sábado, janeiro 24, 2009

pensar com a barriga dá no rádio

pensar com a barriga dá no rádio





em uma conversa entre amigas pesquei o que a vera guimarães contou.

por ser de sabor mais do que mineiro, universal, ela reinicia o que esta blogueira que voz fala fazia: entrevistar outros blogueiros, escritores, o ser humano, enfim. ouvir nossa voz no peito do outro, num grande projeto "fala brasil".

expliquei então, à época , o porque do interesse no saber alheio que , afinal, faz parte do conhecimento coletivo:

" sabor de trem, perfume da maçã, gosto de metal na boca, cheiro à azinhavre nas mãos. algum azul profanando a fenda aguda da memória.
sim, tento reescrever ou inscrever nossa história fundando vozes. contando estórias alheias e fazer com elas as tintas da nossa irrealidade real. é como beber do sangue do outro e, como vampira, acrescentada por vírgulas, sinais gráficos cravados como alfinetes no tato, num vagão de passageiros visitar paisagens que rabiscam emoções.

em cada entrevista, ao procurar refazer a trajetória dos idos e vividos, recupero a minha perspectiva, um traço, a silhueta da nossa vivência, um só mingau.

e de repente percebo a agonia de não conseguir reescrever grandes sertões e veredas. minha casa plantada num caminho vicinal deixa escapar a grandeza da paisagem.

hoje exercito contar o que vera guimarães nos contou sobre sua infância, em sete lagoas, município das minas gerais.

isto significa que as entrevistas recomeçaram pois é o que sei fazer, e amo. contaremos histórias de vidas como a minha, a sua, a nossa.

vera guimarães inaugura a nova série, sobre a era do rádio.
torcemos para que apreciem a o corte da lâmina. elb.





"eu sou da era do rádio. na minha casa tinha rádio ligado o dinteirim. na beira do fogão, na máquina de costura da irmã mais velha, à tarde, de tardinha, à noite. e quase sempre sintonizasdo na rádio local, a muy valorosa ZYU 4 - RADIO CULTURA DE SETE LAGOAS, transmitindo em 78 quilohertz (ainda nao tinha megahertz).

de manhãzinha tinha programa de recados pro pessoal da roça (ô, tiana, lá do brejo, sua irmã mandou avisar que o joacir saiu do hospital hoje!).

depois tinha programas variados, com músicas de algum lugar do mundo (festa portenha, boleros, VALSAS, JAZZ etc etc). na hora do almoço tinha a cronica do dia, notícias, e depois do almoço, as músicas oferecidas aos aniversariantes (" a seguir, LA GOLONDRINA, que marcio coelho oferece a sua mãe pelo aniversário. parabéns, dona vivi!")

daí a gente passava pra RADIO NACIONAL, e ouvia ATERRORIZADA os episodios do PRESIDIO DE MULHERES.

de tardinha, mais seleções musicais tematicas. hora do ANGELUS. à noite, novelas.

e assim eu ouvia de tudo, absolutamente de tudo. tinha a hora dos clássicos, claro que eram os blue chips, mas a gente ia burilando a sensibilidade.

na minha casa nao tinha radiola nem discos nem ninguém tinha refinamento.

logo que comecei a namorar tarcisio, fiquei mais ligadinha. ele, sim, ouvia clássicos, principalmente música barroca, haendel, telemann, vivaldi, mozart. e a gente ia a concertos, acompanhava a chegada de bons solistas e regentes, ele sempre compra CDs., tem várias gravações de um mesmo concerto. mas nao sei ouvir ópera - amo certas árias, já fui assistir a várias óperas, gosto do espetáculo, mas não sei ouvir. inconsistência de status, deve ser.

eu, além da minha MPB do coração, amo instrumental, principalmente violão e conjuntos. a quem pediu sugestão de presente, só falei - CD instrumental - e ganhei yamandu costa, um sobrinho do rafael rabello (joão rabello?) e baden powell. "

um pouco da vida de vera através da música. obrigada vera. viver é acumular sons, odores, sabores, tatos, e paisagens. ver através de sua janela é um privilégio.

Nenhum comentário: