quarta-feira, julho 27, 2005



tróia, a égua






estrada de chão batido. poeira de montão. o céu cambia. numa curva azul, na outro cinza chumbo, acolá pejado de nuvens carneiro. a estrada para são tome das letras tem somente quarenta e poucos quilômetros, mas como é péssima o tempo demora a passar, o carro trepida, e o cd geme ao som de elomar, vital farias, xangai e geraldo azevedo "mexe com a mão na terra/ sobe essa serra corta esse chão/ planta que a planta ponte/ por esses montes lã d' algodão.... e tinha até um passarinho/ que além de seu vizinho/ ficou muito companheiro". severinin planta na terra arrendada mas depois perde a colheita e foge pra capital . ser peão na construção civil e desabar. mas tinha uma roça de terra macia, dizem que pura poesia.

vi um monte de severinin no caminho. planta de café, planta de mandioca, e o céu passava mudança a cada curva. tanta poeira! e longe a fazenda, mais um palmo moça e a gente tamu lá. mais dez quilômetros e mais estrada, curva mais outra curva, pó e mais poeira da terra vermelha, o carro parece um esquartejado. quase dois quartos de tanque de gasolina e nada, nada de chegar. enfim, um gavião empoleirado na árvore seca, com olhos de açoite, abre asas e avoaçou. sobe serra, mata burro , passa cancela, só severenin dentro das cercas e ela, enfim ela, ali, com sua barriga imensa de quem já já vai parir.

olha a veia, diz o dionísio. veja como tá grande! os olhos imensos dela, como ameixas boiando na calda. cinco anos e grávida, carinhosa, olhos nos olhos as mãos negras de acarinhar a pelugem branca e amanhã, amanhã, ela virá para casa. tróia, porque trás no ventre uma comitiva. de paz, esta. agora arenga arenga sobre preço, estica daqui , encolhe de lá. a parte melhor. e todos os causos do mundo são lembrados.
-mas tá cara, flávia. nem tem papel! - olha que já tem cria no pé?- se, flávia, se. morre e aí? -morre nada, tá sadia. olha aquela lá, é filha do rufião da serra, super premiado.- mas eu quero essa, que nem nome tem e nem papel. - é boa escolha, num mês cê tem dois que pelo formato da barriga é machinho.

tem café dona diolinda? - tem não, minha filha, mas procê a gente passa. e a noite chega num friinho de doer a medula.a gente bate o pé no chão para esquentar.- tira um pouco, por conta do se. -tá, uma média . se nascer e morrer a gente como seca, barriga seca e diminói, diz dionísio, né dona flavia?

combinado , um aperto de mão. trato mais do que selado. e tróia, aí:

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