quarta-feira, dezembro 10, 2003

porque hoje é dia 10 de dezembro


li stoducto comemora 10 anos de cristal poesia e prosa e sérvio túlio lança o primeiro cd do saara saara no sesc niterói às oito horas , porque hoje é hoje e não ontem ou amanhã, resolvi que o dia será de poesia.


da eliane stoducto

abri as portas


abri as portas
abri o peito
abri as pernas
abri os braços


perdi o tempo
perdi o afeto
perdi o gosto
perdi o tato


e comprei tranca
com cadeado
vidro blindado
porta de aço




arte final

"temos a arte para que a verdade
não nos destrua..." (nietzsche)

a arte de poder chorar
a arte de poder sorrir
acho que as perdi

mas ainda me resta
a arte de
poder dormir...



carne de pescoço




gosto dos malucos, doidos, desgraçados
exagerados, tristes, apaixonados
que praticam um suicídio tão diário
por sentirem tanta sede e gana de viver


gosto dos que crêem na própria insanidade
por saberem-se humanos, limitados, miseráveis
e com isto exercitam a humildade
conscientes de estarem aprisionados
nesta pobre casca humana até morrer


não gosto de ares de superioridade
(os parâmetros são tênues e precários!)
não concedo a ninguém autoridade
– oh, esses deuses e deusas sectários –
pontificando sobre a vida e o que fazer


pois na minha prisão de carne e osso
sou única, sou livre, sou colosso
sou meu anjo e meu algoz, fora-da-lei
sou coisa feita e carne de pescoço.





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de márcia maia
. médica, escritora , poeta vive em recife. tem um livro no prelo: olhares


tejipió

as cigarras, tontas do sol de outono
pensam que ainda é verão
e cantam sem cessar.

distraem o poema que quase já se escrevia

e trazem de volta as tardes da infância
pés descalços, mão sujas, latas vazias de talco
repletas de cigarras, como vivos maracás.


fonte: http://www.sara.fazib.nom.br/mm.htm

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de eugênia fortes


descansa

descansa nos meus lábios
a palavra não-dita.
e desce pelos desvãos da memória
o pensamento desavisado.


desliza a letra líquida
entre o plexo solar
e o centro do púbis.


uma pequena gota fria,
maremoto insuspeito
de flash backs.



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de de sara fazib

linha indireta


dia vinte e cinco
e eu doida por um papo

liguei pra deus
saiu no feriado

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de
maria regina moura

do livro: "exercício de um modo", ed. autora, 1987, rj


movimento


reescrevo minha história
a todo instante

e a todo instante
esta história se renova.

todas as respostas que hoje sei
me deram uma pergunta nova.



relação - poema 2


o que eu faço com o poema
antes que ele fique pronto
é tão quieto,
é tão gostoso,
é tão secreto,
que o que o poema faz comigo,
não ligo.

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