terça-feira, setembro 23, 2008

canalha

canalha


ele é um canalha! realmente. no momento em que debruçou a cabeça no meu ombro, passou o braço, afetuosamente sobre eles , e disse "estou em falta com você e com a e com a fal", do lamento com que falou, da carícia, e do sentimento de que não estava em falta droga nenhuma, que imediatamente provocou em mim, só podia ser ato de um canalha. ca-na-lha, como ele gosta que as mulheres lhe digam.

se tivesse menos mil anos, certamente, me veria envolvida por este ser humano delicado, sutil, perfeito como um canalha: fabrício carpinejar.


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"Ser chamado de "canalha"por uma voz feminina é o domingo da língua portuguesa. O som reboa redondo. Os lábios da palavra são carnudos. Vontade de morder com os ouvidos. Aproximar-se da porta e apanhar a respiração do quarto pela fechadura .

Canalha, definitivo como um estampido, como um tapa."...................................

canalha.jpg
Canalha ! - Retrato Poético e Divertido do Homem Contemporâneo
Carpinejar, Fabricio / BERTRAND BRASIL -Por R$ 39,00, 316 páginas.

é fabrício em crônicas, o livro que ele lança agora. ontem, fal contou que ele a entrevistou por email. é um canalha, pensei eu e senti uma súbita doçura de carinho e saudade por uma pessoa que vi apenas por alguns momentos mas que debruçou no meu ombro para dizer que estava em falta como quem faz da confissão um ato de cumplicidade. apesar de nunca ter faltado.

como já falei em post anterior eu o conheci pessoalmente no encontro de escritores em caxambu. no cabelo estava escrito canalha. ele falou sobre carlos nejar, o poeta seu pai, membro da academia brasileira de letras. mas já conversava com ele por emails. ele disse uma coisa fundamental; que não bastaser somente escritor, é preciso fazer a política, o beija-mãos, as visitações, para que assim seja considerado. não é suficiente escrever somente, há que se cacarejar como a galinha a avisar que saiu do forno um escrito novo, senão.... de nada adianta escrever. é preciso o apaluso da patuléia para o texto ser consagredo.

comprei dele um dos livros que não possuía "um terno de pássaros ao sul ', de 2007, reeditado estre ano também pela bertrand brasil. o primeiro poema já castiga a alma:

Volta ao pampa, pai.
Pode deixar o abrigo,
a vala aberta

na chama de uma vela.
Os cães foram desviados da porta,
falta espaço entre a pele e as roupas.

O ouvido é a saída do olvido.
Arremesso o balde ao poço
e estala a corda nas estreitas

paredes do teu corpo.
Não há seiva a puxar do fosso,
a sede lavou todo nome


e no livro inteiro o mesmo apelo: volta ao pampa, pai.

ainda não li todo o livro do fabrício , o canalha. trago-o de mansinho nas mãos, pego-o com esmero de cuidados pois há que se reter o sentimento das palavras nas frases. há que não deixar que o ouvido esqueça quando ele leu a crônica. é preciso resguardar da memória o momento do som, porque a memória trai. é preciso que apenas os sentimento e somente eles preservem as sensações e o perfume do pampa que entrou, repentinamente, pelas janelas do palace hotel e carregou a noite de frutas e folhas maceradas pelos bichos, a chuva, o sol e o vento. só porque ele falou tu e gauchês. o mundo perdeu horizontes, e como bem diz ele, "essa vida sem margens".

avoé, fabrício!


em 2005 publiquei em outro blog este poema que fiz para fabrício carpinejar e que repito agora.


Thursday, February 03, 2005

para o poeta fabrício carpinejar


il migglior fabbro, ainda que tardia,
pois caminho há luas pelas rotas secas
onde até pedras se afastam do caminho
em ameaças que combalem minhas plenas.

janeiro bem andadado em passo dissolvido
rogo à natureza que um ano, este dois mil
e cinco,
comporte todos os demais de seu caminho;
a rota.

e sejam amáveis, doces e suaves planos
a quem tem garganta afeita ao canto
e solos que dissolvem duras penas;
onde a vida é sem margens plena.

anota.
e delas, como se rocha fossem, retirassem
água de sedentas fontes, sombras líquidas
que aliviam a sola das poeiras.

eis-me chegada enfim ao ponto em que rogada
imploro a quem não sei, mas há os ecos,
milhares de horizontes nesta fronte fonte
para os inúmero olhares que carregas.





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