quarta-feira, abril 04, 2007

as autonautas, com licença cortazar, da brasilpista

as autonautas, com licença cortazar, da brasilpista




estradas do paraná, esqueci de fotografar são paulo


o marcante da viagem foi nos perdermos em sorocaba. regina estava na direção da berlingo, que, como dizemos hoje com ufanismo, quebrou apesar de estar há apenas seis meses na estrada portanto, nova em folha. nós, regina com 79 e eu com 65, estamos inteiras.

mas perdermo-nos em sorocaba foi interessante. saímos do posto de abastecimento de gás e refazendo o mesmo percursso da entrada na cidade tentamos sair. e nada. já havíamos dado duas voltas pelo mesmo quarteirão quando peguei o volante. numa esquina da rua movimentada estava uma senhora que aguardava diminuir o trânsito dos carros para atravessar. não havia semafóros em nenhum local. perguntei que destino tomar para pegar a rodovia. ela contou que saíra do trabalho na casa de outra senhora e que estava parada há mais de meia hora na espera de que o movimento dos carros diminuísse para passar para o canteiro que dividia a pista. depois seriam mais minutos ou horas para chegar na outra calçada. -dobra na universidade logo em frente e depois é só seguir a pista.

assim fizemos por várias vezes. numa delas ainda parei e lhe perguntei: tem certeza de que o caminho é este?
ela perguntou, vocês ainda estão aí?
-e já demos umas dez voltas em torno deste canteiro. foi o que a senhora nos indicou.
nisto passou um rapaz e nos socorreu. - vocês vão em frente, quebram à direita e quando encontrar um sinal pode olhar que é a estrada.

assim fizemos; estávamos sobre um viaduto e a castelo branco lá embaixo. eita senhoras caipiras que fomos nós; não conseguir deixar sorocaba para trás. cá entre nós: que cidade quente e sem qualquer sinalização nas vias urbanas.

mais fácil foi nos acharmos em tatuí. mas aí já deixávamos são paulo para trás em nossa viagem até foz do iguaçu. e é outra história.

neste trajeto lembrei-me de julio cortazar que, ao saber que estava com leucemia, fez uma viagem de paris a marselha, parando em todos os postos da estrada enquanto escrevia um livro sobre a experiência. Autonautas da Cosmopista Julio Cortazar e Carol Dunlop (Ed.Brasiliense, 1991). e carol dunlop, sua companheira. morreu dois anos antes dele. é um livro fascinante. vale ler.

"Carol Dunlop e Julio Cortazar passaram um mês na auto estrada que une Paris a Marselha - uma viagem de férias pelo avesso da realidade. A estrada deixa de ser um percurso para transformar-se o destino da viagem; seu propósito de velocidade transforma-se em lentidão deliberada, pois é possível fazer em poucas horas o trajeto que os autores deste livro fizeram em um mês. Visitando dois parkings por dia, os viajantes, instalados num carro-casa, registram detalhadamente tudo o que vêem: plantas, bichos, erotismo, horizontes bucólicos, gastronomia."

Nenhum comentário: