sexta-feira, dezembro 12, 2003

foi por esta frase.


"algumas mulheres que eu conheço tentaram suicidar-se de diferentes maneiras. queimar as suas memórias é uma delas."*
lilian pestre



da memória, percebi, há restos de sombras e rabiscos. a memória que deveria ter em mim de nós, nós todos que estivemos juntos,.... ahhh!!! como sinto falta da marly!

suicidei. eu sei lilian.

mas olhe só; tenho cartas e bilhetes guardados! como este:

"esther bíblica:

eu também andei morrendo.
mas acreditava na ressurreição.
(você viu hoje charles para mim).
só que não sabia desta coordenada invisível
que um amigo baiano me deu
como uma estrela molhada de luz
na manhã mais seca:

de repente você precisou da vida que ainda morava em mim e eu desmorri.

sabe, a vida nesce também quando alguém nos pede
a vida presente de presente, com seu fardo de passado
e seu farol de futuro aberto no horizonte do mar que resiste.

a vida não sou eu. é o mar que resiste a todas as borrascas. neste mar me batizo a cada dia.

eu sou apenas um veículo do mar para suas veias.

desculpe o excesso de sal.
mar-a-li-e-aqui"

marly medalha. minha comadre. madrinha de meu filho. que morreu. deixou um testamento poético lindo para os afilhados.
e largou-nos aqui. ouvindo sua gostosa risada e sua invenção de comidas. como um almoço que ela fez para o gui e usou na salada as pedras semi-preciosas que eu troxera da bahia.

hoje tirei o dia para sentir saudades da marly.


* o assunto surgiu por eu ter dito que queimei todos os meus escritos. lendos os bilhetes de amigos, únicos que não queimei, vi um recado da lucia minners, escritora e crítica literária que editou durante um bom tempo o suplemento litarário da tribuna da imprensa. diz para cuidar de um livro em especial "flagra" onde ela encontrava mais qualidades do que no primeiro. também queimei.


eliane stoducto
. saudades de você também.

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