim.sim. eu quero sentir as agonias e o êxtase do amor, do sexo. sim sim. preciso ouvir vibrar em mim , assim como você precisa, os nervos soando as músicas da emoção que o prazer suscita. não este orgasmo cauteloso que um bom poema nos causa,que a música provoca, que um filme genial suscita, precisamos do orgasmo deslavado, escancarado que as putas sentem com seus machos escolhidos, que faz a abelha matar o zangão.

mesmo sabendo que pode causar infarto, romper um aneurisma, levar a um derrame cerebral, nós, idosos, precisamos com urgência romper com o esquema de descarte que urdiram para nós. e da mesma maneira que preciamos urrar de vida urge também sentir profundamente todoasos prazeres agônicos da morte.

vida, prazer e morte são sinônimos fingindo de antônimos . ninguém consegue ser o seu contrário; só na fabulação. eu sou o todo da vida. sou seu tolo sentido desmedido condicionado, refutado. mas eu sou. e se na idade provecta eu me pergunto porque se ausenta o desejo é sinal de que ele está em mim. em nós. em você. apenas será socialmente correto não perceber.

um dia, já com 50 e poucos anos, resolvi arriscar o terceiro casamento. o rapaz muito mais jovem. lindo. louro. azul. os pêlos dos braços brilhavam ceratinas de luz no braço dourado de sol. eu lembrava da música do caetano, leãozinho, assobiava. fiquei feliz. até o filho reclamar, dizer que amar não ficava bem em mãe. e já corôa, onde já se viu?
encerrei o assunto por ali. quando no post vi o batatada corando não resisti: lembrei do pito de meu filho.

calma . estou devaneando. coisas do verão. que em qualquer idade eriça a pele inspirando devaneios. estou ainda costurando a armadura, comprando um cavalo,procurando um fiel escudeiro para ir em busca dos moinhos de vento. mas bem que eu poderia transformar tudo, de ficção em verdade, não é? quem sabe? mas que a gente precisa mudar ah! precisa.


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