quinta-feira, outubro 05, 2006

deu no estadão e a peleja continua

deu no estadão e a peleja continua


chico buarque falou, veja no post abaixo, suely gomes costa, professora de história comentou em email, durval albuquerque, também de história, replica o abaixo:


Querida Suely,


Com todo respeito que lhe tenho queria discordar radicalmente de seu email. Esta visão de terra arrasada, do quanto pior melhor, de que todos são iguais é absolutamente insustentável. Talvez porque vc esteja olhando o Brasil de um outro lugar. O retorno do PSDB ao poder podera significar a perda das pequenas conquistas que tivemos nestes ultimos tres anos, 20% a menos de pessoas na miseria, 10 novas universidades, 43 novos CEFETS, e muitas outras que não preciso elencar porque sei que és uma pessoa bem informada e sabe da discrepância das estatísticas entre os dois governos. E não precisa de estatistica, basta olhar para nossas proprias universidades, o valor das bolsas, o numero delas, a descentralização da pós em nossa área. Sinto um estranho travo de preconceito contra o PT e se não de classe mesmo, porque as pessoas da CUT não podem ter ou se hospedar num hotel cinco estrelas, o que tem demais nisso. Não consigo visualizar como Heloisa Helena pode ter se colocado como alternativa pois fez uma campanha assentada no rancor, no bate boca, no chingamento, as ideias eram poucas e velhas, as mesmas tipo Fora FMI quando ele ja foi e ela nem se deu conta. Queria apenas que vc lesse as pequenas historietas a seguir e meditasse sobre elas, tentando se despir dos nossos arraigados preconceitos de classe média, nosso elitismo, nossa incapacidade de ver a vida e o pais para alem de nossos campi e de nossos hoteis, elas são fruto como vc diz do pragmatismo politico de Lula, de suas praticas como Presidente, estas historias nao aparecem no Estadao, na FSP, no Globo, afinal elas não interessam a maioria dos que nunca viveram o que estas pessoas viviam, elas são apenas exemplo de milhares delas que acontecem neste momento no Brasil, enquanto nos em nossa cegueira fazemos de conta que o importante é uma transformação social futura que não sabemos se virá ou que tanto faz elas continuarem acontecendo ou não, se o PSDB acabar com elas, que importa, continuaremos coerentes e sabios: Um beijo. Durval


Ai vão elas:

Comunidade de Riacho Fechado, São Tomé, região do Trairi, terra de seu
Alcino Moreira. Ele tem 84 anos, 82 deles vividos ali, trabalhando a
terra, do mesmo jeito que seu pai e seu avô - literalmente. Até 2003 ele e
seus vizinhos não tinham luz elétrica; banho de verdade, só aos domingos
para ir à missa no povoado mais próximo; dinheiro vivo em casa, só quando
um dos filhos que se mudou para a capital levava algum. Seu Alcino
trabalhou a vida inteira e nunca teve uma renda mensal. Ainda assim, ele se
considera abençoado por ver que seus filhos terão uma vida melhor do que a
sua.
Primeiro foi a energia elétrica que chegou e tirou a família daquela
escuridão sem fim; depois a cisterna que, como ele diz num sorriso aberto e
emocionado, nunca secou; no ano passado foi o financiamento do
Programa Nacional de Agricultura Familiar. A comunidade se organizou,
aumentou a área de plantio, está colhendo e vendendo seus produtos
diretamente para as creches e escolas da cidade, sem atravessadores,
através do Compra Direta.

A família de seu Alcindo sabe por que vai votar em Lula.

Currais Novos, região do Seridó. Lá, dona Joana D´Arc da Silva limpa as
tilápias que pegou no açude. Há dois anos que ela e dezenas de outros
pequenos da Serra de Santana tiram três toneladas de pescado do
criadouro instalado também graças aos recursos do PRONAF. Toda a produção
também já tem freguesia certa na cidade. Isto significa proteína de
qualidade na mesa das pessoas e uma renda mensal que dá para pagar a conta
de luz, as prestações do financiamento e ainda fazer planos para o
futuro.

Dona Joana sabe por que vai votar em Lula.

Também em Currais Novos, os agricultores de Povoado Cruz também querem a
reeleição do presidente. Até dois anos atrás, metade das frutas
produzidas na região estragava por falta de condições de escoar a produção.

Não tinha estrada e ninguém ali tinha como colocar os produtos nas feiras e
mercados. Só restava entregar aos atravessadores por qualquer preço.
Graças ao Pronaf, eles se uniram e montaram uma fabriqueta de polpa.
Plantaram mangueiras nas ruas, até na pracinha da igreja. Ali e em
todas as propriedades da comunidade fruta nenhuma apodrece mais no pé.
Todas são transformadas em polpas congeladas e doces em compota. O produtor
que antes ganhava de dez a quinze reais por caixa de frutas entregues ao
atravessador hoje recebe 85 reais assim que entrega a produção na fábrica
de polpa, que já precisa ser ampliada para atender à demanda.

Eu poderia passar a noite inteira descrevendo projetos que eu vi em
funcionamento em lugares que NUNCA haviam sido beneficiados com
nenhuma ação do governo federal. Nas minhas viagens pelo interior
tenho visto o brilho nos olhos de homens e mulheres simples que muitas
vezes não conseguem conter as lágrimas quando falam das suas conquistas -
a casinha para morar, energia para ver televisão e fazer uma
vitamina no liquidificador novo - coisas que parecem insignificantes para
quem sempre viveu com um certo conforto nos grandes centros mas
que pareciam inatingíveis para esse povo humilde. Tive a alegria de
saber que muitos pais já estão chamando os filhos que lutam para
sobreviver na cidade para voltarem e ajudarem a família no campo.
Jovens como Cristina, que se orgulha de ter, sozinha, conseguido a melhor
safra no seu assentamento em Serra Caiada - assentamento, diga-se de
passagem, com água, luz e incentivo à produção.

A tal "transferência de renda" para a qual as elites torcem o nariz
funciona assim: de um lado, as famílias recebem o Bolsa Família para
manterem os filhos nas escolas; para garantirem a merenda escolar,
as escolas compram frutas, verduras, legumes, carne, leite e seus
derivados dos agricultores da região que, por sua vez, tiveram a produção
financiada pelo Pronaf. Vendendo direto, sem intermediários, esses
produtos saem mais barato para a prefeitura e o comércio local. Os
agricultores, por sua vez, recebem muito mais do que receberiam se
vendessem seus produtos para o atravessador. Com esse dinheiro ele
pode comprar no comércio da cidade aquilo que não produz. O comércio se
desenvolve e emprega a mão-de-obra que vivia ociosa na cidade e que
acabava migrando para a capital ou para o sul maravilha. Este é o melhor
exemplo de como o capitalismo pode melhorar a vida das pessoas se ele
não for selvagem. E está acontecendo, gente.

Eu vi.


para ler durval albuquerque

Um comentário:

wind disse...

Esther peço desculpa por responder aqui, mas não dou com a foto.
Peço imensa desculpa, mas a foto é quase igual a uma minha. Só depois reparei que não podia ser pela data.
Imensas desculpas, me perdoe:)
beijos
A minha é esta:

http://static.flickr.com/111/275452137_cf046cb111_o.jpg