terça-feira, maio 30, 2006

clube de leitura do biscoito

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" Idelber Avelar professor de Literatura e Cultura Latina da Universidade de Nova Orleans formou um clube de leituras para os amigos trocarem impressões acerca de livros escolhidos de comum acordo entre os participantes baseado nas sugestões de mestre Idelber. O primeiro livro escolhido é Duas Vezes Junho do Martin Kohan e a discussão colaborativa está marcada para o dia 8 de Junho lá no blog do Idelber, o popular Biscoito Fino e a Massa.
Eu no seu lugar não perderia essa oportunidade de ouro de poder participar de uma oficina de literatura coordenada por um PhD (literalmente) no assunto. E ainda, Idelber publicará em breve uma entrevista exclusiva como o autor do livro."

copiado de Fábio Sampaio

idelber, em seu livro "alegorias da derrota" "fala sobre ficção pós-ditatorial e o trabalho do luto na América Latina. é estudo do luto e da melancolia nas literaturas e culturas latino-americanas pós-ditatoriais.
o livro analisa alguns dos principais romancistas argentinos, chilenos e brasileiros contemporâneos (Ricardo Piglia, Silviano Santiago, Tununa Mercado, Diamela Eltit, João Gilberto Noll e outros) a partir de uma revisão das teorias do luto, de Platão a Derrida, e de uma crítica do paradigma modernizante do boom sessentista da literatura latino-americana.
A obra inclui também reflexões sobre o papel dos intelectuais e das universidades, as teorias do autoritarismo e a escrita de testemunho durante a pós-ditadura."


em entrevista, uma das perguntas que lhe fiz foi:

em um conhecido texto chamado luto e melancolia , freud explica "que em reação a perda de algo ou alguém, uma pessoa pode desenvolver dois tipos distintos de reação - o luto ou a melancolia." volto a pergunta anterior, toda a produção humana não vem carregada de luto e melancolia?

Talvez, mas de formas diferentes. Esse texto de Freud tem sido muito, muito questionado. Pela psicanálise, pelo feminismo, pela própria teoria do luto. Em primeiro lugar, Freud define o luto como normal e a melancolia como patológica. Depois, tenta circunscrever um período "normal" para que o ciclo do luto se feche e, para todos os casos em que ele visivelmente não se fecha, reserva a alcunha de "patológico", que é o estado que Freud identifica com a melancolia. Hoje em dia trabalhamos com outras hipóteses: a de que a melancolia e luto sejam inseparáveis, ou que sejam constitutivos um do outro, ou que a melancolia seja o momento que nomeia o caráter interminável do luto. Ou - neste caso a hipótese mais radical - o postulado da desconstrução, o de que o acesso mesmo à subjetividade e à linguagem é estruturado por uma experiência de luto. Nesse caso, já não haveria sentido opor o luto à melancolia, muito menos nos termos cientificistas que propõe Freud. Na verdade, Freud chega perto de escrever exatamente o oposto um pouco depois, nos seus apontamentos sobre a Primeira Guerra. De alguma forma ali naqueles textos ele deixa implícito que ante aquele horror todo, o normal seria não realizar o luto, seria sucubir ante a tarefa do luto. O horror é tal que a normalidade do luto passa a ser anormal. É um Freud mais perturbador e mais rico do que o Freud que condena a melancolia ao estado de simples distúrbio patológico.


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