terça-feira, dezembro 02, 2003

primavera entredentes


a sombra joga-se contra a parede. como quem dá a bordoada com as costas da mão.

depois toda recolhida renova forças . se atira. a mão já sangra.

se num momento está contida em si mesma, em outro revoa em círculos pelo chão e novamente se espatifa inteira contra a parede. a mão está em tiras.

o vento satisfeito de barriga cheia, rindo gargalhadas como quem gorgoleja, parte discutindo consigo mesmo, sua voz estremecendo as nuvens que correm à sua frente.

é final de tarde. a luz da tempestade seguiu o vento.

na sombra, as folhas amparam a mão desfeita em fiapos sanguinolentos de seiva. com outras mãos arrumam o cabelo desfeito.

escurece tanto que não há como distinguir o horizonte. o que há no fim do fim e no meio do meio.

ah! as primaveras são assim. como os de gêmeos. um perfume só quando a tarde é quente. um esparramo de braços e pernas gritos trovejantes pelo ar, subitamente. a voz gutural a rugir cerrando a raiva entre os dentes.

ela toda cicios ainda agora.

até se comenta: será que a primavera não mais suporta flores, crias de passarinho, brotação nova das plantas, as sombras macias. e por não suportar as arrebenta?

com o perfume do jasmim ela providencia um carinho. no chão molhado, num brilho de gotas, sussurra a chuva que chove, tranqüilamente.



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