segunda-feira, março 28, 2005



a sina das cidades



a sina das cidades é como a das gentes. umas podem marcar definitivamente o imaginário e o real, enquanto outras até mais bem dotadas desaparecem, somem, minguam.

assim acontece com a macondo de gabriel garcia marquez e a comala de juan rulfo. macondo ficou para sempre. mas comala, quem lembra desta cidade?

até entendo o sentido das coisas; em comala quem determina como será a cidade são os mortos que perambulam por ruas e casas e conversam de si para consigo e no cemitério casos do passado. nem quando mortos se comunicam entre eles. cada um na sua cova com sua história, sua lembrança que remoem nos olhos vazios das caveiras mesmo que tenham virado pó. portanto, nunca há um diálogo, sempre um monólogo.

bia lessa disse em brasileirinho, o dvd ópera da maria bethânia que a grande revolução é o riso, a alegria. ficar triste é fácil, saber encontrar a alma da gargalhada feliz é muito difícil pois a felicidade sempre foi tida como irresponsável, por isto reprimida. tem razão a bia lessa quando convoca à revolução pela alegria.

nesta mesma obra o poeta ferreira gulllar enfatiza que o importante é reinventar-se, refazer-se. comala é triste. perdeu o riso entre as assombrações. não sabe conviver com a alegria.

como algumas gentes e cidades reinventam-se e ampliam com isto sua longevidade e seus prazeres outras ficam à deriva em circunavegações em torno de um mesmo tema, bajulando seus botões.

a comala de "pedro páramo" , o livro de juan julfo, é bem mais trabalhado do que os "cem anos de solidão" de gabriel garcia marquez na minha opinião leiga e de muitos entendidos. juan rulfo publicou pouco pois preferia trabalhar mesmo depois de publicados os seus textos aprimorando-os, secando-os, fazendo-os semelhantes à terra mexicana: que as palavras tivessem o sabor da terra.

assim a cidade e as gentes. em algumas somente os ventos confabulam nas esquinas. em outras há brisas também além de perfumes e burburinhos criativos. umas sabem reinventar-se , como o fez a própria maria bethânia na ópera brasileirinho. outras perdem o trem da história. o trem. o trem mesmo, uai!

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