quinta-feira, abril 07, 2005




a agonia do gato tripa




tripa negociando com orlando dormir juntos

reclamações gerais. o adubo não está bom, vem com tiririca. as sementes não germinam e as verduras não vingam. o sol trás uma cor estranha, amarela caminhando para o vermelho. um calor sem brisa e sem suor, puro abafamento. parece que o mundo está em cocção.

dona emília passou carregando a perna ferida, foi um cão tão manso que a atacou. nada demais, apenas enfureceu sem quê nem porque e a gente conhece dona emília. está mais para quadrúpede do que para bípede e o gato tripa está com câncer. nada a fazer, começou num olho e rapidamente se alastra. é ulcerante e ele sente dor, mia sofrido. só analgésicos aliviam e como fazer? sofrer com o gato tripa que chegou tem mais de 12 anos.

foi num dia de inverno rigoroso. voltavámos da obra e na casa alugada, enquanto esta do vale era construída, no fundo do quintal encostados no portão que dava para outra rua orlando e virgínia ,curiosos, olhavam um montinho que amadeus cuidava. amadeus veio conosco de niterói, um gato com quem mantinha longas e profundas conversas. de perto vi que o montinho era um filhote. coberto de sarna, magro, uma linha de filhote, uma tripa.

amadeus, não posso cuidar de mais um, explico. alimento-o e numa caixa improvisada fazemos uma cama na garagem. o frio nos empurra para dentro de casa. amadeus fica ao lado do gato uma linha, um rabisco, lambendo, acarinhando. amadeus era macho, com cuidados de mãe. e ele sempre entrava. não freqüentava a rua. mas ao lado do gato silhueta ficou.

de repente suas patas arranham a porta da cozinha. ele traz na boca o gato um traço. e entra. aqui não amadeus, explico, na cama que fiz para ele na garagem é onde ficará. aquecedor ligado a casa quente, seria aqui seu leito, decide amadeus. devolvo o rabisco para a garagem. amadeus o trás novamente e vencida aceito. só hoje, amadeus. amanhã procuro quem possa ficar com ele.

de repente, com a porta ainda aberta amadeus se vai. isto aconteceu numa casa lá no caxambu velho. aqui tem a parte velha e a nova, assim como em são lourenço. aliás em todas as cidades. espero o retorno e nada. de lanterna na mão procuro em terenos baldios, campos de gado, telhados alheios. o frio doe nos ossos , e nada. amadeus sumiu.

fiz plantão. não dormi e nada de amadeus. de manhã cedo estou na obra para ver se falta alguma coisa. e volto para procurar amadeus. entrego o gato tripa para marcia bacco, a veterinária que o examina, medica , passa receita e cuida de nossos amigos. os dias passam e amadeus não retorna. que aflição!

nesta época ninguém reclamava do sol, das plantas que morriam, do esterco com tirirca. a vida parecia em paz com a natureza aqui em nosso canto. enfim, um dia ele retorna. amadeus. e eu lhe passo uma descompostura prenhe de amor. tá , amadeus, eu fico com ele, cuido dele, veja só; até engordou. e nunca mais amadeus se ausentou.

amadeus virou árvore no jardim cá de casa, no vale, e tripa promete se tranformar em alguma flor. nada importa se o tempo está penalizando as verduras, se o papa morreu, se rainier morreu, se os corruptos de assumem e a imcopentência é inegável e comemos salmão com molho de pêra, que dessejo não tenha vindo do chile, pois meu gato rabisco, o tripa, que nunca engordou cumo um gato de tirinha está sentindo dor.

orlando o lambe cheio de amor , permite que deite em sua cama. ficam gato e cachorro dormindo solidários. e a maritaca mia. mia de dor.



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