segunda-feira, junho 02, 2008

primavera entredentes




primavera entredentes



a sombra se atira contra a parede. como quem da a bordoada com as costas da mão. depois toda recolhida renova forças . se atira em. a mão já sangra. se num momento está contida em si mesma, em outro revoa em circulos pelo chão e novamente se espatifa inteira contra a parede. a mão está em tiras.

o vento satisfeito, de barriga cheia, rindo gargalhadas como quem gorgoleja, parte discutindo consigo mesmo, sua voz estremecendo as nuvens que correm .

à sua frente, ao final de tarde. a luz da tempestade seguiu o vento.na sombra, as folhas amparam a mão desfeita em fiapos sanguinolentos de seiva. com outras mã0s arrumam o cabelo desfeito.

escurece tanto que não há como distinguir o horizonte. o que há é no fim do fim e no meio do meio.

ah! as primaveras são assim. um perfume só quando a tarde é quente. um esparramo de braços e pernas, gritos trovejantes pelo ar, subitamente. a voz gutural a rugir cerrando a raiva entre dentes.

ela é toda cicios ainda agora. até se comenta: será que a primavera não mais suporta flores, crias de passarinho, brotação nova das plantas, as sombras macias. e por não suportar as arrebenta?

com o perfume do jasmim ela providencia um carinho. no chão molhado, num brilho de gotas, sussurra a chuva que chove, tranqüiilamente. chuva parideira, macia, contante,

o sol que se punha num poente entre duas árvores, durante o outono , agora esqueceu o caminho e delas se afasta. as folhas estão doentes. será que como os elefantes tudo se afastará, para um lugar ignorado, em busca do desfecho final? os animais preferem discrição na morte. uma coisa muito pessoal.


o mundo é um moinho


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