segunda-feira, maio 16, 2005
réquiem
final de tarde. o céu desaba em maio vermelho como as flores. pela rua do parque há silêncio. passa o defunto em sua última visita às ruas da cidade. no interior é assim. parentes e amigos levam o caixão, seja de rico ou de pobre, de sua casa até à capela e depois ao cemitério em procissão pelas ruas. última homenagem, ultimo passear. as mãos dadas seguram alças de metal. mas a memória guarda ainda as últimas paisagem compartilhadas, a palavra dita, o olhar trocado.
doloridos na carne a na alma os homens, pois reza a tradição que cabe a eles suportar o peso da morte que lhes entorta o corpo, assim seguem sua via sacra carregando o que depois de morto tornou-se mais querido do que vivo. é sempre assim. pode a vida competir com a morte? jamais. pois os vivos marcam sua presença com ausência, mas a morte, esta, ah, esta por estar sempre presente enfeita-se com seu melhor traje, usa seus atavios para cortejar.
seguem; olhos doloridos, rugas marcadas . sabem que levam junto uma fatia de seu corpo que será enterrado junto com o do parente ou amigo. a tarde cai. definitivamente. e quem espera o cortejo passar para retornar à casa contagia-se com a tristura deste momento e carrega nas tintas com que pinta o céu.
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