segunda-feira, março 28, 2005





a reação de uma cidade ao holandês voador*



tudo começou quando narrei neste blog as aflições de um brasileiro logrado por um holandês. suely coelho, a blogueira dos enta, ecoou o assunto até a jornalista cora ronái. e na última página do segundo caderno de "o globo" ela divulgou a história verídica do mineiro desesperado e do holandês voador.

ninguém poderia imaginar que houvesse uma repercussão tão grande, no brasil e exterior. além do mais contava eu então o problema da cidade que tem 12 fontes de água mineral medicinal mas um pequeno movimento de turista numa cidade nascida com vocação turística, onde a economia empobrecida provoca o fechamento de hotéis e lojas.

tudo bem que estamos falando de uma cidade no brasil. e o brasil inteiro vive há décadas uma crise de falta de tudo com a implantação de uma política neoliberal. além disto existe o mundo inteiro, com muitos países em crise econômica, inflação e desemprego.

mas como reagiu a própria cidade?digo, os que detém o poder político no município? poderiam ter aproveitado a divulgação e o atual prefeito ou algum assessor apresentaria seus planos para o crescimento, a recuperação da cidade. mas não. primeiro reagiram com raiva, depois resolveram ignorar.uma tática de assessoria de imprensa que pega bem quando o assunto repercute pouco. mas fica mal quando adquire as dimensões atuais.

alguns moradores da cidade não compreendem, pois não leram a matéria dda cora ronái publicada em "o globo", apenas seguem a opinião do pastor, como um comportado rebanho .outros, esclarecidos vêem em caxambu na mídia por 0,0 centavos uma oportunidade de sacudir a cidade. ainda hoje os comentários fervem em todos os grupos de conversa. mas o poder ignora.

os hoteleiros confabulam se desmentirão o fato de que a cidade não tem turistas. mas eu me pergunto: desmentir como? é bem verdade que o atual prefeito, recém empossado pegou a prefeitura totalmente falida, telefones cortados, nenhuma verba. mas todos sabiam que isto iria acontecer.

é bem verdade que os motivos para a cidade estar minguando são de outra espécie também: um deles , por exemplo, é a sucessão política que segue uma tradição de capitania hereditária às vezes e em outros momentos o poder troca de mãos para o outro lado. na realidade a política local só tem dois lados que se alternam no poder, e nos dois lados as lideranças são as mesmas, ou quase.

mas por que eu me preocupo com isto? devem estar se perguntando as pessoas daqui e dali. simples: sou cidadã brasileira, escolhi caxambu para viver os últimos anos de minha vida por sua beleza, por seu povo amigo e por suas fontes de água mineral. fico triste quando uma loja cerra as portas quando um projeto acaba em água. quando um amigo diz: "tenho um comércio há anos e nunca pensei que estaria na hora de fechar pois ninguém pode comprar. o dinheiro não circula aqui."

tenho certeza que está fase má da cidade pode ser superada, principalmente porque na prefeitura há um bom administrador. mas é preciso ter os olhos mais abertos, a mente mais receptiva e o coração seguro de que o futuro se constrói com planejamento e não com mágoas.

esta história não era para ser transformado na política municipal de uma cidade que não quer crescer, por várias razões, apesar de seu povo que precisa trabalhar e comer. mas, infelizmente, assim aconteceu.

caxambu como está, este interior, ainda é bom. para mim, para nós que temos salário seguro no fim do mês. eu a quero assim, tranqüila e pacata. mas não posso pensar somente em mim. e por isto, junto com um holandês e um mineiro desesperado a história está sendo contada dentro de um balaio de gatos.


* Holandês Voador, o lendário navio fantasma que aterrorizou marinheiros durante séculos. apesar de todas as súplicas de sua tripulação, um Capitão Holandês, déspota, insistiu em atravessar o Cabo Horn (próximo ao Estreito de Drake) em meio de uma violenta tempestade. Então o Espírito Santo apareceu, mas o Capitão disparou sua pistola contra ele e amaldiçoou o Senhor. Por sua blasfêmia, Deus lhe rendeu uma maldição, o barco foi condenado a navegar por toda a eternidade, sem nunca poder parar em um porto. Desde então, os marinheiros dizem que um encontro com o Holandês Voador é um prenúncio de desastre.


ler mais aqui: holandês voador

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