terça-feira, junho 22, 2004


morre brizola no brasil fatiado


madrugada. vi por duas vezes o show da natalie cole introduzindo dianna krall, na direct tv. distante do mundo, discutindo com a "ideografia dinâmica" de pierre lévy; exatamente por que acredito no que ele contesta, mas é assunto para outro momento.

leio um recado do manoel do agreste e na página azul de seu blog sou avisada que brizola morreu. leonel brizola. ele narra fatos acontecidos com o político que o enobrecem.

no entanto, não consigo me comover. dói saber que uma geração de políticos com cultura e conhecimento desaparece e deixa em seu lugar o produto do nivelamento por baixo, pessoas que podem ser manobradas, mal sabendo ler e escrever, sem ética, principalmente, sem ética.

mas por que não gosto de brizola? morava no rio grande do sul. 1964 acontece. brizola esticou a corda até que rompesse, não houve cautela, sabedoria . não só ele. mas ele. sereno chaise era prefeito de porto alegre. tomou com garra o quartel militar, a sede do governo do estado e expulsou o governador de terras brasileiras. porto alegre estava em mãos dos que não aceitavam o primeiro de abril. aguardava exércitos que caminhavam para o sul , e jango e brizola que liderariam a resistência.

havia, creio que ainda existe na cidade, uma rua chamada a rua dos homens em pé. senhores encapotados iam para o local pegar o sol. neste momento de defesa das instituições brasileiras contra o golpe militar os senhores idosos tornaram-se jovens novamente, a população estava preparada aguardando seus líderes para resisitir à ambição da farda em busca de melhores soldos.

o tempo passa. enfim, chorando, sereno chaise anuncia em prantos nas rádios locais que brizola não viria. muito menos jango. estavam à salvo em terras fronteiriças do brasil. o governador do rgs retornou vitorioso. a população sucumbiu ao desânimo. de rádios clandestinas blizola incitava o povo. sua voz. a impresença derrubou o orgulho gaúcho.

chegaram as represálias dos militares. a carne não era mais vendida no rio grande do sul, comia-se alguma soja. o sul nada recebia e sua produção era derivada para outros estados brasileiros. um tempo de vergonha e privações. vivia-se à mingua. eu estava lá. compartilhei o momento.

o pdt , o partido trabalhista originado do labour party da inglaterra, introduzido no brasil por lucio bittencourt e alberto pasqualini, entre outros, referendado por getúlio vargas, que modificou a relação trabalho/ produção no brasil havia sido esbagaçado pois dois inéptos e ambiciosos : jango e brizola. a udn de lacerda triunfara , enfim.

sereno chaise aguardou a coluna do exército que caminhava ao rio grande do sul para deter os revoltosos. sereno e todo o povo. mas derrotados de antemão pela traição. os militares não vieram. sereno reuniu os funcionários da prefeitura, despediu-se e deixou o prédio pela porta da frente. assumiu o seu lugar o então presidente da câmara, célio marques fernandes.

sereno nunca aceitou o exílio. foi preso outras vezes durante o regime militar e, segundo ele próprio, teve ofertas de brizola e de joão goulart para deixar o país. não quis. nota publicada no jornal folha da tarde, em maio de 1964, sintetiza suas opiniões:
"- Sigo o meu destino. E o faço de fronte erguida e de consciência tranqüila. Não afrontei a democracia, não desrespeitei as leis do meu país, não violentei meu pensamento, não desonrei o mandato que o povo me conferiu. Seja qual for o meu destino - a prisão ou a atividade profissional - serei sempre um homem digno".

naquele momento resistir era ficar. talvez , se houvesse resistência, a história poderia ser outra, pois hoje se sabe nem os militares estavam preparados para o golpe . foram movidos pelo improviso do mourão. havia a conjura. mas o golpe foi uma trapalhada.

morreu um homem que, se mais sensato e menos ambicioso, seria um grande líder. sei que devemos a ele como também à afoitos políticos daquela década os anos de chumbo que soterraram o brasil. se um dia nos recuperaremos? creio que não. o estrago é irremediável. e hoje retrocedemos nas relações trabalhistas por exigências de órgãos internacionais.

não o louvarei porque morreu. esperara dele, vivo, resolver os erros do passado e usando menos o verbo e mais a ação recuperar o brasil que perdíamos. mas, leonel, preferiu a retórica. partir e perorar. quando a tática, exilados e auto exilados, era resistir ficando. e ficar lutando.

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