sábado, maio 28, 2005


li stoducto do palavras tortas e de vários caminhos fez o favor de exibir em cristal prosa e poesia tentativas de poemas meus.

contarei um causo verdadeiro: ainda jovem, iniciando a adolescência tive o prazer e o privilégio de conviver com o poeta manuel bandeira de quem amo vários poemas, e muito este abaixo. ele me conselhou seriamente: nunca faça poemas, você não é poeta.

Paisagem Noturna

manuel bandeira



A sombra imensa, a noite infinita enche o vale...
E lá no fundo vem a voz
Humilde e lamentosa
Dos pássaros da treva. Em nós,
- Em noss'alma criminosa,
O pavor se insinua...


Um carneiro bale.
Ouvem-se pios funerais.
Um como grande e doloroso arquejo
Corta a amplidão que a amplidão continua...
E cadentes, metálicos, pontuais,
Os tanoeiros do brejo,
- Os vigias da noite silenciosa,
Malham nos aguaçais.


Pouco a pouco, porém, a muralha de treva
Vai perdendo a espessura, e em breve se adelgaça
Como um diáfano crepe, atrás do qual se eleve
A sombria massa
Das serranias.


O plenilúnio vai romper...Já da penumbra
Lentamente reslumbra
A paisagem de grandes árvores dormentes.
E cambiantes sutis, tonalidades fugidias,
Tintas deliquescentes
Mancham para o levante as nuvens langorosas.


Enfim, cheia, serena, pura,
Como uma hóstia de luz erguida no horizonte,
fazendo levantar a fronte
Dos poetas e das almas amorosas,
Dissipando o temor nas consciências medrosas
E frustrando a emboscada a espiar na noite escura,
- A Lua
Assoma à crista da montanha.


Em sua luz se banha
A solidão cheia de vozes que segredam...
Em voluptuoso espreguiçar de forma nua
As névoas enveredam
No vale. São como alvas, longas charpas
Suspensas no ar ao longo das escarpas.
Lembram os rebanhos de carneiros
Quando,
fugindo ao sol a pino,
Buscam oitões, adros hospitaleiros
E lá quedam tranqüilos ruminando...
Assim a névoa azul paira sonhando...
As estrelas sorriem de escutar
As baladas atrozes
Dos sapos.
E o luar úmido...fino...
Amávico...tutelar...
Anima e transfigura a solidão cheia de vozes...




mas tanto que desejava, tanto! que lembro de nossas conversas, quando não presenciais, por telefone e escrevo versos com a consciência em chamas. portanto, querida eliane, agradeço a gentileza, mas se poeta eu fosse, li amiga, ah! poeta seria.

imaginário eixo é o blog onde alimento minhas pretensões. leva o nome de um livro publicado em final da década de 90 e creio esgotado.




passos.jpg
talvez







os passos

sabe-se deles

pelo som

na terra

cascalho

crash crash



os dedos

eles falam

pelo que exalam

pode ser calma

grana ou graxa



os olhos

carbonizam

e doem a figura

lenta, forma palha.

os olhos agonizam



e se põem

como faróis

desligados na garagem

ao carro que vem

para o jantar.

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