terça-feira, julho 26, 2005




engarrafamento



ah, quando o pai do pai de meu pai ergue sua pipa além dos montes de vento não pensa. sabe o que é ir além do pensamento? ser a linha tensa que determina o vôo de um triângulo com rabiola? sabe como é ser vento? o pai, do pai do pai de meu pai sabe. olha para o céu e descreve o rumo da pipa. olha para o chão e cuida quanta linha ainda existe enrolada na lata de leite ninho.
o motorista, ao meu lado faz sinal.ofereço o acendedor de cigarros do carro. eu , um sanduiche de latas! do lado oposto o outro se barbeia. ah, ouço o choro de uma criança. milímetro após milímetro, sobre a ponte que treme, avançamos em nosos casulos de folha de aço.
o pai, pai do pai do pai de meu pai corre para tirar do chão a pipa que desabara do céu, para que nenhum carro a quebre.
-você algum dia foi rabiola? era sua voz acima dos motores, além do som e do cansaço dos metais. responde a ele o monóxido de carbono.
então, o pai do pai do pai do pai do pai de meu pai desce a saia, retira o seio do corpete manchado de leite e alimenta seu filho.
a ponte, não é bem um tremer; ela fretila.
disse a mãe: não. respondeu o filho: você recusa a tensão da pipa.
este menino! seria o filho que haveria de ser o pai do pai do pai do pai do pai do pai do pai do pai do pai de meu pai.
e de quem um dia fui filha, presa num engarrafamento.




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