sexta-feira, agosto 26, 2005




quitandas





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sobre as quitandeiras tem este céu





este devaneio foi publicado na Terça-feira, Janeiro 28, 2003, no porcas e parafusos. aí a fal disse numa conversa: esse doutor luizinho com a cachaça dele dava uma crônica. sei que quando fal vier até aqui vai se esparramar de tanto causo que ouvirá e muita história verdadeira. esta não é bem uma crônica sobre a cachaça do dr. luizinho . mas ela entra no meio porque falar de quitanda sem citar a cuja fica imcompleto. taí fal , já havia comentado sobre ela. a crônica deixo procê.

mas o bom da festa higgin é quando um moribundo pede para falar com você e na despedida você diz: morra em paz. isso já fiz. não me arrependo. a pessoa sofria e precisava de paz. disse porque na minha hora é o que desejo ouvir. mas o melhor mesmo é ser peixe e poder voar, ser pássaro mergulhar e ficar um tempo na profundidade. também é bom ir para diamantina breijeirar. aliás, como é brejeiro brejeirar!!! dizem que o óbvio é obtuso. eu o vejo como simples. é o cúmulo da simplicidade. ? devolver o sentido ao sentido. sem traquinagens das figuras metafóricas da linguagem. uuuffffaaaa!!!!!

quando as mulheres daqui se reúnem para fazer quitandas ( biscoitinho de nata de araruta,. agora que é época de pêssegos é doce, licor, geléia , e torresmos, muitos torresmos para o marido petiscar com a cachaça do doutor luizinho que a conserva por sete anos em tonel de carvalho. o homem é chato até. segue o rumo da cachaça dele e só a vende para ver se a modificam por acéscimo.

mas de volta às quitandas tem muitos e muitos etceteras. enquanto as mãos trabalham a boca mastiga a vida das pessoas e as passa em pente fino . e quando algum filho mais astucioso grita ? mãe to rachando o bico, ou um peão avisa da janela da cozinha ; dona , preciso falar com seu raymundinho pra dar um jeito nas vacas porque o leite só diminói. voc6e sabe que pertence à confraria da quitanda quando pega a mania dos erres que saíram desembestados da porrrrrrrrrteira paulista e caíram no sul de minas gerais, ou se percebe, como a maioria das mulheres, a cutucar o outro. como se além da voz perfurar a carne fosse necessário para se fazer ouvir. e lá vem a pergunta de praxe na desconversa quando uma criança aponta na porta : pois é, não e mesmo? além ainda usa de uma serenidade que obra o pensamento dos outros para responder curiosas perguntas: não parece a virgem maria a pobre no fogão de lenha fazendo quitutes para o minino jesuszinho? nem sabe o que o marido apronta... e a criançada mais as galinhas vêm ciscar por perto ao sentir o perfume dos feitos.

durante o preparo de uma broa de milho você sabe quem está prenha , quantos maridos pulam a cerca; que mulher cruz credo, mulher que faz quitanda nem se atreve a olhar pro lado, só de leve para saber se as cadeiras da menina do zé cresceram, sinal de que ela deu um mal passo, mas que mulher tem pecados para contar ao padre no confessionário, dentre elas? e cochicham as puras com os olhos que indicam a pecadora. sobe a ladeira para ir à missa, toma benção pro padre mas minha filha nem te conto! não é que o tomazinho cismou de relar a mão da cara do chico e foi uma fudunça daquelas? houve faca e tudo. sabe? ouvi a conversa na sala e fiquei assuntando. quando o homem tava dormindo perguntei a ele . é batata, sempre me responde quando dorme as coisas que preciso saber. "o tomazinho ? um monte e o chico sempre no úrtimo de chique. já viu no que podia dar! e deu." então a mulher do tomazinho...? pergunta a santa no fogão, com a barriga assada. também! respondem as comadres como se a voz fosse um dedo que apontasse o mal feito que ela aprontava.

e comadre iná não conseguiu tirar pintinhos dos ovos? e foi um mundão de ovo que ela botou nas galinhas para chocar. eu avisei: é tempo de trovoada vai gorar tudo. teimosa, que queria tirar a raça daqueles frangos da coitadinha da cecília. lembra que ela perdeu o galinheiro e todos os gansos na última enchente das goiabas. nem me conte. e veio doença braba para as aves, nem me conte! que a água deve de ter levado um pouco concordo, mas o resto foi mão de homem. e a coitadinha da cecília, desgostosa, deu pra ela os ovos. que não queria saber mais de criação. também, com o preço do milho! tá tudo pela hora da morte... onde já se viu um bezerro de dois meses, ainda precisando do cuidado da vaca, ser vendido por trezentos reais? a gente da cecília sempre põe a culpa nas águas na onça, na gasolina, nas guerras lá de fora . arre trem!

em diamantina vivia helena morley que escreveu o livro "minha vida de menina" vertido para o inglês pela elizabeth bishop. helena conta a vida da família e dos caçadores de diamantes da região, dos faiscadores, da cidade de subsolo rico. e mostra como era a vida das mulheres. é uma história do cotidiano entre 1893 e 1895.

mas cachaça da boa higgin, juro que não tem igual a que o dr. luizinho faz aqui em caxambu e deixa envelhecer sete anos, conta de mentiroso, mas é de verdade, em barril de carvalho. e a gente aqui se preocupa com ovo que gora, patinho que morre de frio no lago, de tanta chuva e os raios e trovões que ontem estouraram uma lâmpada cá de casa. fez plec e apagou. enquanto o mundo pega fogo aí fora. pois é, né mesmo?


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