sábado, dezembro 20, 2003



esta é dona ana. ela passa os dias na praça principal da cidade. chova ou faça sol. quando chove ela abre o guarda-chuvas e fica de pé. a chuva passa ela seca o banco com jornais velhos e volta a sentar.

ela toma conta de bolinha. uma cachorra que teve quatro filhos no lago seco da praça.



bolinha recebe a todos com carinho. sai do buraco, em baixo de uma pedra artificial, onde estão seus filhotes e espreguiça. mas só dona ana pode pegar nas crianças. que estão gordas, bem alimentadas e protegidas no buraco da pedra com ninho feito de roupas velhas , pepelão que isola de humidade e algumas tábuas que impedem os respingos da chuva.



o que senhora come dona ana? "tem sempre uma alma boa que traz minha comida. todas as casas aqui da praça me conhecem. e me ajudam a cuidar de bolinha."por que a senhora não a leva para sua casa? "é aqui mesmo dona. no banco do jardim. quando o lago tá seco a gente se arruma num buraco da pedra. assim como fiz com bolinha. se está chovendo a gente procura as marquises."



esta é a pedra do lago seco onde mora a bolinha , dona ana e alguns amigos. ela tem buracos em volta. neles cabe bem uma pessoa ecolhida.

a bolinha como surgiu, dona ana? "ah! nós somos da rua. ela também a bolinha. "

dona ana com as roupas bem arrumadas. o cabelo espaventado e os olhos agudos como os de animal ferido, ou talvez de uma águia pronta para atacar, ou quem sabe só um espanto, um susto?

gosto de sentar ao lado de dona ana quando passo pela praça e assuntar a vida. ela me diz "a vida é fácil , minha filha, se a gente não complica".

Nenhum comentário: