sexta-feira, janeiro 28, 2005

às vacas e aos bois

moro aos pés destas montanhas. aqui criei gado, fiquei amiga de vacas e touros para quem às noites no curral dizia poesias e lia romances. com o burro aprendi discrição; pedir a ração sem entrar totalmente dentro de casa. ficar parado frente à porta era o sinal . ao ver um campo bonito na estrada desejava comer todo o capim e ruminar para eles que sonhavam com verdes pastos.

prometi uma grande fazenda com fartura de braquiária e não cumpri. é meu maior remorso. carrego uma chaga no peito vazando sangue aguado porque os perdi. e todas as noites faço soar os sinos que tocava para eles como se ainda estivessem no curral. é minha profunda fenda, minha fartura de dor esta imperdoável perda.

se as noites vazam chuva escuto os mugidos,cascos inquietos procurando abrigo no curral e respiro fundo em busca do perfume almiscarado do suor, da urina e das fezes. quando é frio pela manhã lembro que o calor de nossos corpos, durante a ordenha, tornava mais saboroso o café na garrafa térmica que levava ao curral.

um dia iremos am amplos pastos conversar sentimentos. eles me ensinaram a perder ; que todo ganho é uma aventura a ser repartida. e que ruminar é buscar nas entranhas a percepção da terra, tendo os olhos perdidos onde nunca se chega porque não se vai.

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