um vampiro à solta nas ladeiras de Olinda
hoje, dia 12, as cidades vizinhas - olinda e recife - fazem aniversário. olinda 470 anos, recife é dois anos mais nova. para recordar um texto publicado no diário do comércio de recife em 1999, quando o jornal comemorava 80 anos.
Um vampiro à solta nas ladeiras de Olinda
A vida escorria mansa no final dos anos 40. Quando a noite chegava, o lazer das famílias era ouvir rádio. A rua ficava para os boêmios, no vocabulário pernambucano, para os farristas. O bar era coisa impensável para moças e rapazes de boa família. Fora do carnaval os eventos de rua não passavam de novenas e procissões. Os namorados estavam limitados ao portão ou ao passeio pelas praças. No máximo até dez horas. A partir desta hora o toque de recolher era severo. E foi justamente no meio deste limite, aí pelas nove horas da noite, que as ladeiras de Olinda começaram a ser assombradas. Um vulto que mais parecia flutuar, com uma imensa capa negra, acentuava suas aparições com horrendas gargalhadas. Aparecia rápido, sempre próximo a um casal que namorava num portão ou regressava do passeio. E mais rápido ainda desaparecia.
As aparições se repetiram por uma semana. A princípio poucos levaram a sério, era "conversa de bêbado". Não era conversa de bêbado, era molecagem da rapaziada, que inventou a assombração e se ocupava de caçá-la, pretexto para tomar umas e outras. Um pai de família que fora buscar a filha na praça do Carmo, ao descer uma das ladeiras de iluminação precária, viu a tal aparição. Na verdade, viu o que o Diário da Noite estava promovendo, um ator vestido com uma enorme capa negra. As reportagens acabaram por gerar o boato que o bicho andava à caça das moças, uma espécie de vampiro. Nascia o Makobêba de Olinda
A rapaziada de Olinda continuou a desfrutar da história, mas um grupo aguerrido, que não sabia a origem da assombração, passou a caçar o Makobêba pra valer! O vulto de preto continuou aparecendo, e assustando com sua gargalhada assombrosa. Alguns pais de família prometeram um tiro de papo amarelo na tal visagem. O Diário da Noite vendia furiosamente em Olinda e no Recife também.
Alguns tiros foram disparados contra gatos assustados. A aparição era muito viva. Só se deixava ver por casais desprotegidos e desgarrados. Um comissário de polícia, na pretensão de receber as homenagens pelo fim das aparições, arranjou um culpado e o prendeu. Na noite seguinte o Makobêba reapareceu e a rapaziada seguiu se divertindo em farras animadíssimas. As vigílias se prolongavam nas noites de Olinda. Mas, a disposição de ser o herói que matou o Makobêba, objetivo do grupo que levava a sério a história, preocupou a tal aparição.
Um dia o Diário da Noite revelou tudo: a assombração era o ator Mário Salaberry, que estava promovendo sua peça em cartaz no Recife. Mas, a esta altura, o Makobêba já era uma lenda que virou sucesso no Carnaval. Inspirou máscaras e fantasias, e o grande compositor de frevos Levino Ferreira lançou em setembro de 1949, com a famosa orquestra de Severino Araújo, Makobêba vem aí! Não faltaram, também, os folhetos de cordel. A jogada do ator teve a parceria do repórter José do Patrocínio Oliveira, que nas páginas do DN alimentou a assombração, ajudou a criar uma lenda e deu oportunidade aos mentirosos, que contavam duros enfrentamentos com a visagem.
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