quarta-feira, outubro 04, 2006

sobre entrevista do chico buarque de holanda na "folha de são paulo"sobre atuação de lula e do pt, a professora de história da universidade federal fluminense, suely gomes costa, tece condiderações. abaixo , trechos da entrevista com o chico.

Caros amigos,

1. Sim, é tempo de acelerar nossas reflexões. Agradeço-lhes a oportunidade.
2. A matéria do Chico é sensível como tudo que ele faz... . Mas há algo de ingênuo nas suas mensagens.
3.O PT que chegou ao poder esterilizou sua própria esquerda; tirou-lhe corpo e alma; HH tem razão! Raivosa ou não, estava nela o terreno fértil para a produção de algo substantivo no campo político: o que ameaçou essa esquerda a ser aperfeiçoada foi a crença propagada/revelada nas práticas políticas da banda do PT que aposta nas maravilhas do mercado e na crença de que é "todo mundo se dando bem" as coisas se resolvem... A mudança desejada/esperada por 53 milhões de eleitores se evaporou. Lula e seu grupo perderam o bonde da história; apostaram na esperteza que prossegue, cimentando o caminho de chegada ao poder e de calculada distância das utopias por reconstruir..
4. Essas forças vem governando o país desde algum tempo; há uma intrincada rede de banqueiros/negociantes que mexe e remexe ganhos astronômicos com fundos de pensão/negócios vários, lugares em que práticas sindicais se misturam com o capitalismo financeiro... O problema não é a pobreza, mas o poder de sedução da riqueza que se apossa do mundo, a mesma que faz uma mulher desejar e receber 400 vestidos ou um jovem, filho de presidente, tornar-se dono de firma que recebe 15 milhões. dos cofres públicos... Essa foi e é ainda a regra que o PT propagou como estilo que em nada discrepa do PSDB; até o aperfeiçoa...
5. Pior é justificar tudo isso; é tempo de pensar as delicadas relações entre os homens, e não a política como um lugar revestido de merda...
6. Esse PT e Lula, são uma coisasó, nunca longe um do outro; como sabemos todos, aniquilaram sonhos com um pragmatismo político que remete ao sindicalismo de resultados, daí a rede de "vantagens" no exemplo dos fundos de pensão.
7. Há pouco tempo, fui a um encontro feminista em Floripa, e fui hospedada num hotel 4 estrelas da CUT! Por que esse hotel tem que ter 4 estrelas, pô? Essa experiência me remeteu aos encontros do PT em hoteis de 5 estrelas... Imaginei então o "alcance social " de outros investimentos da CUT e do PT... Esses símbolos nos revelam muito daquilo que se anda imitando na vida e na política!!!. Esse PT nada tem de esquerda; ou então que esquerda é essa num país de miseráveis? Alguém pode me informar ???
8 Sim, não temos um corruptômetro; mas já temos aperfeiçoado nossos desconfiômetros: o meu recomenda cautela quando a política que aí está se define como parte integrante das representações e que forjam desgraças sem limites que ameaçam a existência do planeta... PSDB e PT são filhos das mesmas crenças e valores. tem as mesmas referências e não foi por outra razaão que são do mesmo lugar. Confundem-se nos mesmos sonhos, representações e métodos políticos. Assim, tanto faz como tanto fez vencer um ou outro . Pode ser até que uma derrota nas urnas seja um grande momento político; dialéticamente, pode ensejar o ressurgimento de uma esquerda revificada que repense a felicidade humana e novas formas de luta contra as desigualdades sociais.


Suely Gomes Costa/UFF- professora de história da Universidade Federal Fluminense


Chico Buarque: lucidez e coerência

A cada uma de suas entrevistas, o compositor e cantor Chico Buarque de
Holanda sempre surpreende por sua lucidez e enorme coerência.



Agora, no lançamento do seu novo CD, Carioca,
ele novamente brilhou ao falar sobre a situação
política brasileira. A direita deve ter ficado furiosa,
com saudades dos tempos da ditadura militar
que o perseguiu e censurou; a esquerda
"rancorosa" deve ter ficado ressentida com seus
irônicos comentários; já os setores da sociedade
que, mesmo críticos das limitações do governo
Lula, não perderam a perspectiva, ganharam
novo impulso criativo para a sua atuação. Mas é
melhor deixar o poeta falar, pinçando trechos
das suas entrevistas na revista Carta Capital e no
jornal Folha de S.Paulo:

Sobre a crise política:

É claro que esse escândalo abalou o governo,
abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o
PT. Para o partido, esse escândalo é desastroso.
O outro lado da moeda é que disso tudo pode
surgir um partido mais correto, menos arrogante.
No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que
você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco
como o PSDB acha que você ou é tucano ou é
burro (risos).


Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não
só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a
oposição vem dizer que se trata do governo mais
corrupto da história do Brasil é preciso dizer
'espera aí'. Quando aquele senador tucano
canastrão diz que vai bater no Lula, dar porrada,
quando chamam o Lula de vagabundo, de
ignorante - aí estão errando muito a mão.
Governo mais corrupto da história? Onde está o
corruptômetro?

É preciso investigar as coisas, sim. Tem que
punir, sim. Mas vamos entender melhor as
coisas. A gente sabe que a corrupção no Brasil
está em toda parte. E vem agora esse pessoal
do PFL, justamente ele, fazer cara de ofendido,
de indignado. Não vão me comover...
Preconceito de classe.

O preconceito de classe contra o Lula continua existindo - e
em graus até mais elevados. A maneira como ele é
insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo
contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais
humilde ouve e pensa: 'Que história é essa de burro!? De
ignorante!? De imbecil!?'. Não me lembro de ninguém falar
coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão!
Assassino! - até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para
impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito,
mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição.
Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram Lula
assumir. 'Agora sai já daí, vagabundo!'.
É como se estivessem despachando um empregado a
quem se permitiu o luxo de
ocupar a Casa Grande. 'Agora volta pra senzala!'. Eu não
gostaria que fosse assim.

Eu voto no Lula!



A economia não vai mudar se o presidente for um tucano.
A coisa está tão atada que honestamente não vejo muita
diferença entre um próximo governo Lula e um governo da oposição.
Mas o país deu um passo importante elegendo LULA.
Considero deseducativo o discurso em voga:
'Tao cedo esses caras não voltam, eles não sabem fazer, não
são preparados, não são poliglotas'.
Acho tudo isso muito
grave.

Hoje eu voto no Lula.

Vou votar no Alckmin? Não vou.


Acredito que, apesar de a economia estar atada como está,ainda há uma
margem para investir no social que o Lula
tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já
está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: 'Quero
ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá
cercado de puxa-sacos'. Ouvi isso dele na última vez que o
vi, antes dele tomar posse, num encontro aqui no Rio.

Sobre o PSOL.

Percebo nesses grupos um rancor que é próprio dos
ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa
gente que está muito próxima do fanatismo, que parece
pertencer a uma tribo e que quando rompe, sai cuspindo
fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para
cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula.

Papel da mídia.

Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a
mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas
histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as
privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma
defesa sólida na mídia, colunistas chapa-branca dispostos
a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é
concurso de porrada para ver quem bate mais.

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