terça-feira, setembro 20, 2005




luiz alberto machado deixou-me um recado no orkut para apreciar seu blog erótico. não é bem minha praia. os homens são eróticos, as mulheres podem sê-lo mas não fazem disto seu canto. ou fazem? sei lá. já esqueci um monte de coisas.

o homem, o corpo, as construções musculares, o cheiro de sua pele, sua textura, a voz, as unhas, o formato do pé, o próprio ventre, a bunda são objetos de desejo das mulheres. sim, as conversas sobre eles é fugidia. entrecerradas bocas dizem das preferências. mas canto ao homem ainda não ouvi, ao homem como objeto do desejo, ao seu corpo, linhas, definições.

não falo do homem pijama , balofo, refestelado na modorra dos dias sensaborosos, com a barba por fazer, o hálito corrompido pela inércia. estimo o que surfa a alma e se solta ao espaço , o que sabe ficar em silêncio e neste silêncio apreender as relações do formigueiro.

mas quando as mulheres falam sobre eles é com alguma lástima, determinada tristeza, pontuam dores e faltas. exatamente porque os recebemos na cama de nosso corpo como seres especiais que nos podem dominar, virar-nos ao contrário que estaremos sempre gratas por sua atenção. é como se eles fossem a única razão de nossas vidas. já senti assim!

a partir do convite de luiz alberto machado fui instigada a cantar o corpo do homem como objeto sexual, com erotismo. mas descobri que não sei fazer isto. não sei ser erótica. que coisa!

com a consciência de que mesmo se o soubesse repetiria o já dito e feito, apenas com novo olhar na voz, se tanto! pedi ao michelangelo que lograsse o que não consigo :

S'i' vivo più di chi più m'arde e cuoce,
quante più legne o vento il foco accende,
tanto chi m'uccide mi defende,
e più mi giova dove più mi nuoce.

quarteto para um soneto não concluído, de michelangelo buonarroti. in "michelangelo-poemas" da editora imago. tradução abaixo de nilson moulin.


se vivo mais de quem me queima e dana,
quanto mais lenha ou vento o fogo acende,
tanto mais o que me mata me defende,
e mais me contento onde mais me fere.



angelo.jpg
davi (1501-04), umas das mais cultuadas
obras do artista


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escravo, 1519-36

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escravo, 1513


sobre ele disse Rainer Maria Rilke: ..."Os que viveram antes dele conhecaram a dor e a alegria; mas apenas ele sente, agora, tudo o que há na vida, e sente que abraca tudo como uma coisa só."...

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