domingo, setembro 02, 2007

a educação pela pedra

a educação pela pedra




de joão cabral de mello neto




Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, freqüentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,
Cartilha muda], para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.




não será preciso falar sobre a concisão e a objetividade quase secura de sertão do poeta.

já o poeta lindolf bell, que nasceu em blumenau, santa catarina escreveu o livro "o código das águas"


nele tem o poema do andarilho


se me quereis longe da paixão:
tirai o cavalo da chuva

pois menor que meu sonho
não posso ser.

..........

mas gosto mais deste : "manuel bandeira do brasil", um de seus últimos poemas


Todos fizeram seus versos para o poeta.
Também vou fazer os meus.

Quando um poeta morre
os outros fazem silêncio
ainda que ninguém tome conhecimento.

Onde estiver,
a estrela da tarde
estará no horizonte da palavra,
atrás do teatro Carlos Gomes
de meus pensamentos vãos,
e me lembrarei de ti, Manuel
Bandeira da saudade.

Onde estiver,
estarei na sacada do mundo
esperando a tua bênção
no vento noturno,
na tua galeria intemporal
de poeta que fez versos
como quem ama.

Onde estiver,
sei que pairas
entre o coração que sabe
e o ruído dos automóveis
da rua quinze de novembro e a chuva
de minha cidade temporal,
que visitas sem que ninguém saiba
e abençoas sem resposta esperada.

Todos fizeram seus versos para o poeta.
E o tempo custou a chegar
para meus versos,
afundados que jaziam no rio Itajaí,
antes da estrela da manhã
ainda que tardia,
onde os esqueci.

quando um poeta morre
os outros morrem também.

Mas nasce um canto
que fica
e fica um verso que nasce,
poeta Manuel, Leão leal.
Mas um canto de morte inteira,
Mas um verso da vida inteira.

E eu queria te dizer,
Manuel Bandeira do Brasil
e verde vale de azul anil,
que achei uma palavra fora do dicionário,
uma palavra estrelada de nome:
MANUELANCOLIA.

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