terça-feira, janeiro 25, 2011

fla-fla foi tomar pinga com são pedro





foto de luiz carlos souza, o de cabelos brancos e roberto rufrayer,publicada no álbum jotabeniano, pelo fleury/
não consegui foto do fla-fla


recebi do renato esta notícia: fla-fla, morreu. é tempo de cortar nomes da agenda.
oderfla almeida , o fla-fla, que conservou o hífen, recebeu este nome porque seu pai resolveu inverter alfredo. trabalhou no correio da manhã com edilson martins e luiz carlos souza. foram presos, perseguidos e, enfim, o JB os contratou. Luiz Carlos pegou um pesqueiro e foi fazer matéria da vida deles até as costas da áfrica. depois publicou um livro. edilson martins dedicou-se ao indigenismo. Oderfla continuou fazendo free e bebendo em todos os bares das cidades.

temos muita história de vida para contar. ou melhor, só os vivos podem falar sobre ele.

Esther,

Recebi sábado último a notícia de que nosso querido Fla-Fla morreu. O fim de semana andou meio confuso por aqui e acabei esquecendo de avisá-la. Quem me deu a notícia foi o Luiz Carlos Souza que ia ao enterro com o Nacif Elias e a mulher deste.
O Luiz Carlos contou que ele havia tido um derrame e já estava há mais de um ano com vida vegetativa e só mexia os olhos (eu não sabia disso). Se era assim, foi melhor ter descansado.
Deve estar chamando São Pedro para tomar pinga.
Tentei avisar o Paulo Sérgio, mas nenhum dos dois telefones fixos que tenho dele atendeu e o celular deu fora de área ou desligado - talvez ele estivesse em Miguel Pereira (ou Pati do Alferes), onde tinha um sítio e criava cachorros, mas também não sei se isso ainda existe, o sítio ou os cachorros.

Ainda temos uma boa lista de sobreviventes/resistentes: Estrela, Prata (?), Joe, PS, Fernandinho, Ralph, Osvaldo, Luiz Carlos, Nacif, Edilson, Edir, Magrinha, Altair , Lica, de alguma forma a Dadalti e nós dois. Só que, nossa lista, ao contrário da lista dos veteranos da FEB que desfilam no 7 de setembro, só diminui...
Resistamos, pois.
Abraços.
Renato


repito aqui um post de maio de 2005, quando relembro meu pedido de demissão do jornal do brasil


brasil! nunca mais brasileiro


sei lá porque, mas lembrei do caderno do vale do paraíba do jb e que valeu meu pedido de demissão. pois bem. tivemos uma semana para percorrer as cidades banhadas pelo rio paraíba do sul e dar conta de um caderno especial que rendia bons dividendos a empresa. fomos eu , luiz carlos, oderfla , frança na fotografia e tião na direção.

as rurais velhas do jb caíam aos pedaços. nem lembrávamos de comida duarante o trabalho, sono era um luxo ao qual não podíamos nos render. uma semana para percorrer o estado do rio de norte a sul e não só as cidades ribeirinhas. enfim, volta redonda onde nos demos o luxo de uma sopa da madrugada, num bar pé sujo, após conseguirmos um hotel para escrever o apurado, em lugar do sono, claro , que era cochilado nos solavancos das estradas.

neste bar da sopa , do lado de fora, umas crianças pediam comida, isto pelos idos de 1970, quando o jb começaria a circular em fins de semana. falamos; entrem e comam conosco. só que o dono não permitiu. mas quebramos o pau. as crianças entraram e exigimos que fossem servidas , dentro do possível, cum laudae. a noite muito fria a pele deles ruça e arrepiada de frio. trazia um poncho argentino e entreguei para eles . que se cobrissem e aproveitassem o estômago cheio.

nem imaginei que veria mais o poncho. no hotel escrevemos todo o apurado e , na manhã seguinte, na saída para a rural de triste lembrança vemos a dita lavada e as cianças com o poncho dobrado devolvendo-o.

faz tanto tempo, trinta e poucos anos , o suficiente para imaginar como se comportariam hoje estas crianças que receberam e devolveram carinho. será que seria assim?

seguimos viagem e terminamos enfim de apurar as matérias. primeira noite de sono num hotel barato e cheio em três rios, o único que havia. para mim sobrou um vão de escada onde ficava a cama. mas as pernas não poderiam ser esticadas. os homens ficaram pior acomodados.
manhã, café tomado, um luxo. ligo para a redação que chegaríamos de tarde. - é bom. ouvi de paulo sergio castro barbosa pois vocês estão, por determinação de amaury, em plantão de fim de semana, na estréia na tiragem do jornal sábado e domingo.

pasmei! estávamos exaustos. mas nenhum argumento o convencia de que outros poderiam ser escalados. seríamos nós e estava conversado. insurgência geral. oderfla, a quem chamávamos de fla-fla e luiz carlos ameaçavam pedir demissão. o dinheiro para as despesas, que o jornal nos fornecera já acabara há muito. usávamos nosso cartão de crédito. e agora, mais esta?

nada ameacei mas entreguei a matéria para o suplemento e pedi demissão. o dines já havia ido embora. o jornal mudara. o respeito profissional e pelo ser humano fora para o brejo. lembrei daquelas crianças. que estejam agasalhadas e agasalhem outras! será difícil neste brasil perdido de si mesmo.

mas antes que esqueça; no retorno conseguimos furar três pneus da rural. e chegamos direto no jornal na manhã de começar o plantão. suados, sujos, cansados. sem ter tempo para um banho ingressamos na rotina da apuração. naquele tempo borracheiros na estrada era luxo . lembro de tião rolando pneu na estrada procurando socorro. é.... o brasil, não é amigo? um dia foi brasileiro. foi?
Posted by pparafusos at 8:56 PM | Comments (2)

Um comentário:

Jorge Carrano disse...

Quem passou pela vida em branca nuvem
E em plácido repouso adormeceu
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu...
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida e não viveu...
Francisco Otaviano