terça-feira, fevereiro 21, 2006

prova de vida


prova de vida


é uma história parecida com esta que a fal narrou abaixo. menos rica em detalhes porque só tem um detalhe. ou vários, que sei eu? bem, todo ano, no mês do meu aniversário, eu preciso ficar em frente ao responsável pelo departamento de pessoal de alguma universidade federal (rima feia) e provar de corpo e alma que estou viva. antes preencho a atualização cadastral de aposentados com meus dados pessoais.

tenho severas dúvidas, confesso; primeiro, se sou eu mesma que me apronto para este ato, que me parece tão definitivo, como entrar com as próprias pernas na caixa da morte, segundo; se a mão que preenche os dados é realmente a minha.

carteira de identidade, cpf, comprovante de residência, declaração do banco que minha conta não é vinculada, talão de cheque basta, dizem, mas como um ano não convenceu, e a viagem de caxambu até a próxima universidade federal é longa, me armo até os dentes. sinto-me como fazendo um empréstimo de mais um ano de vida no guichê do recadastramento e vejo a censura nos olhos que me recriminam: ô senhora! está viva ainda!

antes de pegar a tal declaração no unibanco ligo para a agência de são lourenço e explico o que desejo. normalmente seria fácil, mas todos os funcionários conhecidos foram demitidos e novas pessoas recontratadas. depois de caminhar de gerente em gerente sou atendida por uma moça que garante ter a força para resolver meu problema: e explico- eu quero uma declaração do banco de que minha conta não é vinvulada. só isto. Me atende cheyene!

-boa tarde, meu nome é cheyene, sou backup do gerente administrativo, diz a voz do outro lado da linha.
-querida, (não resisto), não quero falar com arquivo morto. preciso de voz ativa. já havia percorrido várias vozes . estava irritada.
-eu resolvo seu caso, senhora, é só imprimir um extrato de sua conta.
-não, querida. isto tenho. o unibanco me envia mensalmente o extrato, num envelope lindo, um livro rico de folhas de cor bege, papel de boa qualidade. preciso, como me informa o governo, através da universidade, que só vale declaração do banco, em papel timbrado, assinada pelo próprio gerente.
-isto não podemos fazer. não temos papel para isto.

em síntese, recebi numa folha vagabunda de a4 uma declaração de que sou a única titular de minha conta corrente, com uma rubrica e o carimbo do banco ilegível, tremido.

não serve. viagem perdida. mas o mais trágico da história foi, no momento de preencher os documentos, declarar que, “sob as penas da lei, todas as minhas informações são a expressão da verdade.”

não sei o que é verdade, não sei se existo, não sei se é minha esta mão que digita. nada sei.
nem sei que não sei!

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