quinta-feira, dezembro 30, 2004
o prazer de lembrar
em julho , aline presenteou martha, minha irmã com um livro tendo as folhas em branco. o título do livro é: memórias de minha mãe. martha não desgrudava do livro com páginas em branco, em agosto esteve aqui e andava com o livro de um lado para o outro: com as páginas em branco. aline, uma de suas três filhas, ficou no apartamento de são lourenço.
hoje de manhã martha me telefonou feliz, meio feliz, pois bia em portugal ameaçava parir o filho antes da hora, o que foi resolvido com medicação e repouso. bia trabalha em santarém como fisioterapeuta e faz doutorado em coimbra. em santarém ela era atendida, como o costume local, por um médico de família.
precisou correr para lisboa onde ficou internada durante três dias. martha quer ir. a passagem está comprada há meses. beatriz diz: mãe precisamos eu e alex aprender a resolver nossos problemas. fique e venha para o nascimento do tiago que será em fevereiro. mas martha irá dia 20 de janeiro. de qualquer maneira. o filho de bia terá o mesmo nome do meu, sem o agá.
será o quarto homem na vida de martha; primeiro papai depois leopoldo, enfim o neto breno que ela chama de meu rei, filho de aline e agora tttiago, com ti, mãe garante bia.
o telefonema dela foi para contar que havia iniciado a escrever no livro de folhas brancas. e leu para mim. ela conta uma parte de sua infância , dos sete aos nove anos, em que morreu, ficou em coma e passou os anos seguintes em repouso absoluto em hospitais ou em casa num quarto escuro. numa brincadeira dentro de casa com uma amiga, de pique esconde, batera com a nuca na banheira.
martha, deitada no quarto escuro lembra de mim e vera saindo para a escola, o ônibus do colégio nossa senhora das mercês encostando em frente à casa e seu marco aurélio nos apressando. papai beijando-a antes de sair para o trabalho , toninho , o tônio junior, brincando pela casa, américa mal engatinhando e mamãe dando conta de tudo, e cantando para que ela sempre soubesse que estava acompanhada. quando pode sentar à mesa para fazer refeições lembra do olhar agradecido de mamãe para ela enquanto contava histórias.
vera e eu chegávamos do colégio. toninho ia para o dele e mamãe sentava ao nosso lado, durante o almoço para ouvir as novidades que precisavam ser contadas bem alto - a casa era grande- para martha também.
às noites com papai em casa e cantando vicente celestino para nós, ou recitando olavo bilac, mamãe corria de uma cama a outra para acarinhar os filhos. depois cantavam em duetos. antes do acidente de martha era comum em nossas noites haver danças, papai e mamãe e nós, as crianças. regina e margarida ainda não haviam nascido.
até que, ela já quase curada, ainda precisava fazer punções na espinha, mensalmente o que já era ótimo significando que o coágulo estava sendo desfeito, nós fizemos um concurso de canto e martha a mais desafinada de todas ganhou e ainda guarda com muito orgulho seu troféu: uma bonequinha de biscuit da mamãe.
isto foi o que martha escreveu recordando e leu para mim ao telefone. eu repito sem a intensidade da escrita dela. e choramos de felicidade.
desejo a todos os amigos boas recordações, amor na alma e dois pássaros voando nas mãos vazias próprias para construir um novo pacto de respeito ao planeta terra.
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