segunda-feira, março 08, 2004



aos homens agradeço pela doação da costela

narcisa ribeiro
escrava- século dezoito


viveu em vila rica, ouro preto, em minas gerais e pertencia ao sacristão diogo pereira. entre 1748 e 1749 foi submetida a uma devassa em razão do escândalo que causavam seus modos e por andar pela cidade "bem tratada com saias de camelão e chinelas,como se fosse senhora". a condenação às atitudes de narcisa ribeiro se explica -se alguma coisa neste caso pode ser explicada- pelos altos preços da comida e das vestimentas nos núcleos urbanos, paradoxalmente pobres, das minas gerais no auge da extração do ouro.


os autos do processo da devassa movido contra narcisa ribeiro afirmavam também que a mesma não costumava ouvir missas "ao mesmo tempo que tem vestidos e está rindo e folgando". em outros termos, narcisa conseguiu, com os poucos meios de que dispunha contornar a opressão social a ela imposta por sua condição de mulher negra escrava.

fontes: laura de mello e souza- os desclassificados do ouro ; schuma schumaher e érico vital brazil - dicionário de mulheres do brasil



ele falou enquanto tomava um cafezinho: parabéns senhora, hoje é meu dia.
olhei-o com olhos de ponto de interrogação.
eu não estaria aqui se não fossem as mulheres. são elas que parem (do verbo parir) , não os homens.
sim , repondi, mas o homem é fundamental para a realizaçào desta química.
hoje não mais, senhora. com os avanços biotecnológicos nos tornamos prescindíveis. precisamos agradecer não sermos dispensados definitivamente. sabe como? assim, como a abelha faz com o zangão.
sentei à mesa de frente para ele. e vi no fundo da loja do shopping o vulto da vendedora. e na vitrine o reflexo do neon de outra: uma livraria, chamada avalon.
não saberíamos viver sem vocês, retruquei.
ele estava triste. pensativo. com as bolsas cheias de talvez presentes.
meus parabéns então, desejei. no entanto posso te garantir uma coisa; o que define uma mulher é a existência do homem. quase tão definitivo assim.
se é assim, a senhora desculpa perguntar, mas o que faço aqui sozinho?




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