sexta-feira, novembro 28, 2003

"o velho jornalista".

com esta lembrança lilian pestre que está morando, trabalhando em portugal , frança e cercanias parece me dizer, no e-mail enviado, que a dignidade e talvez a coragem está restrita aos velhos que ainda militam na mídia. esta, sempre esteve comprometida com o poder pois dele depende para sua sobrevivência.

não esqueceremos nunca niomar muniz sodré que com seu "correio da manhã" ousou durante a ditadura narrar como podia na época, usando linhas truncadas, recados passados através da previsão do tempo... os desmandos dos militares. e também o jb que, me parece, perdeu a concessão de um canal de televisão por não cooptar com a ditadura.

os velhos dos meios de comunicação nos alentam com sua coerência, sua visão atormentada das barganhas que fatiam a nossa alma e testemunham como morreu a esperança de um povo.


goteiras no teto



Vilas Boas Corrêa


Com duas crises de choro da coerência da brava senadora petista Heloisa Helena, recuos nos acertos e promessas, barganhas no atacado e no varejo, por baixo do pano ou com a cara limpa do descaro, o presidente Lula e sua
base reforçada de apoio parlamentar comemoraram a aprovação, no Senado, da reforma da Previdência Social - ou do que dela sobrou, depois de picotada por remendos para atender ao naco da oposição que bateu o martelo no leilão
de votos.

O governo certamente tem razões para festejar com os dedos salvos, sem os anéis que enfeitavam a bandeira da estrela vermelha do PT.

Desde a véspera, cantando a vitória certa, Lula encaixou, no longo improviso em que apresentou, a mil e 200 pescadores e ao país, o ministro da Pesca, José Fritsch, e celebrou a aprovação do projeto de lei que amplia os benefícios do seguro-desemprego para a categoria, um rasgado elogio ao Congresso, pedindo o reconhecimento para ''o trabalho sério que a Câmara e o Senado fizeram até agora''. No embalo da animação, puxou uma salva de palmas dos surpreendidos pescadores para os abnegados parlamentares.

Com a língua solta na fluência de veterano militante sindical, é difícil controlar as palavras e não avançar os limites da objetividade.

Ressalve-se, em desculpa arrancada a saca-rolha, que o presidente não é o único envolvido pelo manto da hipocrisia, no festival da aprovação da primeira das reformas da longa pauta dos compromissos de campanha.

No embrulho da sangria dos inativos, premiados com a taxação de 11% das aposentadorias e pensões milionárias, acima de R$ 1.440 para o funcionalismo federal e R$ 1.200 para os estaduais e municipais, e de algumas podas nas
mordomias dos barnabés, a minirreforma penitencia-se com a medida de moralização da fixação do teto e dos subtetos para os três poderes.

Antes de nova salva de palmas da gratidão presidencial, vamos tentar colocar as coisas nos seus devidos lugares. O funcionário da União não pode ganhar mais do que o salário de R$ 17.170 do ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF). Parece muito diante do baixo nível dos salários da imensa maioria, mas representa um grande avanço no corte dos desatinos dos marajás, que acumulam gratificações, vantagens e mutretas, com a generosa colaboração da
Justiça. Há casos espantosos de salários, aposentadorias e pensões acima de R$ 50 mil.

E se o Judiciário e o Executivo levarem a sério a faxina na orgia dos privilegiados, certamente que o Congresso merece aplausos pela severidade ética do que aprovou, para os outros.

Mas, no jogo de dois pesos e duas medidas, o Legislativo facilita até onde não pode a vida para os seus servidores, com média salarial que humilha a massa dos deserdados do Executivo e, atento à norma de ouro de Mateus, sabe
cuidar dos seus.

O teto para os senadores e deputados federais e o subteto para deputados estaduais e vereadores é uma mistificação notória, sabida e consentida pela impostura dos beneficiados e pela complacência dos outros poderes.

Claro, a turma sabe fazer as coisas, apelando para truques que entre profissionais, se descobertos, costumam provocar a virada da mesa, com sopapos, tiros e facadas.

Convenhamos, a mágica é de circo mambembe de roça. Suas excelências aplicam a malandragem de restringir o teto à cobertura dos subsídios, que obedecem, respeitosamente, aos R$ 17.170 do salário dos ministros do STF. Sempre se dá
um jeito de triplicar o fixo com as convocações extraordinárias, o início e fim da sessão legislativa, que engordam a conta bancária com o depósito equivalente a três subsídios mensais.

Sobre o fixo, de cara amarrada, descontam para o imposto de renda. O maná é o por fora, aqui tantas vezes comentado, da penca de vantagens, benefícios, verba de R$ 35 mil para contratar assessores para gabinetes individuais, mais R$ 12 mil de verba indenizatória, a jóia da coroa da criatividade
marota, para as despesas de fim de semana nas suas bases familiares; verba para telefone, correios, auxílio-moradia ou apartamentos funcionais, quatro passagens aéreas semanais para o Estado e uma para turismo no Rio, além das
miçangas de prata das viagens internacionais com diárias de rico. Por baixo, um ganho cima de R$ 80 mil mensais.

A farra espalhou-se pelos Estados, com adesão das
Assembléias Legislativas, e chegou aos municípios, copiada pelas Câmaras de Vereadores.

Só não comove nem preocupa o governo, nem merece a atenção do Judiciário. Alguns parlamentares apresentaram proposta de corte dos exageros indecorosos, em iniciativa louvável, embora simbólica.

E se Lula cala, o PT não está nem aí. Ou até está: enterrado na geléia. E lambe os beiços.

villasbc@unisys.com.br

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