domingo, julho 13, 2003

carpinteiro do som



vicente ribeiro da silva, capinteiro de violinos


seu vicente. enfim o luthier? não, diz ele:”o carpinteiro”. uma casa pequena, escadinha para chegar na varanda. em frente à praça. de dia meninos jogam futebol por ali. de tarde as ruas vazias, portas e janelas fechadas deixando o frio do lado de fora. é aqui. pequena, de tábua corrida no chão. telhado de telhas francesas com forração de madeira. sem laje. antigamente era feito assim o telhado. madeiras macho e fêmea protegendo do frio, da poeira que as telhas deixam vazar e até mesmo de algum respingo de chuva mais forte.

ele está expondo seus violinos no espaço cultural joão batista brito, no centro de Itajubá- mg, até 1 de agosto. primeiro ele estudou a sonoridade das madeiras: jacarandá mineiro, pinho, cedro, abeto, canela sassafrás e sem ninguém ensinar construiu com madeira amarrada por elásticos e barbantes seu primeiro violino para o neto recém nascido em 1992. quem sabe ele não gostaria como o avô de tocar? o primeiro que fez tirou da proporção de um outro que namorava na loja da cidade.

nascido na roça. criado na roça. atrás de galinha, pato, boi, cavalo, ajudando na horta, a tirar o leite. depois foi trabalhar no ibama . e hoje aos 76 anos, reclamando da bursite, está aposentado. já fez um violino de frejó que tem o som mais doce do que o de jacarandá. um de canela sassafrás está sendo usado na ópera de viena, vendido por 450.00 reais. um americano comprou para seu filho que toca lá. mas o derradeiro violino, o de som mais bonito, este ele nunca fez e duvida se ainda o fará. “o som está na minha cabeça, eu o escuto, mas ainda não consegui fazer um que tivesse o som que me acompanha a vida inteira.”

“fiz de abeto. de maple.” o de abeto, o amarelinho , como é conhecido em caxambu onde está, o filho comprou a madeira por 350 reais e ele vendeu pelo mesmo preço. não há quem não gabe o som do amarelinho. “a qualidade do violino – ensina- é ser uníssono. as duas cordas mais graves precisam ter a mesma qualidade de som que a das agudas.”ele já expôs seu trabalho no espaço cultural do banco do brasil, da prefeitura, da caixa econômica de passa quatro além da casa da cultura. também no ibama de são paulo e na casa de minas.

ganhar dinheiro ele nem pensa. deseja é tirar de vez da cabeça o som que ouve desde a infância e colocá-lo num violino. vicente ribeiro da silva sonha com isso. “quando é leve como o pinho e o cedro não afino muito a madeira. ela pode trincar. esse de jacarandá gostei de como ficou o desenho da que os veios fazem nele e procurei tirar proveiro. e até que tem um som bom! no início não apreciei. está guardado tem 10 anos. mas agora está com um som bom. mais fechado do que o da canela sassafrás. acho que foi o tempo que melhorou o som.

o primeiro violino dele é um tranqüilo gianninni que tem mais de 100 anos. foi feito no primeiro endereço da empresa, alameda olga, 34, em são paulo. comprou em passa quatro depois de muitos anos de namoro . é auto didata. nunca teve professor. o arco ele fez de pau brasil e as crinas são de cavalo árabe. o cavalete é feito com uma madeira cheia de reverso, a queixeira de madeira e as cordas são artesanais. para quem vem do rio passa quatro (terras altas da mantiqueira) fica antes de caxambu. para quem sai de caxambu fica no caminho para o rio depois do trevo da boa nata em pouso alto, depois de capivari e de itanhandú. o nome passa quatro vem da ponte antiga que lá existia acima do rio verde. dava para passar só quatro pessoas. hoje é de concreto bem abaulada. depois da tromba d’`aqua que caiu lá tem três anos e inundou todo o sul de minas.

o e-mail do filho: tluiz_f@zaz.com.br.



o professor que me levou aos sons.

Nenhum comentário: