sábado, dezembro 20, 2003

em 1975, em plena ditadura militar, tentando encontrar uma distribuidora para meu livro que fora lançado pela antiga livraria são josé, e cansada de ouvir "só publicamos best sellers estrangeiros" resolvi criar a feira do autor.

proposta simples: abrir um espaço para o autor nacional. onde pudesse publicar seu trabalho até em paper. deu certo. pessoas vinham de todas as partes do país para feirar. do norte e do sul. muita gente boa surgiu da feira. hoje com vários livros publicados.

só tinha um porém. eu havia recebido, no gabinete do reitor da uff, para onde fui convidada, por representantes dos órgão de repressão, na presença deste mesmo reitor, a recomendação de que parasse com a feira. senão...

o ronaldo fabrício que era prefeito na época cobrou uma baba para o pessoal feirar no campo de são bento, em niterói. derrubamos a cobrança de imposto pois a praça é do povo. a feira corria muito bem.

o jornalista azedo, que trabalhava no jornal "o fluminense"resolveu subir num banquinho plantado por ele no meio da feira e fazer um discurso contra a ditadura. meu deus!!! eu tinha dia e noite gente me seguindo, bastava um dá cá uma palha para a feira ser fechada.

pedi ao azedo para descer do banco. ele reagiu falando que eu fazia parte da repressão. quando, de repente, eu o vi ser descido do banco com toda a força da coerência de luiza barreto leite, heloísa maranhão e lígia jobim. elas o pegaram pela roupa e desceram com ele.

ficamos sem nos falar durante muito tempo. não havia como explicar a um jovem que estava ganhando o mundo que a conquista, toda conquista, tem que ser feita com tato e precaução e que o objetivo deve estar bem acima de quaisquer pretensões pessoais.

durante a gestão do reitor citado acima, como estudante, o azedo fazia parte do conselho universitário. e estava amolando os órgãos de do sni, exigindo soluções e mais eficiência no correr dos processos.

foi realizada uma reunião de reitor com seus assessores para resolver o problema. e ouvi o almeno, chefe da asi, dizer: vamos prender o estudante. e o reitor concordar. não me contive. disse que a atitude era burra e inconseqüente. laurici, que servia o café derrubou a bandeja no chão. todos exigiram que eu retirasse o que havia dito.

geraldo, o reitor, não. falou que eu devia ter uma solução melhor. sugeri que tranferíssem todos os processos para o azedo que dessem a ele o direiro de fazer correr as coisas.aí o reitor perguntou: caso não der certo a senhora se demite? concordei no ato.

o tempo passou. um dia caiu uma luminária no corredor do sétimo andar, com grande estrondo. saímos todos de nossas salas para ver o acontecido. o reitor também. aí ele chegou até onde eu estava , bateu a mão no meu ombro e me informou: "deu certo, a senhora não precisa pedir demissão".

e assim foi minha vida profissional. arriscando sempre para manter minha coerência. e graças aos riscos e a coerência muita gente boa está por aí. e não me arrependo de nenhuma atitude tomada para defender meu direito e o do outro. faria tudo de novo. faço tudo de novo. e trago da vida vivida um princípio: quem desejar trair fique à vontade. já fui traída de outras vezes e não abandonei meu caminho. o importante é não permitir que àqueles fatídicos cinco minutos subam à cabeça.


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