quinta-feira, abril 28, 2005




de rituais e saudades

cumpro rituais de amizade: amigos que reclamam a ausência e de quem sinto falta. amigos reais, de carne e osso. destes para quem a gente não manda um beijo. dá.

são rituais cálidos, serenos. olivia hime tocando em fundo durante um café com kátia , um papo com hermínio e ines. livros oferecidos, wagner e turandot trocados e uma imagem final: "unforgiven", "os imperdoáveis " de clint eastwood, a cena do the end em contraluz. e nada melhor do que silhuetas para tanger em guitarras a alma já em solo de jazz. o sol abrasado no horizonte , um varal com roupas tremulando ao vento como bandeiras esfarrapadas e uma lápide. tudo tão simples, tão bonito. e a alma soluça.

mas de repente esta cena me remete a outra de michelangelo antonioni em "profissão repórter" . jack nicholson, na áfrica, enojado da profissão assume a identidade de outro e como este outro morre em um quarto de hotel barato mas digno, na espanha, após visitar as obras de gaudi. o mesmo pôr do sol, a silhueta do hotel branco em contra luz e um solo de guitarra.

a alma se aquieta. vejo o fim do filme com meu filho. o do clint. o dia completo como a roda que girou sua estrada do pôr ao sol. paco de lucia no som do micro e esta agonia da hora. devo ao virtual. mas qual a diferença se o sentimento que açula a emoção é o mesmo?

e neste dia de céu plúmbeo , ou mesmo em qualquer dia de céu explêndido recordo dos amores ausentes. daqueles a quem se quer e estão tão longe. sempre há algum, não é mesmo? e que mesmo longe como diz ines; "você não vai, fica em alma conosco", eu tenho em mim o sabor da alma do outro, trago como pele sobre pele a ausência de tanto tempo que há tanto tempo se faz iminente presença. pode ser que em um minuto, talvez na próxima semana, quem sabe em anos? quem pode dizer em geologia e em amor o que é iminente?


portanto, ao visitar os amigos levo comigo um varal em contraluz na estrada sob qualquer sol, o mourão onde é preso o arame e a silhueta de um hotel mediterrâneo. e saudades, muitas saudades de um bem que está muito, mas muito distante e presente.



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