terça-feira, novembro 09, 2004

carta para clemilce

cara clemilce,

como vai passando, mais o augusto e a celeste? espero que estejam todos bem de saúde, assim como dona anunciata. escrevo-lhe estas mal traçadas linhas para dizer que ando sumida por conta de uma plantação de milho e feijão. já está passando do tempo, né mesmo? outubro já foi e novembro vai meando.

ainda mais cismei de limpar as traíras do lago. acredita que elas devoram os filhotes das tilápias, quando não as adultas? mas depois de uma trabalheira sem tamanho, de perder todos os peixes inclusive as traíras que desviei para o rio no afã de secar o lago, fui informada de que não adianta nada pois os ovos delas vêm nas asas das garças, escorregam do bico dos passarinhos e proliferam.

eu não sou fã de traíra, tirando uma que é servida pelos lados de cataguazes, sem espinha e um sabor de lamber os beiços. prefiro a carne da tilápia. mas estou vendo que terei de inventar uma maneira para que os dois peixes convivam no mesmo espaço.

e isto tudo acontecendo com o romário faltando por causa de uma gripe. onde já se viu? eu que nunca deixei de trabalhar , nem quando quebrei as costelas, tenho um empregado de campo que falta duas semanas por conta de um resfriado.

ontem ele veio. hoje não apareceu. amanhã mando embora.

como pode ver minha amiga, ando por conta do plantio, de empregado faltoso e cuidando que o lago fique bonito. eu contratei um homem forte para limpar bem o fundo. e com ele vazio vi como é grande. penso em comprar um bote para remar de cá para lá.

só fico apreensiva com o sol daqui. estou coberta de caladril para aliviar as dores da queimadura do sol na pele.

é isto aí, amiga. agora vou continuar minha leitura de “mil platôs”, segundo volume, um livro muito bom escrito por giles delleuze e felix guatari, com o corpo ardendo e tremendo de frio sem poder me agasalhar. agruras do sol.

beijos na família, ah, no frederico também e nas crianças. diga que um dia apareço, quando menos esperar. é só terminar com a poda da lua minguante, resolver o caso do rio, plantar o milho a abóbora e o feijão que o tempo sobra.

breve escrevo, comadre.

ps. as rúculas estão com um sabor delicioso. creio que é por causa da terra. sempre te disse, clemilce; cada pedaço de terra deixa um sabor diferente nas frutas, verduras e legumes. e perfume mais ou menos intenso nas flores. repara.
sem contar que surge um nationalisme ivoirien cá por casa. sur fond de crise économique n'est pas. philosophie de l’ivoirité, peut être. dando nome ao inominável. mas sempre em espelho.

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