regina branco. este é seu nome. setenta e tantos anos. sempre jovem. bonita, atuante. regina era bailarina, casou sete vezes. toca violino. toca vários instrumentos, fala muitos idiomas. andou pelo mundo quase inteiro. e acabou por vir morar em caxambu, sem parar de correr mundo. no ano passado, ou retrasado, regina desejou rejuvenescer. como conter na cela cronológica tanta vida! os olhos impacientes, argutos. a agilidade mental e física ainda não poderia ser ceifada pelo tempo.
arrumou as malas e foi para a cidade da geórgia na rússia onde as pessoas vivem mais tempo graças a um banho de yogurt onde, segundo ela, todos mergulham e são conservados. depois de algum tempo retornou para caxambu pois, é muito complicado aprender um idioma que só reconhece a si mesmo. os da geórgia não precisam do olhar do outro para provar a existência. tome-se como outro o resto do mundo.
as placas de referência de uma cidade normalmente são exibidas em dois ou mais idiomas. na geórgia , não. o que levou regina ao retorno. numa tarde fria, deste outono invernal, ela contou sua história. num determinado momento, com seus gestos de teatro, mas os olhos profundos, ensimesmados, perguntou? quem diria que estaria hoje, ouvindo passarinhos, nesta casa gostosa, tomando el-grey?
e nós, inclusive fernando nimam que a intoduziu, guardamos o calor deste momento feliz, em que pessoas insólitas, que em nenhum dia se permitem serem as mesmas, alucinamos feitos e reinventamos a vida. despreocupadas com o olhar do outro que ratifica nossa existência e a destrói.
dizem que os insanos marcaram encontro em caxambu. dizem que nhá chica, a primeira brasileira que será canonizada como santa, afirmava que caxambu nunca deixaria de ser esta cidade imperial, colonial. dizem que a cidade tem caveira de burro enterrada o que impede seu ingresso na modernidade. eu digo que caxambu tem uma personalidade ímpar. realmente os tipos mais exóticos são encontrados aqui. onde a vida é santa e os delírios iluminados. era título de um livro da escritora maura cansado o dizer :" o hospício também é deus". aqui, neste céu, os deuses humanos vivem num palco iluminado, montado sobre a cratera de um vulcão.
sobre a geórgia
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