outono
antigamente, para ser dono da sua vida era necessário que se pudesse dispor da própria morte. a morte, mesmo no ocidente era uma celebração. uma rito de passagem, como o nascimento. os parentes, amigos, o clero, e os passantes da rua entravam na casa do moribundo para que ele os abençoasse. houve um guerreiro, guilherme marechal, na idade média, que fez de sua morte uma solenidade que prolongou-se por meses e meses.
os que antes do suspiro final, após abençoar os presentes e fazer suas recomendações precisavam estar sós com deus, pediam que todos se retirassem e ao seu lado ficavam o padre e o médico a quem cabia acompanhar a cerimônia até o estertor final.
com o advento da modernidade foi retirado do ser humano o poder sobre sua morte e, portanto , sua vida, pois uma está ligada à outra. antigamente morria-se em casa. hoje nos hospitais. antigamente, dizer que o morto estava só na sua passagem era estranho, pois o rodeavam várias pessoas. mas é que a morte como a vida é algo muito pessoal e intransferível. hoje, o mesmo enunciado é verdadeiro. só, despido, invadido por fios e canos, numa uti de hospital a vida escreve seu capítulo final por outras mãos que não a do vivente ou morrente. a família , os médicos, a sociedade, decidem sobre como a morte deve acontecer e, consequentemente, como toda vida deve ser pautada,medida.
mas porque falar sobre a morte? porque estamos no outono. as folhas das árvores cumpriram seu ciclo de uma forma de vida. caem ao chão para que os vermes as transformem em adubo. e há um hino de beleza com que fanfarras invisíveis tingem de amarelos e vermelhos a natureza, que adentra o inverno banhada de ouro e fogo. creio que van gogh nasceu e morreu outono. olhem como está lindo o parque das águas.
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