quarta-feira, janeiro 14, 2009

ALALAÔ, OOOOOO, MAS QUE FEDOR ,OOOOOO


ALALAÔ, OOOOOO, MAS QUE FEDOR ,OOOOOO




CAXAMBU NO CARNAVAL É CASA DE NOCA



O grande barato de Caxambu, atualmente, a ordem do dia por aqui, é o carnaval. A cidade não fala em outra coisa, as rádios locais fazem a maior campanha conclamando o povo a exigir o carnaval nas ruas. Não sei em benefício de quem, mas garanto que não é da cidade.

Um frisson percorre os morros, as conversas da classe média, abafa o ruídos das novelas da globo, apaixona o povo nas ruas, ninguém fala de outra coisa: teremos carnaval ou não?

Sim . Eles querem o carnaval no meio da rua, com os banheiros portáteis enfileiradinhos nas calçadas, a cidade com perfume de urina e merda durante cinco dias e, após, obras para recuperar tudo o que foi destruído.

Quem lucra com isto? O pessoal que vende no clandestino, bebidas, cachorro quente, e também,,, drogas. Falo de droga, droga, mesmo. Estes ganham. A cidade perde.

Mas o que significa a cidade para quem vem por aí, no mês de fevereiro ? Todos querem saber somente de uma coisa: em Caxambu é possível arrumar casas baratas para passar os cinco dias – as famílias costumam alugar suas casas na cidade e ir para a de parentes ou para algum sítio que tenham. Tratam o aluguel para 10 pessoas, mais ou menos, que o rateiam entre si .
Mas chegam em 20, chegam aos magotes, vindos de diversas partes do país, pois sabem que na cidade podem beijar todas as mulheres possíveis, passar a mão na bunda de qualquer um, por mais distinta que seja a pessoa, fazer amor na esquina, picar-se, cheirar, abusar da irreverência porque, nesta gafieira, não tem estatuto.

A Estudantina, uma gafieira do Rio de Janeiro, fundada em 1928, para evitar abusos, criou o seu estatuto que, Billy Blanco, transformou em letra e música. Regras simples que pediam respeito no ambiente. Limites. Esta palavra chata que as novas gerações detestam ouvir: limite.

A gafieira assim como o carnaval são locais e momentos democráticos para onde converge todo tipo de pessoas. Caso não tenha normas, vira “casa de noca”, outra música da MPB de Serginho Meriti, Nei J. Carlos e Elson do Pagode

“tem nego pensando que a casa de noca
é farra, é fofoca
é canjerê
que é só ir chegando,
entrando e pegando
levando na marra a primeira que vê “

Quem vem, compra no comércio local? Não. A maioria já traz de casa a matula e, na casa alugada encontram os colchonetes, a geladeira para a cerva e armam uma churrasqueira improvisada. Quando partem, o dono da casa também precisa fazer obras para recuperar os estragos.

O turista tradicional desapareceu. Este sabe que precisa ir embora antes do carnaval se não quiser ter na sua cabeça sons altíssimos de alto-falantes, a impossibilidade de dormir, a bagunça das ruas, onde ninguém é de ninguém, e ainda a ameaça que todo carnaval traz à cidade: quem tem AIDS virá com uma seringa de sangue contaminado para injetar nas pessoas; é isto o que corre à boca pequena.

E era este turista que se alojava nos hotéis, fazia suas refeições nos restaurantes que desapareceram de Caxambu e, por isto, a cidade ficou mais pobre, pois Caxambu é uma cidade turística, não uma cidade do carnaval.

Sem contar que a rua principal da cidade, a Camilo Soares, ainda precisa passar por uma análise técnica para saber se suporta o peso das pessoas, pois há uma ameaça latente de que pode se abrir, assim como as ruas de Ouro Preto e Tiradentes, cidades históricas, que como Caxambu, não suportam as cargas pesadas.

O povo, insuflado pelas rádios locais, claro que quer o carnaval pois, nestes dias, ninguém precisa pensar que o emprego do ano inteiro foi comprometido por ele, pois a renda da cidade cai.
Sequer atentam para um fato, os barraqueiros, em sua maioria, não são da cidade. São profissionais que vêm de fora montar suas barracas com as quais percorrem o interior do Brasil vendendo suas quinquilharias.

Caxambu precisa sair do tempo das miçangas e dos espelhos e reconquistar o lugar que ocupava anteriormente, de respeito e glória.

Mas, como sempre, vocês, os interessados na grana sem tributação e no divertimento sem compromisso é que resolvem....

A não ser que, alguém de pulso, crie os estatutos desta gafieira e ponha ordem na casa de Noca.









Estatuto da gafieira
(Billy Blanco)
Moço
Olha o vexame
O ambiente exige respeito
Pelos estatutos
Da nossa gafieira
Dance a noite inteira
Mas dance direito
Aliás
Pelo artigo 120
O distinto que fizer o seguinte:
Subir na parede
Dançar de pé pro ar
Debruçar-se na bebida sem querer pagar
Abusar da umbigada
De maneira folgazã
Prejudicando hoje
O bom crioulo de amanhã
Será distintamente censurado
Se balançar o corpo
Vai pra mão do delegado
Ta bem, moço?
Olha o vexame, moço!




Estação Cultura Tiradentes realizado na Estudantina, localizado na Praça Tiradentes - Rio de Janeiro, contou com a presença da imprensa, autoridades e também do público em geral. Tendo como ápice do evento o Show Naná Nascimento & GafisambaShow com a participação do Grupo Situkerê, relembrando grandes sucessos como o Estatuto da Gafieira e Rio Antigo em seu repertório


CASA DE NOCA


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