quarta-feira, outubro 05, 2005




chiquita bacana se foi

emilinha.jpg

31/8/1923. 03/10/2005




"chiquita bacana, lá da martinica, se veste com uma casca de banana nanica...."

sábado. o rádio ligado na nacional . as pessoas na sala de jantar, sentadas em torno do aparelho. aflitas... aguardam o césar de alencar. quase no final do programa enfim a esperada, a favorita permanente da marinha, a preferida do brasil, emilinha borba! emilia savana da silva borba .

nas savanas africanas a água é escassa , o solo é fértil e duas estações a caracterizam: uma seca e outra chuvosa.. assim emilinha ''a minha, a sua, a nossa favorita'' , que ficou marcada por seu nome : savana: ou a adoravam ou a detestavam por conta da rivalidade dos dois cesares, o de alencar no sábado e o ladeira, no domingo, com sua star: marlene! a ''guerra'' teve início em 1949, quando marlene, patrocinada por uma cervejaria, derrotou emilinha no concurso ''a rainha do rádio''. no cd eminha pinta e borba, deste século, vendido por 10 reais nas ruas do rio de janeiro pela própria emilinha a música emblemática, "entre tapas e beijos" é cantada por ela e marlene, feito impossível há 54 anos atrás.

a memória vem da década de 50. o mundo acabara de sair da segunda guerra mundial, hiroshima e nagasaki foram explodidas com a bomba atômica, e o brasil esquecera as imensas filas que seu povo precisava cumprir para receber os tickets de comprar comida.

minha tia professora trabalhava a semana inteira para no sábado, a família reunida, vibrar num mesmo diapasão pela rainha dos músicos, a rainha do jubileu da rádio nacional e a rainha do rádio, eleita por voto popular!, nem getúlio vargas, o pai da pátria, tinha tanto prestígio!

em uma cidade mineira, perto de juiz de fora, sonja faria rosa , menina ainda, cumpria o mesmo ritual. ouvia rádio até debaixo das cobertas da cama e lia, com a iluminação da luz do dial.

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sonja diz:
oi esther. lembrei de você quando li da emilinha

esther diz:
menina cada um que vai leva a memória da gente junto. a memória afetiva!
sonja diz:
ah nem fale....já não está sobrando quase ninguém....

esther diz:
você acompanhou emilinha no césar de alencar?
sonja diz:
eu era criança mas ouvia muito rádio e lia revista do rádio. eu escutava todo sábado. tinha até votação na revista do rádio....
a minha mãe escutava as novelas, drama de cada um e outras e eu escutava sozinha no sábado. e no domingo, o paulo gracindo as 20h
o meu pai escutava prk-30 na mairink veiga.


sonja foi emilinha até descobrir que seu time de futebol era o botafogo. aí virou marlene, que era do flamengo: "eu torcia para a emilinha, mas depois quando soube que a marlene era do flamento eu preferia ela"

sonja diz:
eu comecei a escutar rádio mesmo com 8 anos. lá em casa tinha uma empregada que gostava de rock e me iniciou nos elvis, paul ankas, e neil sedakas daquela época, e eu dormia cedo e ela me contava sobre o "além da imaginação que era tarde da noite (20:30 eu acho).lembro dela me contando do "monstro da lagoa negra" e eu viajava nessas histórias... eu tinha inveja dela porque nunca podia ficar acordada até tarde. isso foi em 59.

esther diz:
mamãe nos deixava ouvir até "jerônimo, o herói do sertão", depois cama.
sonja diz:
depois comecei a levar um radinho telefunken para ouvir na cama e enfiava debaixo das cobertas e lia com a luz dele...

sonja diz:
jeronimo e o anjo às 6:30

esther diz:
muito bom, o rádio ocupou mais nosso imaginário do que a tv, não acha?
sonja diz:
com certeza, até hoije eu ainda prefiro o rádio à
tv
esther diz:
o rádio formou uma geração inteira, cordial, amiga e depois perdeu o significado na competição com a imagem.
sonja diz:
por isso não ponho tv à cabo, senão não vou escutar o rádio e vou ver os filmes que já vi varias vezes de novo....

esther diz:
sem contar que a imagem é de origem grega e o som de origem judaica. as pessoas sabiam de deus pelo vozeirão dele
sonja diz:
é verdade mas aqui na inglaterra se dá muita importância ao rádio, tem programação inteira nas revistas de domingo junto com a programação de tv. de qualquer forma eu acho que aquele tempo era mágico. mas teve na tv aqui um programa chamado grumpy old man (teve de mulher também mas eu não vi) e os cinqüentões tinham exatamente a mesma idéia que temos...que hoje as músicas são insuportáveis, que os namoros não são mais românticos. acho que o tempo passou mesmo.... a gente sempre tende a achar que no nosso tempo era sempre melhor não é mesmo?

sonja diz:
as adolescentes de hoje não têm mais tempo de sonhar porque o sonho já vem pronto nas novelas de tv. não se espera mais por nada.... está tudo ao seu dispor...

esther diz:
e tem o lance do sinal. o sinal da tv não te leva a pensar . não propõe interação. são sinais retos e picotados. o rádio não, os sinais vêm em onda e são contínuos
sonja diz:
é verdade...

esther diz:
o décio pignatari fez uma belo trabalho sobre isto e repito o que ele fala em "signagem na televisão"
sonja diz:
eu acho que de umas décadas para cé desenvolveu-se para isso...
esther diz:
evolução ou involução,menina, não pensar....
sonja diz:
pensar pra que? dá trabalho. tudo passa esther...tudo passa
sonja diz:
no meu tempo os rapazes (rapazes, ainda existe isso?) mandavam um amigo entregar um cartãozinho perguntando posso falar contigo? e a gente dobrava a pontinha se pudesse. aí eles vinham e diziam: estou gamado com você. outro dia me lembrei disso, pois nem me lembrava mais dessa palavra "gamado"? que coisa....



e assim foi o papo no dia em que emilinha borba, da savana foi velada. ontem. exatamente ontem. há poucos minutos de ontem. quase nada. mas faz tanto tempo!

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