sexta-feira, setembro 02, 2005






MORREU LEÃO



o que a morte nos tira não é o outro, que se vai. senti ontem quando Tatão me avisou por telefone que Leão, Otacílio Barros Magalhães, 49 anos, de maria paula, pentotiba, niterói, estado do rio de Janeiro, acabara de falecer. não, a morte nos retira alguns gestos, determinados olhares e sabores. é isto que ela significa: a diminuição dos sentidos. hoje sei que ao ir em niterói e chegar à casa que construí, ao descer com o carro e retornar com as malas para entrar não encontrarei leão com o olhar de quem ganhou brinquedo e não poderei olhá-lo da mesma maneira. meu abraço cairá no vazio. em seguida ele não pegará as malas que já deixei cair no chão e entraremos juntos na casa. enquanto espera que eu passe um café contaria as novidades de às vezes um ano de ausência, ou mais. e juntos , com o vapor das xícaras entre nós, sentados lado a lado, passaremos imediatamente para as recordações.
é assim que chego em niterói; com leão como que à espreita e eu com o coração carregado de saudades: ilma, tânia, palmira, otacílio, o leão ! e da minha querida tatão.


com Tatão e Otacílio, o leão, aprendi a afagar a terra para que a plantação vingue. o prazer das longas conversas com ela, saber se está ácida pelo odor e reconhecer seus diferentes cheiros. ontem eu não estava formal com quem conversei pelo msn! estava triste por ter perdido emoções que só cabiam em leão, assim como perderei as que foram feitas para tatão, até que, um dia, me perca eu de mim.

Tatão, ou Dona Conceição, começou com Otacílio trabalhando em minha casa quando meu filho tinha apenas 2 anos. hoje ele tem 31. construímos uma vida de alumbramento. até hoje somos muito amigos, mais que amigos, parentes! quando ela telefonou ontem só perguntei: quem foi tatão? seu modo de falar dona esther avisava: alguém partira. foi-se leão. rugir , rugir.


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