jotabê
brasil! nunca mais brasileiro
sei lá porque, mas lembrei do caderno do vale do paraíba do jb e que valeu meu pedido de demissão. pois bem. tivemos uma semana para percorrer as cidades banhadas pelo rio paraíba do sul e dar conta de um caderno especial que rendia bons dividendos a empresa. fomos eu , luiz carlos, oderfla , frança na fotografia e tião na direção.
as rurais velhas do jb caíam aos pedaços. nem lembrávamos de comida duarante o trabalho, sono era um luxo ao qual não podíamos nos render. uma semana para percorrer o estado do rio de norte a sul e não só as cidades ribeirinhas. enfim, volta redonda onde nos demos o luxo de uma sopa da madrugada, num bar pé sujo, após conseguirmos um hotel para escrever o apurado, em lugar do sono, claro , que era cochilado nos solavancos das estradas.
neste bar da sopa , do lado de fora, umas crianças pediam comida, isto pelos idos de 1970, quando o jb começaria a circular em fins de semana. falamos; entrem e comam conosco. só que o dono não permitiu. mas quebramos o pau. as crianças entraram e exigimos que fossem servidas , dentro do possível, cum laudae. a noite muito fria a pele deles ruça e arrepiada de frio. trazia um poncho argentino e entreguei para eles . que se cobrissem e aproveitassem o estômago cheio.
nem imaginei que veria mais o poncho. no hotel escrevemos todo o apurado e , na manhã seguinte, na saída para a rural
de triste lembrança vemos a dita lavada e as cianças com o poncho dobrado devolvendo-o. faz tanto tempo, trinta e poucos anos , o suficiente para imaginar como se comportariam hoje estas crianças que receberam e devolveram carinho. será que seria assim?
seguimos viagem e terminamos enfim de apurar as matérias. primeira noite de sono num hotel barato e cheio em três rios, o único que havia. para mim sobrou um vão de escaca onde ficava a cama. mas as pernas não poderiam ser esticadas. os homens ficaram pior acomodados.
manhã, café tomado, um luxo. ligo para a redação que chegaríamos de tarde. - é bom. ouvi de paulo sergio castro barbosa pois vocês estão, por determinação de amaury, em plantão de fim de semana, na estréia na tiragem do jornal sábado e domingo.
pasmei! estávamos exaustos. mas nenhum argumento o convencia de que outros poderiam ser escalados. seríamos nós e estava conversado. insurgência geral. oderfla, a quem chamávamos de flafla e luiz carlos ameaçavam pedir demissão. o dinheiro para as despesas, que o jornal nos fornecera já acabara há muito. usávamos nosso cartão de crédito. e agora, mais esta?
nada ameacei mas entreguei a matéria para o suplemento e pedi demissão. o dines já havia ido embora. o jornal mudara. o respeito profissional e pelo ser humano fora para o brejo. lembrei daquelas crianças. que estejam agasalhadas e agasalhem outras! será difícil neste brasil perdido de si mesmo.
mas antes que esqueça; no retorno conseguimos furar três pneus da rural. e chegamos direto no jornal na manhã de começar o plantão. suados, sujos, cansados. sem ter tempo para um banho ingressamos na rotina da apuração. naquele tempo borracheiros na estrada era luxo . lembro de tião rolando pneu na estrada procurando socorro. é.... o brasil, não é amigo? um dia foi brasileiro. foi?
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