alzheimer, meu bicho-papão
proteína beta amilóide
quando era criança e fazia algo que os adultos não gostavam ouvia logo a ameaça: olha o joão dos vasos, o homem do saco e a maria puaba. interessante como o ouvir tem a ver com o olhar, me digo hoje. olha!! para ouvir a cantilena.
os contos infantis eram terríveis, repletos de madratas e bruxas que maltratavam as crianças. e nós perdíamos a docilidade, a esperança, e ganhávamos medo com as ameaças e contares.
hoje, o aviso é outro e sou eu quem me dou : olha o alemão!. basta esquecer alguma coisa, ir em direção à, para... e não saber mais o que iria fazer e me assusto: é o alemão. e com profundo terror relembro o que vi acontecer com minha mãe e todas as minhas tias maternas: a chegada sorrateira e ainda ignorada do mestre do esquecimento.
hoje arrumava gavetas cheias de papéis sem serventia, dos que não provocam nem um sorriso de satisfação do tipo : olha! tanto que procurava por e você estava bem debaixo do meu nariz.
deu-me sede. fui ao filtro beber água e, ao retornar, esquci o que fazia. sentirei medo do alemão por hoje e amahã, até esquecer do incidente. e se ele me pega e transforma em vegetal?
o bicho-papão
sempre que a insegurança bate , não sei porque, relembro desses versos do poema de fernando pessoa "num meio dia de fim de primavera..."
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Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
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