quarta-feira, novembro 12, 2008

DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NÃO É DESENVOLVIMENTO SOCIAL






JUSTIÇA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NÃO CAMINHAM JUNTOS





Justiça social e desenvolvimento econômico não caminham juntos disse o economista e cientista político Bresser Pereira em conversa durante o 32º encontro anual de 2008, da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, ANPOCS, no café da manhã do Hotel União em Caxambu, cidade do circuito das águas, no sul de Minas Gerais, no final de outubro, onde falou sobre as muitas crises econômicas e sociais que o mundo vive e viveu.

“A crise é um momento agudo em que você desorganiza as coisas, Você pode ter uma crise econômica, uma crise financeira, nós estamos vivendo agora no mundo, por exemplo, uma crise financeira. E o Brasil teve várias. A última delas foi em 2002, no final do governo Fernando Henrique.

Esta crise mundial, que está refletindo no Brasil mas, graças à Deus, não tanto, é a financeira. Cada país , e isto hoje está mais claro do que antes, vive no mundo competindo com os outros. A globalização não é outra coisa senão um aumento muito forte da competição; não apenas entre as empresas, mas entre os países.
E, se você quer competir, para ter êxito , precisa de uma estratégia . No caso de país uma estratégia nacional, que envolva o país, a nação, a sociedade brasileira assim como a de outros países, como a chinesa que tem estratégias , a russa, a americana .”

Luiz Carlos Bresser Gonçalves Pereira é economista e cientista político brasileiro. Foi ministro da Fazenda do Brasil durante o governo José Sarney de Abril de 1987 a dezembro de 1987. Foi ministro da Administração Federal e Reforma do Estado em todo o primeiro mandato presidencial de Fernando Henrique Cardoso (1995-1998) e Ministro da Ciência e Tecnologia nos primeiros seis meses do segundo mandato até julho de 1999.

Segundo ele é preciso separar os períodos de desenvolvimento, “entender porque ocorre o desenvolvimento econômico e quando ele deixa de acontecer.
Desenvolvimento é bom ... não é uma coisa perfeita, já podemos ver, pode haver desenvolvimento econômico sem desenvolvimento político , sem desenvolvimento social etc...

Neste meu último livro “A Macroeconomia da Estagnação” discuto porque o Brasil, desde 1980 e, principalmente, porque desde que acabou com a alta inflação, em 1984, não cresce, ou cresce muito pouco.

E aí, o que eu digo, fundamentalmente, é que para um país crescer, ter um forte desenvolvimento econômico , precisa de uma estratégia nacional de desenvolvimento que é também uma estratégia nacional de competição e, principalmente de uma eficiente política fiscal.

O Brasil teve, sob a liderança de Getúlio Vargas, especialmente em 1930, e depois, seguindo basicamente uma estratégia que foi delineada nos anos 30, 40, uma estratégia nacional de crescimento muito bem sucedida, que foi chamada de nacional desenvolvimentista.

Agora, nos anos 80 ela entrou em crise. Porque o modelo estava velho e porque o endividamento externo aumentou muito. Não foi no governo Juscelino, ele nos deixou a inflação, é bem verdade.
Depois os militares implantaram uma ditadura mas retomaram o modelo de desenvolvimento e o Brasil, até 1980 cresceu muito fortemente, mas sem respeitar os direitos humanos e a liberdade.

Aí você tem de separar as duas coisas. Uma é a crise econômica ; outra coisa é o que chamo no último livro que publiquei, “Macroeconomia da Estagnação”, de quase estagnação. Quer dizer, o Brasil teve muitas crises econômicas e políticas, mas também teve grandes fases de desenvolvimento econômico, mas em outros momentos há a estagnação ou quase estagnação.

Essencialmente entre 1930 a 1980 excetuando uma grande crise em 1970 e em 1974, houve um grande desenvolvimento econômico do Brasil. O Brasil foi o país que teve o PIB que mais cresceu no mundo!

Em termos de renda per –capita não , porque a população , naquela época, também crescia bastante. Então ficamos um pouco para trás em relação aos demais países do mundo. Mas não muito. Poucos países cresceram tanto como o Brasil naquela época. Foi um enorme sucesso econômico.

A partir de 1980 você começa com uma grande crise, que é a da dívida externa, que se caracteriza, principalmente, pelo desajuste fiscal da economia brasileira e, depois, a crise da alta inflação . A partir daí o Brasil passa a crescer a taxas muito baixas.

Crise da dívida externa, alta inflação e desajuste fiscal foram as causas de nossas crises e o são a de todas elas.

Desenvolvimento econômico para mim é alguma coisa que não implica, praticamente, na justiça social. Implica necessariamente em melhores condições de vida na média das pessoas.
Implica no aumento da renda por habitante, de forma que grande maioria se beneficie dele. Isto para mim é desenvolvimento econômico, mas não é o único objetivo que nós temos em economia . Temos o objetivo da justiça social, de igualdade, liberdade...

Veja, eu não acho que as pessoas são iguais umas às outras. Mas eu acho que elas devem ter oportunidade de ter direitos iguais, por exemplo, o direito à saúde... Não há nenhuma razão para que uma pessoa rica tenha mais direito à tratamento de saúde do que uma pessoa pobre, por exemplo. “

E enfatizou , citando o autor do livro “Esferas da Justiça- uma defesa do pluralismo e da igualdade”, o filósofo político Michael Walzer, de que “quem tem dinheiro, necessariamente não precisa ter poder, pois se o tem está interferindo em outra esfera de justiça”.

Segundo ele será necessária outra "Bretton Woods II", para promover uma reforma na arquitetura financeira internacional .”


O Fundo Monetário Internacional (FMI) nasceu em 1944, numa conferência realizada em Bretton Woods, nos Estados Unidos.
Três décadas antes de sua criação ocorrera duas guerras mundiais , uma grande recessão nos anos 30, que devastaram as economias européia e americana.
O FMI trazia a proposta de mais estabilidade ao câmbio dos países capitalistas e para levantar fundos que auxiliassem as nações com dificuldades financeiras.

O resto da história nós a vivemos e conhecemos.

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