quinta-feira, abril 16, 2009

de caxambu para milão

SIMAS LEVA NEXO AO SALÃO DO MÓVEL EM MILÃO


O HOMEM QUE PLANTA PAISAGENS E COLHE IMAGENS




Fazenda de colheita de imagens é a fonte alternativa de produção rural que Carlos Simas, 56 anos, designer gráfico e de produtos introduz no entendimento do mundo produtivo e participativo.
Um dia faltou prego, parafusos, ligas essenciais para fixar um ponto a outro e montar uma escora, daí surgiu o encaixe.
A família morava longe . Era tão longe que , na ausência do essencial para a civilização ocidental, Simas, através de encaixes reinventou bancos, cadeiras, mesas, com madeira, papelão; além de enxergar a imagem a ser recolhida e processada.

“Introduzimos no último Congresso Interamericano de Reservas Privadas o conceito 'Uma Fazenda Produtora de Imagens', onde procuro estabelecer a 'colheita' de imagens como uma ação regular em uma fazenda preservacionista”, explica Carlos Simas.



IMAGENS COLHIDAS NA FAZENDA E SUA APLICAÇÃO







Paisagem da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), no maiô floresta, publicado na revista Veja. Veste Débora Nascimento. A flor, endêmica, da reserva reproduzida na bermuda (vitrine da Blue Man Ipanema)


“Esse trabalho de fotografia e design foi introduzido quando montamos o projeto Ação do Olhar (com apoio da Conservation International e as S.O.S. Mata Atlântica e do Critical Ecosystem Fund.). Adaptamos à tecnologia digital à tradição dos antigos naturalistas, sempre acompanhados de hábeis desenhistas.

Hoje , explica Carlos Simas, dispomos de um banco de fotos capaz de fornecer imagens tanto para pesquisas científicas quanto para aplicação em produtos. Além de colaborar na sustentabilidade da RPPN, propõe a estética da mata atlântica entre os 'objetos de desejo' do consumidor, estabelecendo uma sutil ação ambiental através da moda...

Este conceito é o eixo do Plano de Manejo de nossa Unidade de Conservação, que está sendo elaborado com apoiado da The Nature Conservancy. Meu filho Nemo é o fotógrafo e o responsável por todo o banco de imagens.”

Ele, a mulher Lucia e os filhos, que cresceram fora do tumulto das grandes cidades, carregam nos olhos a visão do paraíso perdido pelos humanos. Não foi fácil a conquista, mas saíram dos primeiros embates ricos em vivência.


SILÊNCIO E PAISAGEM


Carlos Simas que mora há 15 anos na cidade de Caxambu, sul de Minas Gerais, morou com a família durante alguns anos, - estes em que fabricou móveis com encaixes, e visualizou as paisagens que posteriormente foram colhidas - na RPPN da Mitra do Bispo.

Começou a desenhar móveis em 2008 por sugestão de Sergio Rodrigues, que, como ele conta, “conheceu alguns trabalhos meus em jogos de encaixe. De lá pra cá, desenvolvi essa linha que tem se destacado como ecodesign e tenho sido convidado a expor."










A cadeira Nexo estará na 48º edição do Salão Internacional do Móvel de Milão, na Itália, de 22 a 27 deste mês de abril. Ela é feita com 16 peças encaixadas de angelim e jatobá. Estará exposta no Palazzo Afferi durante o Fuori Salone, evento paralelo ao Salão Internacional do Móvel de Milão, uma parceria do Governo do Estado do Rio de Janeiro, do SEBRAE_RJ e do PROMOS – Câmera do Comércio de Milão.






ERRE PE PE ENE



Simas explica que a RPPN é uma Unidade de Conservação de caráter perpétuo! A relação da família com aquele ambiente é permanente e envolve uma dose de profundo amor pelo local, incomum em projetos ambientais técnicos, formais. "O que propomos é como uma empresa familiar ou uma agricultura familiar, o ambientalismo familiar. Quando decidi sair do Rio, há 30 anos, já vinha movido pela sensação do caos que se prenunciava para os grandes centros. Quando vi a ameaça que uma madeireira representava com a iminente destruição de uma pequena e preciosa floresta, percebi que a solução mais rápida era a compra da propriedade. As conseqüências disso foram definitivas em todas as áreas de nossas vidas, desde as dificuldades para manter o sustento até os aprendizados em uma opção de vida tão diferente de nossas origens. Morando a quilômetros do vizinho mais próximo, sem eletricidade e meios de comunicação, ao lado dos trabalhos básicos inerentes a esse modelo de vida, minha formação de designer me levou a buscar soluções e mecanismos viáveis para uma vida equilibrada e construção de uma família.

Nossa RPPN envolve a face norte da Mitra do Bispo, rocha imponente que é marco da divisa e encontro dos municípios de Aiuruoca, Alagoa e Bocaina de Minas, no estado de Minas Gerais .”



CAMINHO DA ROÇA



Carioca de Ipanema, estudou no Instituto Militar de Engenharia (IME), e na Escola Superior de Desenho Industrual (ESDI). Sua mulher, Lucia, fez artes no Colégio Bennet. Os dois, com formação em design e artes trabalham onde moram.
Acredita Carlos que a formação dos dois permitiu a mudança em direção à roça.
"Continuamos desenhando e entregando a clientes nas viagens ao Rio, mas criamos raízes definitivas no Sul de Minas.
Durante anos a vila de Santo Antônio do Rio Grande, em Bocaina de Minas, foi nosso ponto de apoio mais próximo. Com o crescimento dos filhos, que até então estudavam por correspondência, optamos por uma mudança para o circuito das águas, em Caxambu, onde estamos há 15 anos.

Desde que compramos a área da RPPN, meu design se voltou para a busca de meios de sustentabilidade em uma floresta intangível.
Com a interrupção da ação predatória da serraria, antiga proprietária da área, uma grande quantidade de peças de madeira de qualidade e pequenas dimensões foi deixada nas florestas.
O isolamento da região e a dificuldade real de se conseguir até mesmo pregos ou parafusos me levaram a admirar e a buscar soluções em pura madeira.
Inicialmente em jogos e pequenos objetos, o uso daqueles fragmentos de madeira encontrados nas matas me fizeram desenvolver as estruturas que hoje resultaram na linha de móveis Nexo.
Procuro associar esse conceito à conexão dos fragmentos florestais, ação ambiental de nossa RPPN para resgatar os corredores ecológicos de nossa região, entre e o Parque de Itatiaia e o Parque do Papagaio, em Aiuruoca.


Normalmente não participo de exposições nem de concursos.

Tive matérias recentes tanto sobre as ações ambientais quanto sobre meu design publicadas na Kaza Design, ARC Design, Planeta, Horizonte Geográfico, Veja Rio, e no programa Reporter Eco/TV Cultura entre outras.
(Os trabalhos de design gráfico realizados em anos anteriores na reserva, em especial padronagens para tecidos de cunho ecológico, foram publicados em inúmeras revistas como Surfer/USA, Lei/Ita, Photo/Fr, National Geographic Traveller/USA etc..)"

A LINHA NEXO, COM NEXO


Simas usa " bastante madeira de demolição e reaproveitamentos. Compro aqui mesmo na região. Estou estabelecendo contato com fornecedores de madeira certificada FSC para uma produção maior ( já montei a “cadeia de custódia” FSC/Imaflora em minha oficina mas estou readaptando ao modelo atual). Conseguindo vendas expressivas, meu plano é que as peças sejam fabricadas inteiramente em áreas de manejo florestal oficial e enviadas desmontadas direto ao consumidor, favorecendo as comunidades produtoras e reduzindo os custos ambientais.

O papelão é reciclado. Um de meus fornecedores é o Irmãos Siqueira, usina de reciclagem em Passa Quatro.
Os bancos mais resistentes foram fabricados em uma fábrica de papelão reciclado no Paraná .”


Esther- Qual o preço de cada peça , destas que tenho comigo em folder que você enviou: banquinho, a cadeira, a mesa e o banquinho de papelão.

"Vou falar em dois valores, o meu para lojista e o preço que a loja de design do MAM-RJ faz para o público (eles são hoje meus representantes de venda)

Banco caipira atacado R$ 100,00
Poltrona Nexo atacado R$ 1200,00

O banco de papelão é produzido em gráfica e por enquanto só faço por encomenda.
Para 5000 unidades, já com a mensagem/imagem do patrocinador impressa, sai a R$10,00 a unidade."

O sul de Minas Gerais tem uma característica peculiar; se não fabrica atrai para a região grande criadores. É o caso de Carlos Simas e de sua esposa, Lucia. Mas influencia sempre.






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