quarta-feira, agosto 31, 2005



no quartel d'abrantes



hoje como dantes



servidores da câmara e do senado terão reajuste salarial de 15% porque derrubaram o veto do presidente Lula ao aumento. agora o congresso tudo pode, é dono da moral e do Brasil. é ele que com dedo em riste aponta o governo corrupto do pt. é ele, o pfl, o psdb, o ptb, o pl o pp, são eles! que aumentam seus próprios salários à revelia e que agora concederão reajuste também ao judiciário. interessante isto não? se não é o congresso que controla a política econômica e que nem quer saber do impacto deste aumento nas contas públicas por que ele, logo ele, votou favorável à emenda da previdência que permitiu ao executivo quebrar uma lei pétra da constituição com apoio do judiciário? lembro de na ocasião ter ouvido a proba juíza denise frossard dizer: voto à favor do desconto dos aposentados pois sei que no judiciário esta lei não pode passar. e passou! então, se não era para passar, e no caso devia considerar uma afronta às leis, por quer participou do voto partidário?

ora, ora, lembram que chamávamos antonio carlos magalhães de tonico malvadeza? e hoje lá está ele na primeira fila, indignado . isto depois de ter fraudado o painel de votações do senado no reinado de fernando henrique cardoso! um pingo desta lama acabou de cair sobre meus olhos. o brasil é um pântano. os funcionários públicos federais do executivo sabe quanto receberam de aumento salarial votado por estes mesmos santos congressitas? 0,1%. e que ainda não foi pago pois não encontraram tempo para aprovar o documento do governo. gente, se tudo não fosse tão trágico, riria. com o risco de meu riso vir carregado de vômito.

lembro do padre enoq que no sertão baiano desenvolvia um movimento de lembrança ao antonio conselheiro, uma busca pelo ideal que simbolizou canudos. um dia, atemorizado, precisou sumir. teria na sua cola o então governador da bahia, antonio carlos magalhães. no fundo ele deve ser até uma pessoa simpática para cair nas graças de dona canô que é mãe de nossos doces bárbaros. realmente, eu que nestes anos todos bato no Lula devo ter pirado total para hoje tomar sua defesa. não a dele, entendam, mas a da democracia. não deu com ele? outro acertará a mão! mas ver estas velhas raposas novamante em ronda ao galinheiro me apavora. mais ainda ao saber que nós, povo, somos as galinhas. é ...hoje como dantes no quartel de abrantes!





terça-feira, agosto 30, 2005




para lembrar e pensar


O BRASIL ESTÁ ENVOLVIDO EM UMA DAS PIORES CRISES DA SUA HISTÓRIA, SIM; O MAR DE LAMA ESTÁ GRANDE, SIM; O PT ESTÁ INFESTADO POR CORRUPTOS, QUE DEVEM SER PUNIDOS, SIM!


MAS, SENTIR SAUDADES DE FHC, DOS TUCANOS, DO PFL E DE TODA ESSA CORJA QUE GOVERNOU O BRASIL ATÉ 31/12/2002??!! AÍ, É DEMAIS...

ENGRAÇADO COMO ANTIGAMENTE TODOS OS PROCESSOS CONTRA O FHC ERAM ARQUIVADOS PELO PGR GERALDO BRINDEIRO, O HOMEM ENGAVETADOR, COMO ERA CONHECIDO... TODAS AS CPI'S VIRARAM PIZZA.

ENGRAÇADO COMO A POLÍCIA FEDERAL NÃO FAZIA QUASE NENHUMA OPERAÇÃO, POIS ERA IMPEDIDA PELA CÚPULA DO GOVERNO FHC; ENGRAÇADO COMO O JADER BARBALHO, MESMO APÓS ALGUNS ESCÂNDALOS LIGADOS AO BANCO DA AMAZÔNIA, O ESCÂNDALO DAS PERERECAS (RÃS) DE SUA MULHER... FOI INDICADO PARA A PRESIDÊNCIA DO SENADO, POR DUAS VEZES, PELO FHC.

ENGRAÇADO COMO A ROSEANA SARNEY DEU SEIS DESCULPAS DIFERENTES PARA A ORIGEM DOS MILHÕES QUE ESTAVAM NO COFRE DA EMPRESA LUMUS ( DE SEU MARIDO JORGE MURAD) E NINGUÉM FALOU NADA, NEM CPI ACONTECEU;

ENGRAÇADO COMO O FHC COMPROU DEZENAS DE VOTOS PARA GARANTIR A SUA REELEIÇÃO POR R$ 200.000,00 CADA... E A CPI FOI, MAIS UMA VEZ, ENGAVETADA.

Sem falar do caso do Eduardo Jorge. lembra? (acredito que não)


ENGRAÇADO COMO, POR ORDEM DO FMI, O FHC ENXUGOU E QUASE MATOU O FUNCIONALISMO PÚBLICO NOS 8 ANOS EM QUE ESTEVE NO PODER, SEM R$1 DE AUMENTO!

E NINGUÉM FALA NADA!!??


ENGRAÇADO COMO O GOVERNO DIZIA NÃO TER DINHEIRO PARA O AUMENTO DO FUNCIONALISMO, MAS EMPRESTAVA MILHÕES PARA SALVAR OS BANQUEIROS. LEMBRAM DO PROER? INCLUSIVE O CACCIOLA, QUE ESTÁ NA ITÁLIA...


ENGRAÇADO COMO O FHC LIQUIDOU TODAS AS NOSSAS EMPRESAS ESTATAIS COM A DESCULPA DE PAGAR A DÍVIDA PÚBLICA E, ALÉM DE NÃO PAGAR, DEIXOU QUE ELA QUINTUPLICASSE; E SÓ NÃO LIQUIDOU O BRASIL COM A ALCA PQ O PSDB / PFL NÃO GANHARAM AS ELEIÇÕES.


ENGRAÇADO COMO TODOS RECLAMAM DOS REAJUSTES DAS CONTAS DE LUZ E TELEFONE DE HOJE EM DIA E SE ESQUECEM DE QUE QUEM DEIXOU QUE OS REAJUSTES FOSSES FEITOS PELO MAIOR ÍNDICE EXISTENTE (FGV)FOI O FHC.



ISSO TUDO É ENGRAÇADO?



NÃO... É TRÁGICO... TRÁGICO É TER COMO OPOSIÇÃO PARTIDOS E PESSOAS DO PFL, PSDB, PPB; COMO ACM NETO, MICHEL TEMER, RODRIGO MAIA, ROBERTO JEFFERSON, COMO FIÉIS ESCUDEIROS DA POPULAÇÃO, MARCA DE HONESTIDADE E MORAL...

E O PIOR DE TUDO É VER QUE REALMENTE TEMOS MEMÓRIA FRACA.

ALIÁS, NEM MEMÓRIA TEMOS, PORQUE ESSES FATOS ACONTECERAM HÁ POUCOS ANOS... SÓ PARA CONVOCAR AS LEMBRAÇAS:

Fraude no painel do senado, compra de votos para reeleição, Proer

(ajuda a bancos que deviam pro governo),SIVAN, liquidação das empresas estatais (privatizações), Banestado, Banco Marka
(Cacciola), Fonte Sindam, (remessa de dólares para o exterior), engavetamento de diversos processos, etc, etc, etc...




AVISO: ROBERTO JEFFERSON NÃO É HERÓI, ELE FEZ UM BEM AO BRASIL AO DENUNCIAR TODA A SUJEIRA, MAS ISSO NÃO O ISENTA DA SUA HISTÓRIA CORRUPTA, DE ROUBOS E ESQUEMAS ANTIGOS. Aliás ele fez as delações por vingança... Lembra?

O PFL, O PSDB E A TURMA DE FHC PARECE QUE FIZERAM RECONSTRUÇÃO DE HÍMEN! SÃO TODOS VIRGENS DE LADROAGEM, AGORA...



LUTEMOS PELA MUDANÇA, PELA EXPURGAÇÃO DESSES CÂNCERES QUE HÁ SÉCULOS ESTÃO ENTRANHADOS NA NOSSA POLÍTICA. NÃO FAÇAM VOLTAR AO PODER AS MESMAS RAPOSAS VELHAS QUE TÊM UMA CONTRIBUIÇÃO, MUITO MAIOR DO QUE O PT, PARA O LAMAÇAL QUE HÁ MUITO TEMPO TOMOU CONTA DO PAÍS. NÃO QUE ISTO JUSTIFIQUE OS ERROS DO PT, TERÁ DE SER PUNIDO. MAS NOS ALERTA QUE ELES SE REPETIRÃO SEMPRE SE AS CONTAS NÃO FOREM AJUSTADAS AGORA. COMO AS CAIXAS DOIS SEMPRE EXISTIRAM NO PASSADO.

LUTEMOS PELO FIM DA IMPUNIDADE. NÃO IMPORTA SE O CORRUPTO JOGA PELA DIREITA OU PELA ESQUERDA... ELE TEM DE SER
EXPULSO DESSE JOGO!



AMIGOS, SOMOS FORMADORES DE OPINIÃO, NÃO PODEMOS DEIXAR QUE ESTES INDIVÍDUOS MANIPULEM A MEMÓRIA DE NOSSO POVO (OU A FALTA DELA). É SEM DÚVIDA UMA VERGONHA O QUE ESTÁ ACONTECENDO, MAS É BOM LEMBRAR QUE ESTES CANALHAS QUE HOJE DEFENDEM A "ÉTICA" SEMPRE ESTIVERAM ENVOLVIDOS, DE ALGUMA FORMA, NO MÍNIMO COM CONCHAVOS DO TIPO "É DANDO QUE SE RECEBE".











Pela radicalização democrática e contra a desestabilização do governo Lula

O que nós, abaixo assinados, temos em comum é uma viva esperança no processo de transformação democrática da sociedade brasileira, aliada a uma saudável descrença em relação à democracia representativa. Descrença por considerar que seus ritos e mentiras funcionam na base da limitação da própria democracia; e por acreditar também que não há democracia sem sujeitos e movimentos capazes de renovar e materializar diariamente suas bases constituintes.

caso deseje assine o documento de viva esperança da universidade nômade aqui: Adesão ao manifesto "Pela radicalização democrática e contra a desestabilização do governo Lula"

segunda-feira, agosto 29, 2005


ao continuar a conversa sobre petróleo manoel carlos, do agreste sugere medidas básicas para organização de energia e transporte.


Ao Brasil faltam políticas públicas estratégicas.
Por exemplo: política de transporte; sendo um país com imenso litoral, não há transporte marítimo, aliás, entre os diversos crimes de FHC está a liqüidação do Loyd Brasileiro. Também não tem ferrovias, mesmo sendo um país continental; nem mesmo transporte fluvial, a não ser o feito por antigas embarcações no São Francisco ou remanescentes das práticas indígenas na Amazônia.
A prioridade dada ao transporte rodoviário (apenas rentável para distâncias inferiores a 40 km) tem reflexos na energia, no caso o combustível.
Para piorar, falta política energética.
Ainda temos uma boa matriz energética (à base de hidrelétricas), faltam soluções locais, com sustentabilidade sócio-ambiental; neste caso, a prioridade seria o investimento em hidrelétricas de pequeno porte ou energia fotovoltaica, eliminando-se, gradatavimante, a caríssima transmissão, focando a geração-distribuição.
Enfim: esta discussão não cabe num comentário.


vamos continuar, então manoel, num debate no cb, condomínio brasil.com. que tal?


do site português http://resistir.info/, convidado que foi por mim a falar do assunto petróleo em extinção recebi este email de Jorge Figueiredo, um de seus editores.

Cara Esther:
Estou fora de Portugal neste momento e so' a partir de 8 de Setembro poderei atendê-la com a atenção necessária.
Se tiverem questõees com bom nivel científico e que já não estejam respondidas no material publicado podem enviá-las.
Tentarei responder a partir daquela data. Chamo a atençao para a minha comunicação aa Conferência de Serpa, que faz um resumo geral da situação. Chamo a atenção também para a nossa página de links, onde há uma secção de links dedicada a temas de energia.
Saudações cordiais do
Jorge Figueiredo

leia aqui o artigo a que se refere jorge figueiredo A GRANDE TRANSIÇÃO DE FASE


A grande transição de fase

Jorge Figueiredo

As transições de fase são sempre críticas. Nos momentos das transições as leis a que estamos habituados deixam de funcionar e os fenómenos adquirem comportamentos inusitados. Durante a passagem da água do estado líquido para o gasoso as leis que actuam já não são as da física do estado líquido nem tão pouco as do estado gasoso. São outras, não tão bem conhecidas. E, de um ponto de vista antropomórfico, aparece-nos como caos aquilo que não tem leis que conheçamos e onde a previsibilidade (mesmo estatística) fica comprometida.

Estas considerações valem também para as ciências sociais. A humanidade parece estar prestes a entrar numa gigantesca transição de fase. Isto significa que o mundo que conhecemos deixará de ser como é hoje. Não me refiro ao possível colapso do modo de produção capitalista, para o qual não se podem marcar datas. Refiro-me a outro fenómeno, de natureza física e para o qual se podem prever datas de modo razoavelmente preciso. Trata-se de outro colapso: o da morte, já anunciada, do petróleo. Isto marca o fim de uma era.

Os dados do problema são razoavelmente conhecidos, graças sobretudo a importantes trabalhos de investigação como os de Collin Campbell, Jean Laherrere e outros. O petróleo recuperável é um recurso finito e a humanidade já atingiu ou está prestes a atingir o pico da sua produção. A curva inventada pelo grande geofísico norte-americano King Hubber, a Curva de Hubbert, é inexorável. A partir do pico, daí em diante, a produção declinará assintoticamente até chegar ao final. O fim do petróleo está, assim, no horizonte. É impossível que por um tempo indefinido a humanidade continue a gastar loucamente, tal como agora, 82 milhões de barris/dia (=~30 x 109 barris/ano).


Não me preocuparei, aqui, em descrever os dados quantitativos relativos a estes problemas. Hoje - apesar da muralha de silêncio erguida durante muitos anos por governos, monopólios petroleiros e organizações tais como a Agência Internacional de Energia, a União Europeia, etc - começa a haver literatura de bom nível a respeito. Quem quiser estudá-la dispõe dos trabalhos da Association for Study of Peak Oil (ASPO), do Oil Depletion Analysis Centre (ODAC), de Jay Hanson e de outros investigadores. O foco desta comunicação não é repetir aquilo que já foi dito e sim uma tentativa de imaginar, em termos qualitativos, as possíveis consequências para a humanidade da transição entre a era do petróleo e uma outra era que, na falta de melhor definição, chamaremos do pós-petróleo. Tal transição é ainda mais complicada pela actual fase do capitalismo, que poderíamos chamar de senil, em que este adquire um carácter predatório e de uma irracionalidade absoluta quanto a fins (embora possa ser racional para atingir fins irracionais).

Admitamos que o fim do petróleo seja para, digamos, daqui a 50 anos (para efeitos desta análise, não importa se um pouco mais ou um pouco menos pois isso não iria alterá-la). Imaginemos então o raciocínio de um desses yuppies forjados pela ideologia neoliberal, indivíduos extremamente individualistas e imbuídos de um forte egoísmo - geracional inclusive. Se este yuppie for for mal informado, ele encolherá os ombros e dirá: pouco importa, isso não afecta a mim nem à minha geração e será um problema para os vindouros. Trata-se no entanto de um gravíssimo erro, fruto da ignorância deste yuppie curto prazista. Na verdade, os efeitos do fim da era do petróleo far-se-ão sentir muito antes de o último barril ter sido extraído da terra. Eles poderão ser experimentados em prazos tão curtos como meia dúzia de anos (pois muitos analistas consideram que a Curva de Hubbert está agora num plateau que será rompido por volta de 2008).

A primeira consequência a ser sentida manifestar-se-á da forma mais óbvia, com a actuação da tesoura dos preços. Ali Bakhtiar, investigador iraniano e criador do modelo World Oil Production Capacity (WOCAP), estima que dentro de dois anos (até 2006) o preço do barril poderia atingir os US$125. Ou seja, uma previsão de triplicação do preço actual do barril mesmo antes do fim do "planalto" previsto para 2008.

Outra consequência que, apesar da enxurrada de desinformação despejada pelas organizações internacionais e pelos media corporativos, quase toda a gente percebe de imediato é ao nível geopolítico. O início do fim do petróleo intensifica a luta do imperialismo para se apossar das últimas reservas remanescentes no planeta. A guerra de conquista que se trava agora no Afeganistão e no Iraque, a ameaça de outras (Irão, Colômbia, Ásia Central, etc), a tomada de controle das reservas de outros países (África, América Latina), etc, a rivalidade entre o imperialismo americano e o sub-imperialismo europeu, o peso relativo da produção da OPEP versus o da não-OPEP, etc, tudo isso está a acontecer diante de nós neste momento (o défice de compreensão disto entre milhões de pessoas do mundo deve-se à desinformação dos media corporativos). No entanto, a dimensão geopolítica do problema já é razoavelmente conhecida e a opinião pública qualificada compreende-a bem. Há, no entanto, outras espécies de consequências, talvez mais fundas, que não são imediatamente perceptíveis. Refiro-me ao actual modelo mundial de produção e de distribuição de mercadorias.

Comecemos pelo lado da distribuição. Desde Adam Smith elaborou-se o programa - digo muito bem, "programa" e não "teoria - da divisão internacional do trabalho. Ele vem sendo aplicado há um par de secúlos. Durante as décadas do pós-guerra o Banco Mundial e o FMI impuseram uma divisão internacional que forçava os países subdesenvolvidos a se especializarem na produção de determinados produtos a fim de exportarem e assim obterem divisas duras para pagar: 1) o serviço da dívida; 2) o consumo perdulário das suas classes dominantes locais e 3) a importação de comida para os seus povos. Com base nessa política, tais países abandonaram (ou foram forçados a abandonar) preocupações com a auto-suficiência alimentar. Argumentava-se que era mais barato importar os alimentos do que produzi-los internamente. Assim, inúmeros países da África e América Latina especializaram-se nas produções de exportação (agrobusiness, petróleo, café, carne, minérios metálicos, frutas, etc) e deixaram de estar em condições de alimentar as suas próprias populações. Nessa altura, será de perguntar, o que acontecerá quando a alta dos custos dos transportes internacionais puser em causa o actual modelo globalizado de distribuição, em que as mercadorias têm de vencer distâncias de milhares de quilómetros? O que acontecerá quando o custo da tonelada transportada se tornar astronómico? Tudo indica que ele será posto em causa, pois não será sustentável. O que aconteceria então? Uma resposta tentativa: Seria de prever um retorno à teoria - provada ao longo de milénios - da auto-suficiência alimentar dos países. Trata-se de teoria intuitiva e cheia de bom senso que foi brutalmente destruída pelo capital (Cuba, com a sua experiência pós-1989, poderia nessa altura dar lições ao mundo). Mas terá este sistema a inteligência, a racionalidade e a vontade de promover uma tal alteração que vai ao arrepio das teorias em vigor e dos interesses dominantes? Um eventual retorno à filosofia da auto-suficiência alimentar significaria, só por si, uma autêntica revolução nas relações de distribuição oligopolizadas que regem o mundo de hoje. É de prever que o capital monopolista combata ferozmente tal saída, fazendo todo o possível e imaginável para impedir a adopção de tal caminho.

O problema do transporte será verdadeiro igualmente no plano da distribuição dentro de cada país. Até mesmo com preços do barril a nível "normal" actualmente já há países na África que não dispõem de recursos sequer para importar refinados de petróleo. Tal situação poderá estender-se a outros países não-produtores de petróleo, africanos ou não. Pode-se imaginar que as dificuldades de transporte tendam a levar a localismos da produção dentro de cada país, com prováveis retrocessos iniciais a nível da produtividade (métodos mais primitivos, etc). As relações cidade-campo ficarão igualmente afectadas, o campo terá dificuldade em alimentar as cidades "inchadas" do mal chamado Terceiro Mundo.

Do lado da produção, as consequências têm um carácter tão multifacético e complexo que é difícil prever o que poderia vir a ser a resultante final. Ainda que sumariamente, sem pretender fazer futurologia, podem-se imaginar algumas das possíveis consequências:
Na agricultura, verifica-se que a de tipo intensivo (o chamado agrobusiness) repousa em inputs que tem origem no petróleo - é o caso dos fertilizantes azotados, dos pesticidas e fungicidas, do combustível para a maquinaria agrícola, etc. Assim, a escassez do petróleo tenderá a reduzir a produtividade do trabalho e o rendimento proporcionado pela terra. E isto ocorreria com mais intensidade em terras "velhas", que há muitas gerações estão a produzir e cuja fertilidade só pode ser reposta por meios artificiais. Há quase 200 anos a humanidade está retirar fertilizantes da terra e a lançá-los fora nos esgotos das cidades.
No caso da agricultura de pequena escala o panorama, naturalmente, seria menos grave do que na primeira. No entanto, falta saber em que medida poderia esta produzir um excedente suficiente para repor as perdas da intensiva. As relações de propriedade certamente terão de mudar para permitir o acesso à terra a milhões de novos agricultores.
São admissíveis igualmente consequências demográficas, tanto a nível da taxa de crescimento populacional como da distribuição espacial das populações - uma des-urbanização, com um retorno ao campo a fim de cultivar a terra. A proporção actual dos países desenvolvidos, em que 10% da população alimenta os 90% restantes, provavelmente não poderá ser mantida. Mais gente terá de dedicar-se à agricultura.
A indústria será afectada de modo directo, principiando naturalmente pelas mais "energívoras". A obsolescência de parte do parque industrial mundial será uma possibilidade forte, com o sucateamento de muitas delas (refinarias de petróleo, fábricas de veículos convencionais, etc). Será de admitir o surgimento de tipos de indústrias mais pequenas e energeticamente mais auto-suficientes, na linha preconizada por Schumacher. Não será, portanto, uma volta ao passado histórico pois agora a humanidade dispõe de um acervo de conhecimentos adquiridos que pode ser posto ao serviço da produção em novos moldes (a electrónica é pouco devoradora de energia e pode ser posta ao serviços da produção). Parece certo o desenvolvimento das energias renováveis (solar térmica e fotovoltaica, eólica, marés, ondas, geotérmica, hidroeléctrica, biogás e biomassa, etc), do gás natural (cuja Curva de Hubbert é mais aplainada, mais extensa no tempo e tem um pico menos bem definido) e do nuclear. Parecem menos certas as perspectivas do tão apregoado hidrogénio uma vez que este não é uma fonte primária de energia (os seus defensores, como Rifkin e a União Europeia, ainda não explicaram de onde poderá ele ser extraído, a custos comportáveis, quando acabar o gás natural e o petróleo - para obter hidrogenio da água também se gasta energia!).

Estas pinceladas rápidas, têm um carácter meramente impressionista a fim de dar uma ideia da Transição de Era que está por vir. São apenas exemplos de alterações que podem suceder-se. Mas sejam quais forem elas, a certeza é de que inelutavelmente irão verificar-se enorme alterações no modo de produção e distribuição planetário e nada será como dantes.

Temos portanto uma crise anunciada e até datada (muitos analistas prevêem o fim do actual "planalto" da Curva de Hubbert por volta de 2008) e outra anunciada mas não datada: o possível desenlace da crise do modo de produção capitalista num (sempre adiado) colapso sistémico.

Os temas aflorados acima constituem modificações que se podem considerar mais gigantescas do que a Revolução Industrial no século XIX, com a invenção da máquina a vapor. Esta foi uma Revolução muito localizada no espaço (Grã-Bretanha) e que só muito lentamente, ao longo de mais de cem anos, difundiu-se pelo resto do mundo (mesmo assim nem todo, pois ainda hoje a industrialização não chegou a imensas áreas do mundo). Em contra-partida, o fim da Era do Petróleo afectará o mundo todo e de uma forma síncrona: a escassez de petróleo atingirá todos e ao mesmo tempo.

Estamos a falar de alterações decisivas para o futuro da humanidade, que comprometem a sua existência. Por isso, é espantoso que a maior parte dos responsáveis - a começar pelos ditos "estadistas" (se ainda existem), pelos media e por entidades como a Agência Internacional de Energia da OCDE - ignore um problema desta escala e desta magnitude, um problema que põe em causa as bases de funcionamento da sociedade. Pior: muitas vezes tal problema não só é ignorado como é também negado, numa autêntica política do avestruz.

Durante anos a fio os monopólios petroleiros, organizações estatais (como o US Geological Survey), organizações internacionais (como o Banco Mundial, a AIE da OCDE, etc) pura e simplesmente ignoraram ou fingiram ignorar o problema a fim de não contrariar os interesses estabelecidos. Para indivíduos imbuídos da ideologia neoliberal, a actuação predatória sobre os recursos naturais em benefício do capital é algo "normal". É assim que se dizimam de modo irreversível as florestas do mundo todo, que se esgotam os lençóis freáticos de água doce, que se contaminam terras e águas com explorações mineiras e outras, que se esgotam bancos pesqueiros com capturas que não permitem a reposição de stocks, etc, etc - e que se dizima o petróleo de uma forma bárbara ao ritmo de 82 milhões de barris/dia (4,1 mil milhões de toneladas/ano). A nova moda nos EUA são os chamados Sport Utility Vehicles (SUVs), potentes monstros bebedores de gasolina em escala jamais vista antes.

Mas as evidências de esgotamento que se acumularam foram tantas que aqueles que preferiam ignorar o problema tiveram de ensaiar respostas. Surgiram assim os "negacionistas", com as suas falácias. Uma das espécies de negacionistas é a dos economistas vulgares, de visão curta mas cheios de certezas dogmáticas. O seu negacionismo repousa na teoria neoclássica. Dizem eles que o deus mercado tudo regulará, pois trata-se apenas uma questão de preços. Assim, se a procura ultrapassar a oferta haverá "simplesmente" um reajustamento de preços. Isto significa que aqueles que puderem pagar os novos preços poderão continuar a queimá-lo de forma perdulária. Mas eles nada dizem o que se passaria quanto aos outros que não puderem pagar muitas vezes mais o preço actual - os quais constituirão a maior parte da espécie humana. Os exemplos actuais de pauperização de continentes inteiros (África, América Latina) não auguram nada de bom.

Outro tipo de negacionista é o dos que ostentam uma fé ilimitada no progresso tecnológico. Tal tipo de negacionista é muito frequente sobretudo entre aqueles que nada sabem de ciências, mas transferem para esta a resolução do problema. Este tipo de negacionista é muito encontrável entre políticos, sobretudo chefes de Estado. A sua vontade de conhecer os problemas reais já não é muito grande e, além disso, organizações internacionais como a União Europeia e a OCDE contribuem para mistificá-los - e por vezes induzem-nos à adopção de soluções equívocas mas que favorecem interesses de monopólios. Na verdade não há soluções tecnológicas prontas que possam no médio prazo e em grande escala vir a substituir o petróleo. Aqueles que dizem não pretender a gasolina e sim o "serviço" proporcionado pela gasolina e que o mesmo serviço poderia ser proporcionado por menor quantidade de gasolina (ou por outro combustível alternativo) estão a cair na utopia tecnológica. E aqueles que falam na pseudo-solução dos biocombustíveis auto-enganam-se com esta falácia pois, mesmo sem pensar nos custos, a terra agriculturável não é infinita.

Ainda há outros tipos de negacionistas, como aqueles que acreditam piamente (ou fingem acreditar) nas estatísticas públicas sobre reservas provadas, prováveis e possíveis, descobertas, produções, etc. Mas grande parte dessas estatísticas tem de ser expurgada de dados espúrios, introduzidos em função dos interesses daqueles que as produzem. Talvez acordem quando se revelarem verdades escondidas durante muito tempo, como por exemplo que o maior campo de petróleo do mundo (Ghawar, na Arábia Saudita) já atingiu o seu pico e, mesmo utilizando técnicas de recuperação secundária, principia a declinar. Ou que a fase de declínio já atingiu igualmente o segundo maior campo do mundo (Cantarell, no México), cuja produção principiou em 1979.

- x -

Camaradas e amigos:

Não tenho gosto em ser Cassandra. Não pretendo fazer terrorismo energético. Pretendo apenas despertar as atenções para um problema que, até agora e na generalidade, tem sido silenciado. A humanidade tem o direito e o dever de ser informada do que está para acontecer. O debate precisa ser lançado. A confluência da crise do capitalismo na sua fase senil com a crise do petróleo não poderá deixar de ter repercussões fortíssimas sobre a humanidade. Mas não está pré-determinado como será o desenlace destas crises. Há muitas soluções possíveis e factíveis, há muitos futuros possíveis. Se o actual modo de produção e distribuição fosse racional e justo, tentaríamos poupar ao máximo o petróleo ainda existente e efectuar de modo tão suave quanto possível a transição para o mundo pós-petróleo. Mas o modo de produção e distribuição capitalista nada tem de racional nem de justo. Assim, são de prever grandes embates entre povos do mundo todo e os monopólios que os dominam. Em alguns lugares do mundo surgirão situações revolucionárias, mas elas só poderão ser aproveitadas se os povos e as suas vanguardas estiverem preparados para a ruptura com o imperialismo e a tomada do poder - caso contrário, será o imperialismo a impor as suas "soluções", com um carácter retrógrado e agravador dos problemas. Trata-se de uma corrida contra o tempo. O desenlace terá um carácter revolucionário ou fascizante. O desafio é terrível. Para enfrentá-lo é imperioso elevar o nível de consciência daquilo que está em causa. Posições recuadas e "possibilismos" só levam à derrota.

__________
[*] Comunicação ao Encontro Internacional "Civilização ou Barbárie", Serpa, 23-25/Set/2004.


ao continuar a conversa sobre petróleo manoel carlos, do agreste sugere medidas básicas para organização de energia e transporte.


Ao Brasil faltam políticas públicas estratégicas.
Por exemplo: política de transporte; sendo um país com imenso litoral, não há transporte marítimo, aliás, entre os diversos crimes de FHC está a liqüidação do Loyd Brasileiro. Também não tem ferrovias, mesmo sendo um país continental; nem mesmo transporte fluvial, a não ser o feito por antigas embarcações no São Francisco ou remanescentes das práticas indígenas na Amazônia.
A prioridade dada ao transporte rodoviário (apenas rentável para distâncias inferiores a 40 km) tem reflexos na energia, no caso o combustível.
Para piorar, falta política energética.
Ainda temos uma boa matriz energética (à base de hidrelétricas), faltam soluções locais, com sustentabilidade sócio-ambiental; neste caso, a prioridade seria o investimento em hidrelétricas de pequeno porte ou energia fotovoltaica, eliminando-se, gradatavimante, a caríssima transmissão, focando a geração-distribuição.
Enfim: esta discussão não cabe num comentário.


vamos continuar, então manoel, num debate no cb, condomínio brasil.com. que tal?


do site português http://resistir.info/, convidado que foi por mim a falar do assunto petróleo em extinsão recebi este email de Jorge Figueiredo, um de seus editores.

Cara Esther:
Estou fora de Portugal neste momento e so' a partir de 8 de Setembro poderei atendê-la com a atenção necessária.
Se tiverem questõees com bom nivel científico e que já não estejam respondidas no material publicado podem enviá-las.
Tentarei responder a partir daquela data. Chamo a atençao para a minha comunicação aa Conferência de Serpa, que faz um resumo geral da situação. Chamo a atenção também para a nossa página de links, onde há uma secção de links dedicada a temas de energia.
Saudações cordiais do
Jorge Figueiredo

leia aqui o artigo a que se refere jorge figueiredo A GRANDE TRANSIÇÃO DE FASE


A grande transição de fase

Jorge Figueiredo

As transições de fase são sempre críticas. Nos momentos das transições as leis a que estamos habituados deixam de funcionar e os fenómenos adquirem comportamentos inusitados. Durante a passagem da água do estado líquido para o gasoso as leis que actuam já não são as da física do estado líquido nem tão pouco as do estado gasoso. São outras, não tão bem conhecidas. E, de um ponto de vista antropomórfico, aparece-nos como caos aquilo que não tem leis que conheçamos e onde a previsibilidade (mesmo estatística) fica comprometida.

Estas considerações valem também para as ciências sociais. A humanidade parece estar prestes a entrar numa gigantesca transição de fase. Isto significa que o mundo que conhecemos deixará de ser como é hoje. Não me refiro ao possível colapso do modo de produção capitalista, para o qual não se podem marcar datas. Refiro-me a outro fenómeno, de natureza física e para o qual se podem prever datas de modo razoavelmente preciso. Trata-se de outro colapso: o da morte, já anunciada, do petróleo. Isto marca o fim de uma era.

Os dados do problema são razoavelmente conhecidos, graças sobretudo a importantes trabalhos de investigação como os de Collin Campbell, Jean Laherrere e outros. O petróleo recuperável é um recurso finito e a humanidade já atingiu ou está prestes a atingir o pico da sua produção. A curva inventada pelo grande geofísico norte-americano King Hubber, a Curva de Hubbert, é inexorável. A partir do pico, daí em diante, a produção declinará assintoticamente até chegar ao final. O fim do petróleo está, assim, no horizonte. É impossível que por um tempo indefinido a humanidade continue a gastar loucamente, tal como agora, 82 milhões de barris/dia (=~30 x 109 barris/ano).


Não me preocuparei, aqui, em descrever os dados quantitativos relativos a estes problemas. Hoje - apesar da muralha de silêncio erguida durante muitos anos por governos, monopólios petroleiros e organizações tais como a Agência Internacional de Energia, a União Europeia, etc - começa a haver literatura de bom nível a respeito. Quem quiser estudá-la dispõe dos trabalhos da Association for Study of Peak Oil (ASPO), do Oil Depletion Analysis Centre (ODAC), de Jay Hanson e de outros investigadores. O foco desta comunicação não é repetir aquilo que já foi dito e sim uma tentativa de imaginar, em termos qualitativos, as possíveis consequências para a humanidade da transição entre a era do petróleo e uma outra era que, na falta de melhor definição, chamaremos do pós-petróleo. Tal transição é ainda mais complicada pela actual fase do capitalismo, que poderíamos chamar de senil, em que este adquire um carácter predatório e de uma irracionalidade absoluta quanto a fins (embora possa ser racional para atingir fins irracionais).

Admitamos que o fim do petróleo seja para, digamos, daqui a 50 anos (para efeitos desta análise, não importa se um pouco mais ou um pouco menos pois isso não iria alterá-la). Imaginemos então o raciocínio de um desses yuppies forjados pela ideologia neoliberal, indivíduos extremamente individualistas e imbuídos de um forte egoísmo - geracional inclusive. Se este yuppie for for mal informado, ele encolherá os ombros e dirá: pouco importa, isso não afecta a mim nem à minha geração e será um problema para os vindouros. Trata-se no entanto de um gravíssimo erro, fruto da ignorância deste yuppie curto prazista. Na verdade, os efeitos do fim da era do petróleo far-se-ão sentir muito antes de o último barril ter sido extraído da terra. Eles poderão ser experimentados em prazos tão curtos como meia dúzia de anos (pois muitos analistas consideram que a Curva de Hubbert está agora num plateau que será rompido por volta de 2008).

A primeira consequência a ser sentida manifestar-se-á da forma mais óbvia, com a actuação da tesoura dos preços. Ali Bakhtiar, investigador iraniano e criador do modelo World Oil Production Capacity (WOCAP), estima que dentro de dois anos (até 2006) o preço do barril poderia atingir os US$125. Ou seja, uma previsão de triplicação do preço actual do barril mesmo antes do fim do "planalto" previsto para 2008.

Outra consequência que, apesar da enxurrada de desinformação despejada pelas organizações internacionais e pelos media corporativos, quase toda a gente percebe de imediato é ao nível geopolítico. O início do fim do petróleo intensifica a luta do imperialismo para se apossar das últimas reservas remanescentes no planeta. A guerra de conquista que se trava agora no Afeganistão e no Iraque, a ameaça de outras (Irão, Colômbia, Ásia Central, etc), a tomada de controle das reservas de outros países (África, América Latina), etc, a rivalidade entre o imperialismo americano e o sub-imperialismo europeu, o peso relativo da produção da OPEP versus o da não-OPEP, etc, tudo isso está a acontecer diante de nós neste momento (o défice de compreensão disto entre milhões de pessoas do mundo deve-se à desinformação dos media corporativos). No entanto, a dimensão geopolítica do problema já é razoavelmente conhecida e a opinião pública qualificada compreende-a bem. Há, no entanto, outras espécies de consequências, talvez mais fundas, que não são imediatamente perceptíveis. Refiro-me ao actual modelo mundial de produção e de distribuição de mercadorias.

Comecemos pelo lado da distribuição. Desde Adam Smith elaborou-se o programa - digo muito bem, "programa" e não "teoria - da divisão internacional do trabalho. Ele vem sendo aplicado há um par de secúlos. Durante as décadas do pós-guerra o Banco Mundial e o FMI impuseram uma divisão internacional que forçava os países subdesenvolvidos a se especializarem na produção de determinados produtos a fim de exportarem e assim obterem divisas duras para pagar: 1) o serviço da dívida; 2) o consumo perdulário das suas classes dominantes locais e 3) a importação de comida para os seus povos. Com base nessa política, tais países abandonaram (ou foram forçados a abandonar) preocupações com a auto-suficiência alimentar. Argumentava-se que era mais barato importar os alimentos do que produzi-los internamente. Assim, inúmeros países da África e América Latina especializaram-se nas produções de exportação (agrobusiness, petróleo, café, carne, minérios metálicos, frutas, etc) e deixaram de estar em condições de alimentar as suas próprias populações. Nessa altura, será de perguntar, o que acontecerá quando a alta dos custos dos transportes internacionais puser em causa o actual modelo globalizado de distribuição, em que as mercadorias têm de vencer distâncias de milhares de quilómetros? O que acontecerá quando o custo da tonelada transportada se tornar astronómico? Tudo indica que ele será posto em causa, pois não será sustentável. O que aconteceria então? Uma resposta tentativa: Seria de prever um retorno à teoria - provada ao longo de milénios - da auto-suficiência alimentar dos países. Trata-se de teoria intuitiva e cheia de bom senso que foi brutalmente destruída pelo capital (Cuba, com a sua experiência pós-1989, poderia nessa altura dar lições ao mundo). Mas terá este sistema a inteligência, a racionalidade e a vontade de promover uma tal alteração que vai ao arrepio das teorias em vigor e dos interesses dominantes? Um eventual retorno à filosofia da auto-suficiência alimentar significaria, só por si, uma autêntica revolução nas relações de distribuição oligopolizadas que regem o mundo de hoje. É de prever que o capital monopolista combata ferozmente tal saída, fazendo todo o possível e imaginável para impedir a adopção de tal caminho.

O problema do transporte será verdadeiro igualmente no plano da distribuição dentro de cada país. Até mesmo com preços do barril a nível "normal" actualmente já há países na África que não dispõem de recursos sequer para importar refinados de petróleo. Tal situação poderá estender-se a outros países não-produtores de petróleo, africanos ou não. Pode-se imaginar que as dificuldades de transporte tendam a levar a localismos da produção dentro de cada país, com prováveis retrocessos iniciais a nível da produtividade (métodos mais primitivos, etc). As relações cidade-campo ficarão igualmente afectadas, o campo terá dificuldade em alimentar as cidades "inchadas" do mal chamado Terceiro Mundo.

Do lado da produção, as consequências têm um carácter tão multifacético e complexo que é difícil prever o que poderia vir a ser a resultante final. Ainda que sumariamente, sem pretender fazer futurologia, podem-se imaginar algumas das possíveis consequências:
Na agricultura, verifica-se que a de tipo intensivo (o chamado agrobusiness) repousa em inputs que tem origem no petróleo - é o caso dos fertilizantes azotados, dos pesticidas e fungicidas, do combustível para a maquinaria agrícola, etc. Assim, a escassez do petróleo tenderá a reduzir a produtividade do trabalho e o rendimento proporcionado pela terra. E isto ocorreria com mais intensidade em terras "velhas", que há muitas gerações estão a produzir e cuja fertilidade só pode ser reposta por meios artificiais. Há quase 200 anos a humanidade está retirar fertilizantes da terra e a lançá-los fora nos esgotos das cidades.
No caso da agricultura de pequena escala o panorama, naturalmente, seria menos grave do que na primeira. No entanto, falta saber em que medida poderia esta produzir um excedente suficiente para repor as perdas da intensiva. As relações de propriedade certamente terão de mudar para permitir o acesso à terra a milhões de novos agricultores.
São admissíveis igualmente consequências demográficas, tanto a nível da taxa de crescimento populacional como da distribuição espacial das populações - uma des-urbanização, com um retorno ao campo a fim de cultivar a terra. A proporção actual dos países desenvolvidos, em que 10% da população alimenta os 90% restantes, provavelmente não poderá ser mantida. Mais gente terá de dedicar-se à agricultura.
A indústria será afectada de modo directo, principiando naturalmente pelas mais "energívoras". A obsolescência de parte do parque industrial mundial será uma possibilidade forte, com o sucateamento de muitas delas (refinarias de petróleo, fábricas de veículos convencionais, etc). Será de admitir o surgimento de tipos de indústrias mais pequenas e energeticamente mais auto-suficientes, na linha preconizada por Schumacher. Não será, portanto, uma volta ao passado histórico pois agora a humanidade dispõe de um acervo de conhecimentos adquiridos que pode ser posto ao serviço da produção em novos moldes (a electrónica é pouco devoradora de energia e pode ser posta ao serviços da produção). Parece certo o desenvolvimento das energias renováveis (solar térmica e fotovoltaica, eólica, marés, ondas, geotérmica, hidroeléctrica, biogás e biomassa, etc), do gás natural (cuja Curva de Hubbert é mais aplainada, mais extensa no tempo e tem um pico menos bem definido) e do nuclear. Parecem menos certas as perspectivas do tão apregoado hidrogénio uma vez que este não é uma fonte primária de energia (os seus defensores, como Rifkin e a União Europeia, ainda não explicaram de onde poderá ele ser extraído, a custos comportáveis, quando acabar o gás natural e o petróleo - para obter hidrogenio da água também se gasta energia!).

Estas pinceladas rápidas, têm um carácter meramente impressionista a fim de dar uma ideia da Transição de Era que está por vir. São apenas exemplos de alterações que podem suceder-se. Mas sejam quais forem elas, a certeza é de que inelutavelmente irão verificar-se enorme alterações no modo de produção e distribuição planetário e nada será como dantes.

Temos portanto uma crise anunciada e até datada (muitos analistas prevêem o fim do actual "planalto" da Curva de Hubbert por volta de 2008) e outra anunciada mas não datada: o possível desenlace da crise do modo de produção capitalista num (sempre adiado) colapso sistémico.

Os temas aflorados acima constituem modificações que se podem considerar mais gigantescas do que a Revolução Industrial no século XIX, com a invenção da máquina a vapor. Esta foi uma Revolução muito localizada no espaço (Grã-Bretanha) e que só muito lentamente, ao longo de mais de cem anos, difundiu-se pelo resto do mundo (mesmo assim nem todo, pois ainda hoje a industrialização não chegou a imensas áreas do mundo). Em contra-partida, o fim da Era do Petróleo afectará o mundo todo e de uma forma síncrona: a escassez de petróleo atingirá todos e ao mesmo tempo.

Estamos a falar de alterações decisivas para o futuro da humanidade, que comprometem a sua existência. Por isso, é espantoso que a maior parte dos responsáveis - a começar pelos ditos "estadistas" (se ainda existem), pelos media e por entidades como a Agência Internacional de Energia da OCDE - ignore um problema desta escala e desta magnitude, um problema que põe em causa as bases de funcionamento da sociedade. Pior: muitas vezes tal problema não só é ignorado como é também negado, numa autêntica política do avestruz.

Durante anos a fio os monopólios petroleiros, organizações estatais (como o US Geological Survey), organizações internacionais (como o Banco Mundial, a AIE da OCDE, etc) pura e simplesmente ignoraram ou fingiram ignorar o problema a fim de não contrariar os interesses estabelecidos. Para indivíduos imbuídos da ideologia neoliberal, a actuação predatória sobre os recursos naturais em benefício do capital é algo "normal". É assim que se dizimam de modo irreversível as florestas do mundo todo, que se esgotam os lençóis freáticos de água doce, que se contaminam terras e águas com explorações mineiras e outras, que se esgotam bancos pesqueiros com capturas que não permitem a reposição de stocks, etc, etc - e que se dizima o petróleo de uma forma bárbara ao ritmo de 82 milhões de barris/dia (4,1 mil milhões de toneladas/ano). A nova moda nos EUA são os chamados Sport Utility Vehicles (SUVs), potentes monstros bebedores de gasolina em escala jamais vista antes.

Mas as evidências de esgotamento que se acumularam foram tantas que aqueles que preferiam ignorar o problema tiveram de ensaiar respostas. Surgiram assim os "negacionistas", com as suas falácias. Uma das espécies de negacionistas é a dos economistas vulgares, de visão curta mas cheios de certezas dogmáticas. O seu negacionismo repousa na teoria neoclássica. Dizem eles que o deus mercado tudo regulará, pois trata-se apenas uma questão de preços. Assim, se a procura ultrapassar a oferta haverá "simplesmente" um reajustamento de preços. Isto significa que aqueles que puderem pagar os novos preços poderão continuar a queimá-lo de forma perdulária. Mas eles nada dizem o que se passaria quanto aos outros que não puderem pagar muitas vezes mais o preço actual - os quais constituirão a maior parte da espécie humana. Os exemplos actuais de pauperização de continentes inteiros (África, América Latina) não auguram nada de bom.

Outro tipo de negacionista é o dos que ostentam uma fé ilimitada no progresso tecnológico. Tal tipo de negacionista é muito frequente sobretudo entre aqueles que nada sabem de ciências, mas transferem para esta a resolução do problema. Este tipo de negacionista é muito encontrável entre políticos, sobretudo chefes de Estado. A sua vontade de conhecer os problemas reais já não é muito grande e, além disso, organizações internacionais como a União Europeia e a OCDE contribuem para mistificá-los - e por vezes induzem-nos à adopção de soluções equívocas mas que favorecem interesses de monopólios. Na verdade não há soluções tecnológicas prontas que possam no médio prazo e em grande escala vir a substituir o petróleo. Aqueles que dizem não pretender a gasolina e sim o "serviço" proporcionado pela gasolina e que o mesmo serviço poderia ser proporcionado por menor quantidade de gasolina (ou por outro combustível alternativo) estão a cair na utopia tecnológica. E aqueles que falam na pseudo-solução dos biocombustíveis auto-enganam-se com esta falácia pois, mesmo sem pensar nos custos, a terra agriculturável não é infinita.

Ainda há outros tipos de negacionistas, como aqueles que acreditam piamente (ou fingem acreditar) nas estatísticas públicas sobre reservas provadas, prováveis e possíveis, descobertas, produções, etc. Mas grande parte dessas estatísticas tem de ser expurgada de dados espúrios, introduzidos em função dos interesses daqueles que as produzem. Talvez acordem quando se revelarem verdades escondidas durante muito tempo, como por exemplo que o maior campo de petróleo do mundo (Ghawar, na Arábia Saudita) já atingiu o seu pico e, mesmo utilizando técnicas de recuperação secundária, principia a declinar. Ou que a fase de declínio já atingiu igualmente o segundo maior campo do mundo (Cantarell, no México), cuja produção principiou em 1979.

- x -

Camaradas e amigos:

Não tenho gosto em ser Cassandra. Não pretendo fazer terrorismo energético. Pretendo apenas despertar as atenções para um problema que, até agora e na generalidade, tem sido silenciado. A humanidade tem o direito e o dever de ser informada do que está para acontecer. O debate precisa ser lançado. A confluência da crise do capitalismo na sua fase senil com a crise do petróleo não poderá deixar de ter repercussões fortíssimas sobre a humanidade. Mas não está pré-determinado como será o desenlace destas crises. Há muitas soluções possíveis e factíveis, há muitos futuros possíveis. Se o actual modo de produção e distribuição fosse racional e justo, tentaríamos poupar ao máximo o petróleo ainda existente e efectuar de modo tão suave quanto possível a transição para o mundo pós-petróleo. Mas o modo de produção e distribuição capitalista nada tem de racional nem de justo. Assim, são de prever grandes embates entre povos do mundo todo e os monopólios que os dominam. Em alguns lugares do mundo surgirão situações revolucionárias, mas elas só poderão ser aproveitadas se os povos e as suas vanguardas estiverem preparados para a ruptura com o imperialismo e a tomada do poder - caso contrário, será o imperialismo a impor as suas "soluções", com um carácter retrógrado e agravador dos problemas. Trata-se de uma corrida contra o tempo. O desenlace terá um carácter revolucionário ou fascizante. O desafio é terrível. Para enfrentá-lo é imperioso elevar o nível de consciência daquilo que está em causa. Posições recuadas e "possibilismos" só levam à derrota.

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[*] Comunicação ao Encontro Internacional "Civilização ou Barbárie", Serpa, 23-25/Set/2004.

sexta-feira, agosto 26, 2005




replica o fábio sampaio



tem potróleo de montão, é o que diz meu querido fábio. falta achar! e grana para explorar.



em tendo dito sobre o post que postei no dia 24 a partir de outros comentários feitos no do dia 23, não tem como deixar esta resposta nos comentários querida
li mesmo você tendo ensinado a não fazer isto. é que sinto que nestas idas e vindas de bites a gente pode até encontrar petróleo e água para acabar com a crise do mundo. mas quando o fábio fala, menina, o assunto vai para manchete da capa. só peço a ele um tempo, para encontrar meus óculos que sumiram também, com o fito de gerenciar uma resposta, que a vida não é tão fácil assim não. cês viram eles por ái ?



Oi querida,

O legal é que esqueci os oculos em casa e de antemão os erros estarão perdoados :-)

1. Desde 73 na primeira grande crise do petróleo depois da Rev. Industrial que a cada lombada dizem que o petroleo vai acabar.
Esses textos sobre o assunto parecem discurso do Cesar Maia a cada enxurrada no Rio: é sempre igual e nada será feito para evitar os mesmos problemas na proxima.
A Chevron diz que a era do petroleo facil está acabada... PARA ELA. As grandes reservas estão fora do seu alcance. Estão sob a areia de um deserto ao qual não tem acesso. O Texas roubado dos mexicanos segurou a barra dos yankees por um tempo que não mais é suficiente.

A questão gira em torno de: onde está o petroleo?
Extrair petroleo em alto-mar é caro e a Petrobras sabe disso. Daí a minha pergunta já sabendo a resposta. Gasolina é cara no Brasil pq a fonte é de dificil acesso e pelo fato do gentil governo do Brasil sobretaxa-lo duplamente: na propria gasolina e no frete via ICMS.
Petroleo é insumo para tudo. Se você opta por uma produção cara estende o efeito por toda a cadeia produtiva que rebaterá no valor competitivo ou não de suas exportações.
Será q a politica brasileira qto a isso está certa? Como não sou expert na coisa deixo a palavra para os que foram atrás do petroleo barato fazendo guerra lá no Oriente Medio.

A Venezuela de Chavez com um lago de petroleo à disposição - basta colher de cuia - tem a gasolina mais barata das Americas.

O preço do petroleo não está alto há muito como você disse, somente começou a subir a partir da guerra do Iraque aumentando o passo a partir de 2004.
IPE Brent Crude Oil Price
http://www.oilnergy.com/1obrent.htm#since88

Coincidencia ou será que o assalto de Bush ao Oriente Medio mexeu com a coisa ? ;-)

2. Lula segue a cartilha do passado e postou-se como a esperança do futuro. Isso é pior ainda segundo vc mesma disse e eu nem sequer tinha tocado nesse aspecto: tomar emprestado um mote comprovadamente ineficaz.

Educação, meritocracia e justiça eficiente podem - nada garantido - fazer um pais chegar no andar de cima.
O contrario já sabemos o resultado que dá.

Bjs

Fábio S. em August 26, 2005 05:26 PM



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e aqui desabafa minha querida mais que querida li estoducto




É, querida... pode se chamar a este impasse de sinuca de bico ou estar entre a cruz e a caldeirinha...
Pessoalmente não acalento a menor esperança de que erros desse tipo e porte sejam sanados.


O pt morreu, acabou, e os outros partidos, como pfl e psdb, já estão mortos há muito tempo e ficam aí zumbizando, sugando e vampirizando a sociedade que não consegue enxergar que lida com eguns ladrões e ladinos.

Nunca tive partidos pois não rezo pela cartilha de ninguém, não sou gado e, desde pequena, sempre odiei aquela brincadeirinha de "tudo que seu mestre mandar".
Votei ora num, ora noutro (geralmente os que se diziam de "esquerda" pois o discurso "afinava" mais comigo), circunstancialmente, pois infelizmente vivo dentro deste sistema fajuto e ainda tinha (e tenho, bem menos, mas tenho) um fiapo de esperança em ALGUNS seres humanos. Só que, em alguns casos, me enganei.


Como tenho autocrítica :) vejo que me enganei com nomenclaturas tolas como "direita" e "esquerda", que além de caipiras e anacrônicas, procura conferir maior ou menor dignidade ao indivíduo.
Mais a idade chega mais constato que existem fdps de direita, de esquerda, de centro ou centro esquerda, vivos ou mortos, analfabetos ou intelectuais, notórios ou anônimos, pretos, brancos ou mestiços, do sexo feminino ou do sexo masculino, ateus ou crentes, homosexuais ou heterosexuais...


Se aquele velhote oligarca, tirano e baiano fosse de esquerda ele seria melhor? Certamente não.
Ele seria o mesmo pústula que é. Talvez com um outro jargão para justificar suas canalhices.
O caráter, a generosidade, o respeito ao próximo, a com-paixão (não no sentido de pena mas de empatia) pelo próximo, independem das cores políticas mas da integridade da pessoa.


Cada vez mais, penso que seres humanos decentes praticam seus atos de generosidade para com seus semelhantes anonimamente, sem tentar impor nada a ninguém.
Só o fato de aspirar um cargo público, de poder, e pagar para se promover, já faz com que eu olhe a pessoa de viés.
Como diz o Billy "a vaidade é assim, põe o bobo no alto e retira a escada, e fica por baixo esperando sentada, mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão..."


Coisas novas, que nunca tínhamos pensado, podem surgir das grandes crises...
Ou não...


beijos com muitas saudades da sua voz e do seu riso


li stoducto em August 26, 2005 06:50 AM








quitandas





galhoecu.jpg
sobre as quitandeiras tem este céu





este devaneio foi publicado na Terça-feira, Janeiro 28, 2003, no porcas e parafusos. aí a fal disse numa conversa: esse doutor luizinho com a cachaça dele dava uma crônica. sei que quando fal vier até aqui vai se esparramar de tanto causo que ouvirá e muita história verdadeira. esta não é bem uma crônica sobre a cachaça do dr. luizinho . mas ela entra no meio porque falar de quitanda sem citar a cuja fica imcompleto. taí fal , já havia comentado sobre ela. a crônica deixo procê.

mas o bom da festa higgin é quando um moribundo pede para falar com você e na despedida você diz: morra em paz. isso já fiz. não me arrependo. a pessoa sofria e precisava de paz. disse porque na minha hora é o que desejo ouvir. mas o melhor mesmo é ser peixe e poder voar, ser pássaro mergulhar e ficar um tempo na profundidade. também é bom ir para diamantina breijeirar. aliás, como é brejeiro brejeirar!!! dizem que o óbvio é obtuso. eu o vejo como simples. é o cúmulo da simplicidade. ? devolver o sentido ao sentido. sem traquinagens das figuras metafóricas da linguagem. uuuffffaaaa!!!!!

quando as mulheres daqui se reúnem para fazer quitandas ( biscoitinho de nata de araruta,. agora que é época de pêssegos é doce, licor, geléia , e torresmos, muitos torresmos para o marido petiscar com a cachaça do doutor luizinho que a conserva por sete anos em tonel de carvalho. o homem é chato até. segue o rumo da cachaça dele e só a vende para ver se a modificam por acéscimo.

mas de volta às quitandas tem muitos e muitos etceteras. enquanto as mãos trabalham a boca mastiga a vida das pessoas e as passa em pente fino . e quando algum filho mais astucioso grita ? mãe to rachando o bico, ou um peão avisa da janela da cozinha ; dona , preciso falar com seu raymundinho pra dar um jeito nas vacas porque o leite só diminói. voc6e sabe que pertence à confraria da quitanda quando pega a mania dos erres que saíram desembestados da porrrrrrrrrteira paulista e caíram no sul de minas gerais, ou se percebe, como a maioria das mulheres, a cutucar o outro. como se além da voz perfurar a carne fosse necessário para se fazer ouvir. e lá vem a pergunta de praxe na desconversa quando uma criança aponta na porta : pois é, não e mesmo? além ainda usa de uma serenidade que obra o pensamento dos outros para responder curiosas perguntas: não parece a virgem maria a pobre no fogão de lenha fazendo quitutes para o minino jesuszinho? nem sabe o que o marido apronta... e a criançada mais as galinhas vêm ciscar por perto ao sentir o perfume dos feitos.

durante o preparo de uma broa de milho você sabe quem está prenha , quantos maridos pulam a cerca; que mulher cruz credo, mulher que faz quitanda nem se atreve a olhar pro lado, só de leve para saber se as cadeiras da menina do zé cresceram, sinal de que ela deu um mal passo, mas que mulher tem pecados para contar ao padre no confessionário, dentre elas? e cochicham as puras com os olhos que indicam a pecadora. sobe a ladeira para ir à missa, toma benção pro padre mas minha filha nem te conto! não é que o tomazinho cismou de relar a mão da cara do chico e foi uma fudunça daquelas? houve faca e tudo. sabe? ouvi a conversa na sala e fiquei assuntando. quando o homem tava dormindo perguntei a ele . é batata, sempre me responde quando dorme as coisas que preciso saber. "o tomazinho ? um monte e o chico sempre no úrtimo de chique. já viu no que podia dar! e deu." então a mulher do tomazinho...? pergunta a santa no fogão, com a barriga assada. também! respondem as comadres como se a voz fosse um dedo que apontasse o mal feito que ela aprontava.

e comadre iná não conseguiu tirar pintinhos dos ovos? e foi um mundão de ovo que ela botou nas galinhas para chocar. eu avisei: é tempo de trovoada vai gorar tudo. teimosa, que queria tirar a raça daqueles frangos da coitadinha da cecília. lembra que ela perdeu o galinheiro e todos os gansos na última enchente das goiabas. nem me conte. e veio doença braba para as aves, nem me conte! que a água deve de ter levado um pouco concordo, mas o resto foi mão de homem. e a coitadinha da cecília, desgostosa, deu pra ela os ovos. que não queria saber mais de criação. também, com o preço do milho! tá tudo pela hora da morte... onde já se viu um bezerro de dois meses, ainda precisando do cuidado da vaca, ser vendido por trezentos reais? a gente da cecília sempre põe a culpa nas águas na onça, na gasolina, nas guerras lá de fora . arre trem!

em diamantina vivia helena morley que escreveu o livro "minha vida de menina" vertido para o inglês pela elizabeth bishop. helena conta a vida da família e dos caçadores de diamantes da região, dos faiscadores, da cidade de subsolo rico. e mostra como era a vida das mulheres. é uma história do cotidiano entre 1893 e 1895.

mas cachaça da boa higgin, juro que não tem igual a que o dr. luizinho faz aqui em caxambu e deixa envelhecer sete anos, conta de mentiroso, mas é de verdade, em barril de carvalho. e a gente aqui se preocupa com ovo que gora, patinho que morre de frio no lago, de tanta chuva e os raios e trovões que ontem estouraram uma lâmpada cá de casa. fez plec e apagou. enquanto o mundo pega fogo aí fora. pois é, né mesmo?


quinta-feira, agosto 25, 2005

IN SE RIR


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RIR



a velhinha de caxambu




não sou parente da velhinha de taubaté, personagem criada pelo luiz fernando veríssimo que, por ingeuidade, acreditava bom o governo, além de justo e sábio. por princípio afirmo que nenhum exercício de poder redunda em justeza, sapiência ou bondade. por isto prego a descentralização do poder e mais, nenhum poder. desejo que todos sejam responsáveis por seus atos e, na minha medida, por onde passo assim acontece. por exemplo, acabamos de criar o condomínio brasi l estando eu e a ana laura diniz exercendo o papel antipático de síndicas. mas hoje, depois de tão pouco tempo de surgido, ele caminha sozinho. os chamados condôminos, e as síndicas também o são, postam seus artigos e matérias tranqüilamente. ontem, vi que a lilian zaremba postara novo artigo em "mirabilis", clau dal colleto em " inflanção" deu show de bola e sóter contianua com suas charges desconstruíndo a estela petista.

este é o princípio básico da chamada anarquia. o sentido de um condomínio: todos são responsáveis e todos respondem por seus atos sem necessidade de pré avaliação. é bonito quando vejo o rio seguir seu leito. hoje o cb , o recém nascido, caminha com suas próprias pernas. assim postulo como deveria ser um governo do povo. eu sei o que é preciso para que minha casa funcione, a minha rua, o meu bairro. todos sabemos. então para que um monte de gente recebendo grana alta para mandar em nós, decidir por nós e nos entrregar no final do mês a fatura de suas despesas? pasmei ao ver lula acabar de dizer que não fará como getúlio, janio ou jango. por que teria dito isto se é inocente? temo o que está para vir. as sucessões continuistas. as soluções que nada solucionam e só fazem aumentar a concentração de miséria.

em entrevista concedida a geneton moraes neto, no jornal do brasil em 23 de dezembro de 1987 luiz fernando veríssimo a uma pergunta do repórter sobre o que o faz chorar no brasil de hoje, responde:

"LFV - O que me dá vontade de chorar é a idéia de uma geração que vem se perdendo. Vejo pelos meus filhos. Quando penso no futuro dos meus filhos me dá uma raiva e uma tristeza por saber que esta vai ser uma geração sacrificada. E talvez sacrificada em nome de coisa nenhuma, porque não sei se o futuro imediato ou remoto vai ser tão melhor. Então, a idéia de uma geração sacrificada me entristece e me enraivece. Tenho uma filha de 22 anos, uma outra de 20 e um rapaz de 17.

- Sua geração, em relação à atual, não foi perdida também?

LFV - Sim, mas a gente imaginava que estava se sacrificando para que tudo melhorasse. É chato e frustrante descobrir que, na verdade, piorou. Então, há mais uma geração que vai ser sacrificada por coisa nenhuma." in a velhinha de taubaté morreu .

sou a velhinha que está em caxambu, originária do estado do rio de janeiro, e sei lá porque não morro. nem minha fé, sequer a esperança e muito menos a caridade. por isto, mesmo consciente de que o mundo é muito perigoso, de que muitas vezes preferimos a cegueira, sem ingenuidade acredito que trocar o lula por pfl e psbd é mais trágico do que aguardar que os erros político partidários do partido dos trabalhadores sejam sanados e que o presidente atual termine seu mandato. no mais é rezar para que apareça alguém em quem se possa votar nas próximas eleições. precisa ser reza forte. muito , muito forte.














quarta-feira, agosto 24, 2005














rouba mas faz, mote de campanha de ademar de barros que ganhava eleições com ele. pobre povo brasileiro!



respostas para carla e fábio sampaio sobre comentários no post abaixo deste.


não é o caso do rouba mas faz carla, isto já vivemos tem séculos, como também o só rouba e nada faz . desejamos um país que tem tudo para dar certo dando certo porque a política econômica está voltada para interesses da pátria e não para atender às exigências de um mercado internacional. é preciso, no entando que além do psdb e do pfl da revista veja, da folha e do uol que têm a telecon portugal com 21% de suas ações, o ministério público e a polícia federal apresentem provas definitivas e cabais de que o Lula estava envolvido em todas estas ações. No congresso estamos tendo o que desejamos ver, a encenação de atos patrióticos, da moralidade do dedo em riste de ACM etc... ora, quem não sabe nesta amada pátria que rolou dinheiro para ser aprovado o sistema de reeleição que beneficiava apenas o fernando henrique? rolou alguma cpi ou a blindagem era perfeita? este é um momento ímpar para que toda as denúncias sejam apuradas. inclusive as que remetem aos governos anteriores.

portanto, este anseio que se faz coletivo porque açulado pela mídia de fora pt não conta. por isto peço que pensemos com nossas próprias cabeças. eliminemos com esforço o recado , a instrução subliminar que recebemos a cada despertar, a cócega de ver mais um capítulo desta novela que superou a escrita de qualquer novelista e deve estar dando um belo ibope para a tv da câmara e do senado, montada com nosso dinheiro pelo sarney, lembra? você foi consultada se desejava gastar com isto? nem eu.

não tem nada disto de o fim justifica os meios a minha argumentação mas a convocação de pela primeira vez impedirmos, nós povo, que sejamos dirigidos contra quem quer que seja porque uma minoria se vê ameaçada ao não manipular o poder.

afinal, pelo que sei, o poder somos nós, segundo a constituição da república federativa do brasil. proponho que exerçamos esta prerrogativa de que todo poder emana do povo. vamos inverter esta história e acabar com o reinado goebbels na propaganda?



querido fábio te conto. o petróleo há muito está pela hora da morte. e você sabe. veja isto:

CHEVRON RECONHECE O PICO

"A Chevron — uma das maiores companhias petrolíferas do mundo — já reconhece explícita e publicamente o pico petrolífero. A companhia está a publicar anúncios nos media que dizem coisas como esta:
"Levou 125 anos para usarmos o primeiro trilião de barris de petróleo. Usaremos o trilião seguinte em 30 anos. A energia será uma das questões definidas deste século. Uma coisa é clara: a era do petróleo fácil está acabada"" . olhe o pico de hubbert pico de hubbert e me diga, como ter derivados de petróleo a preços baixos. beira a irrealidade, não? conto um causo verdadeiro: o maior gasto com nossa balança comercial não é com o petróleo e sim com o princípio ativo que permite fazer anti-concepcionais e antibióticos. era delfim netto o cara da economia. se não me engano, governo médici, onde tudo começou. pesquisadores brasileiros descobriram que através da borra da soja e do refino do arrebenta-cavalo e da jurubeba conseguiriam extrair este princício ativo.

as pesquisas foram desenvolvidas na unicamp e na uff e tudo daria certo caso os interesses internacionais não estivessem sendo contrariados. em fase de produção destes produtos que seriam distribuídos pela ceme,- lembra da ceme e dos laboratórios universitários que até então tinham uma função ? de com opções alternativas produzirem medicamentos baratos para o povo? lembra? - por ordem governamental a pesquisa , a produção todo o trabalho foi abandonado por exigência de um tratado firmado com a europa e estados unidos, principalmente a itália. e não foi somente esta pesquisa e não foi somente este projeto para tornar o país independente que deixaram de lado. você sabe disto.

quanto ao mote do lula de exportar commodities sinto informar que este não é um mote exclusivo dele mas sim o caminho que a política econômica brasileira segue há tréculos . pois como evitar num projeto neoliberal que privilegia a especulação que ela, a especulação, seja incentivada, principalmente tendo em vista a enorme dificuldade de encontrar mercado para nossos produtos sabendo que a oferta é sempre maior do que a demanda. a crise das commodities. e isto nos leva a pensar no cuidado que devemos ter no caso de o brasil sediar a reunião da convenção sobre diversidade biológica e do protocolo de cartagena sobre biossegurança, em março de 2006. por que a quem além dos que já adquiriram o sub-solo brasileiro liberado para compra por decreto de fhc, irá interessar a venda de commodities para pesquisar organismos vivos modificados (ovws) de acordo com o pré protocolo aprovado no início de 2004 em kuala lumpur na malásia? e a condição do brasil é única pois é o único grande produtor e exportador de commodities ovms que por pressão do ministério do meio ambiente, ratificou o protocolo (diferentemente dos eua, canadá, argentina, e outros).

o que acontece hoje, querido fábio é conseqüência da utopia peessedebeiana de criar um monopartidarismo que sairá e da confluência entre as propostas do pt e do psdb, diga-se de passagem nenhum deles de esquerda, mas partidos que privilegiam a burguesia : "bernstein e kautsky, rompendo com o campo revolucionário, no final do século 19 e início do 20, preconizaram partidos que, conquistando a confiança da burguesia, chegassem à direção do estado e promovessem reformas sociais. assim foi com os partidos sociais de-mocratas, que estabeleceram o “estado do bem estar social” propiciando tanto lucro àquelas burguesias, que lhes foi possível brindar o proletariado com pequenos mimos, cooptando as suas lide- ranças para abandonarem o projeto re- volucionário e aderirem ao reformismo." né mesmo?

o que digo no post anterior é que pensemos antes de nos deixarmos levar por precipitações tendo em mente que o próprio pt e lula levados por interesses em manter uma estabilidade econômica ocultaram toda uma entrega da riqueza pátria, do sub-solo brasileiro e uso da coisa pública por fhc e que esta não denúncia hoje custa caro ao brasil. houve roubo, houve invasão da seara pública pelo pt, pmdb, ptb, psdb e tantos outros? ninguém nega. mas vamos aguardar que áreas competentes apurem e aí seguir o rumo que for necessário. mas sempre atentos que continuaremos sendo manipulados sempre sempre , enquanto não houver reação e consciência do desserviço que o próprio povo presta à patria e a ele mesmo deixando-se conduzir por propagandas.

faltou lembrar de mais um candidato à candidato para a presidência da república: o casal garotinho. entre os nomes elencados vocês ficam com quem, amigos?

para ler: 10 anos de liberalização econômica






terça-feira, agosto 23, 2005


11 Motivos para o Lula

sair........Do foco da Imprensa !!!

1 - Criou em 2 anos e meio mais de 3 milhões e 135 mil novos empregos de carteira profissional assinada no país. De 1994 a 2002, foram 737 ;mil. - 2- Recorde absoluto nas exportações. Jamais se exportou tanto nesse país. Estamos conquistando novos mercados com produtos de maior qualidade. 3 - Pagou ANTECIPADO a parcela da dívida, ou seja, o Governo finalmente tem um caixa equilibrado. 4 - Disse NÃO para a possibilidade de novos empréstimos ao FMI. O Brasil faz empréstimos lá fora desde que foi "descoberto". ISSO ;DESAGRADOU MUITO O FMI. 5 - Quebrou o monopólio das indústrias farmacêuticas quanto aos preços abusivos de remédios para tratamento da AIDS o que barateou o produto em quase 50%. 6 - Está fazendo um projeto de irrigação no Nordeste com poços artesianos como NUNCA se fez nesse país, auxiliando na Reforma Agrária de áreas que ninguém tem interesse. 7 - Está fazendo três universidades federais novas, uma na região de Dourados, no Mato Grosso do Sul, uma no ABC Paulista, uma no Recôncavo Baiano, além de estar levando uma extensão
da Universidade Federal de Minas Gerais lá para o Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres a abandonadas do país. 8 - Foi à África pedir perdão aos irmãos de lá pelos séculos de exploração dos negros nesse país. 9- Realizou um encontro histórico entre o mundo árabe e o mundo sul-americano, abrindo novos horizonte de comércio, não restrito apenas aos EUA e União Européia. 10 - NUNCA a
Polícia Federal teve tanta liberdade para atuar e efetuar prisões de figuras do alto escalão da política, da burguesia e do crime. 11 - O Brasil vai atingir a auto-suficiência em petróleo até o fina de 2005, ou seja, não precisaremos ficar a mercê de petróleo de fora, com preços oscilantes e perigosos, vide a loucura dos EUA para "pegar" o petróleo do Iraque, por exemplo.TUDO SEM PRIVATIZAR. COM O DÓLAR SOB CONTROLE E INFLAÇÃO SOB CONTROLE. Convenhamos, né? Se a imprensa não pegar pesado com os escândalos corrupção (não que não sejam importantes, mas não o suficiente para parar o país...Além de não serem inéditos, já ocorreram em outros governos), este barbudo vai acabar se reelegendo....

olhando bem esta lista de preseidenciáveis seria o mais sensato. afinal votar em quem? serra? cesar maia? alckimin? fhc? roseana sarney, quem mais, por favor, ajudem que.... ah! enéas e quiçá severino. repetir tudo novamente e empossar quem mama no poder tem séculos e nada fez para melhorar este país?
pensemos, pensemos! ah, e tem a décima segunda questão, o que ele negou a condoleezza rice? além das questões da alca, do desenvolvimento sustentável e da democracia na américa latina que fez a dama sair tão irritada? logo depois de sua estadia no brasil o paraguai assinou um contrato com os estados unidos que permite a entrada e saída das forças armadas norte-americanas no país assim como de pesquisadores, e todos estão sediados na região da fronteira , bem em cima do aqüífero guaraní. e ninguém percebe que isto acontece porque bob jef disparou sua bomba de gás lacrimogênio. que pena!






e.......

quarta-feira, agosto 17, 2005




reflexões sobre blogs, livros, filmes e desejos




conversa com alexandre inagaki . mestre de cerimônias fabio sampaio



intrepidatrupe.jpg


começou no sexto salão do livro de minas gerais, dia 12 às 19h30, na mesa-redonda sobre blogs: a literatura e o espaço virtual. com fal azevedo, alexandre inagaki e idelber avelar . um salão do livro que debate sobre blogs. afinal o que vem a ser? jornalismo, um tipo de diário, será que em blog se encontra literatura? que coisa estranha é esta que já existe no universo virtual há tempos mas só conhecido pelos blogueiros que se visitam se curtem , comentam , trocam músicas, poemas e boa literatura. e lá foram fal, inagaki e idelber para belo horizonte explicar esta nova forma de contato e comunicação.

no domingo passado, dia dos pais, nos encontamos nesta jenela e a conversa correu. entre o restatar de micros, cair, congelar, o que provoca estes cortes, esta fragmentação de conversa, o que resulta num texto feito de colagens e de memórias a todo instante sendo convocadas para preencher po lapso das quedas. as janelas do msn abrem e fecham como tangidas por vento de agosto. não são gelosias, fenestras, são windows divididas em pequenas caixas sem alisar onde apoiar o braço para na mão descansar o rosto. mas , foi aqui que fruímos o prazer de um dia formidável. a conversa iniciou entre o fábio e eu. fal abriu a janela, depois a ana laura e o inagaki a quem havia pedido uma conversa antes do salão, como havia feito com a fal e o idelber avelar. mas entre tropeços de gripe, peneumonias a conversa só foi possível no dia seguinte do evento. bem, sempre é necessário que alguém nos fale sobre o dia seguinte. e está aqui o registrado:


no-salao-do-livro.jpg
fal, inagaki e idelber no salão do livro. foto sequestrada no O Biscoito Fino E A Massa


em conversas anteriores o inagaki já havia colocado algumas questões:





Inagaki diz:
ruth

esther diz:
o que é ruth? grito de guerra?
Inagaki diz:
Ruth Lemos protagonizou um dos mais interessantes casos de "meme" propagados na Internet brasileira. Escrevi sobre ela em
http://www.gardenal.org/inagaki/archives/2005/03/ruth_lemos_gary.html
Inagaki diz:
Aliás, por falar em "memes" também escrevi um artigo sobre o assunto: http://www.gardenal.org/inagaki/archives/2005/02/httpprologosite.html

esther diz:
o que é memes?
Inagaki diz:
Leia o artigo que você descobrirá.

Inagaki diz:
O mundo é repleto de assuntos interessantes, Esther. Uma das coisas que não entendo é blogueiro que reclama de falta de assuntos para postar. Putz, o que não faltam são coisas fascinantes para se explorar.

Inagaki diz:
Pena que falta tempo para escrever sobre todos os assuntos que me vêm à cabeça.

Inagaki diz:
"Administração do Tempo Pessoal" é uma matéria na qual sempre fui péssimo aluno. Depois volto ao assunto, agora vou capotar na cama. Um beijabraço pra ti, até domingo!


alguns domingos depois, após uma gripe do inagaki, pneumoria da avó dele de 83 anos, e pneumonia minha...

Inagaki diz:
Alô Esther, você está disponível pra prosear?

esther diz::
oi, ouvi falar que você deu um show no salão
esther diz:
estou aqui com fábio, ana
esther diz:
e ainda agora estava a fal que cai a todo momento
Inagaki diz:
Exagero, exagero. A Fal, sim, arrasou!

esther diz:
ela falou belezas sobre você
Inagaki diz:
Mas bom mesmo foi ter conhecido pessoalmente amigos virtuais de longa data, como a Ana Maria Guimarães, por exemplo. ( Ana Maria Guimarães - Subsecretaria de Comunicação Formada em Jornalismo, a pernambucana Ana Maria Guimarães foi repórter do Diário de Pernambuco e do Jornal do Brasil, atuou como editora-regional da TV Manchete e ocupou a Secretaria de Imprensa da Prefeitura de Olinda. Era assessora de Imprensa da Cruzada de Ação Social do Governo de Pernambuco, quando recebeu o convite para ocupar o novo cargo.

Inagaki diz:
Diga-se de passagem, a Fal AR-RA-SOU.

esther diz:
conte, pois ela fala de vocês, não dela
Inagaki diz:
Antes do Salão do Livro, ela ficou dizendo que estava aterrorizada, não sabia como iria se portar, que tinha pânico de falar em público, etc etc. Não duvido dela, mas, a julgar pelo modo com que ela cativou o público, e falou com beleza e sensibilidade sobre a blogosfera, ela não tem o menor motivo para se intimidar com multidões.

esther diz:
qual sua avaliação do encontro? do debate ?
Inagaki diz:
Foi ótimo. Nem tanto pelas ponderações iniciais (eu, como já imaginava, me atrapalhei todo, atropelei minhas próprias anotações e balbuciei um monte de frases descoordenadas), o debate ficou bom mesmo a partir do momento em que foi aberta a "janela de comentários" e começamos a responder às perguntas do auditório.

esther diz:
deu para sentir que os blogs ganharam outra visagem? digamos assim, um blog num salão do livro quase ganha estatus de livro, né?
Inagaki diz:
Foi uma bela iniciativa, diria que mais um passo para a justa avaliação da importância crescente dos blogs como instrumentos de inclusão digital e pluralização da produção de conteúdo na Internet.

Inagaki diz:
Ôpa, MESTRE Fábio Sampaio
?
esther diz:
deixa te apresentar a ana laura do condomínio brasil também
Inagaki diz:
Nice to meet you, Ana! :)

ana laura diz:
muito prazer, inagaki.
sabe... acho que a gente se conhece. de vista, digo. vc não estudou na cásper líbero?
Inagaki diz:
Sim, fiz Jornalismo por lá. Você também?

ana laura diz:
sim

ana laura diz:
em q ano vc se formou?


fabio que saíra para atender telefone regressa. e os links parecem bolas passando de um jogador para outro na meta do gol.

FS diz:
ina, tudo blz cara ?

Inagaki diz:
MESTRE Sampaio! Esse é o cara!

Inagaki diz:
Nem me lembro, Ana. Tranquei um ano, peguei DP noutro...

FS diz:
fiquei extremamente feliz q vc e a Fal foram para o salão de MG, meus preferidos entre alguns outros

Inagaki diz:
Fabio, depois dê uma olhada neste link que discute os tags da Technorati

Inagaki diz:
http://gigaom.com/2005/08/02/the-dark-side-of-technorati-tags/

Inagaki diz:
Rola uma discussão interessante sobre o assunto.

FS diz:
vc precisa ver o pau sobre os spam-blogs, i.e., blogs q se auto-atualizam com links digamos "favoráveis" e keywords valiosas no google adsense

FS diz:
http://seoblackhat.com/

Inagaki diz:
Já li algumas coisas sobre o assunto. Inclusive com a criação de blogs apócrifos repletos de links "chapa branca"...

FS diz:
isso. alem dos q espalham backdoors e similares. Mas me conta de MG....

FS diz:
A Fal disse q vc largou o verbo.... q vc fala bem em público para caramba

Inagaki diz:
Soube que um site argentino foi condenado a pagar o equivalente a 18.000 dólares devido a um comentário que deixaram no guestbook do site? Há dias estou pra escrever sobre o assunto.

FS diz:
18K aqui é moleza. quero ver qdo tiverem q pagar pra lá de 100K

FS diz:
e o fake personagem da bbc.co.uk ? q tem blog e tudo?

Inagaki diz:
Tá louco. Se eu tivesse que pagar 1K já estaria fodido, imagine 100... A Fal simplesmente arrasou, foi a melhor coisa da mesa, Fábio. O Idelber leu um ótimo texto que preparou para a mesa de debates, mas sabe como é: perde-se em espontaneidade. Já a Fal partiu de algumas anotações para tergiversar sobre o assunto e se saiu maravilhosamente bem.

FS diz:
ela falou o mesmo de vc. pra variar 2 craques na mesa a coisa tem q sair boa mesmo

Inagaki diz:
Quanto a mim, falei de trocentas coisas ao mesmo tempo, me perdi no meio, foi uma zona. Mas, bem, ao menos disseram que fui engraçado.

Inagaki diz:
Fake personagem? Manda o link dessa história, que eu ainda desconheço.

FS diz:
ela só comentou q algumas perguntas eram muito primárias do tipo: como vc começou com o seu blog? ou algo assim

Inagaki diz:
Primárias, mas que tem a sua importância. É como naquelas entrevistas com bandas de rock, que sempre começam com aquela questão "por que esse nome?". Aliás, fizeram essa pergunta do nome do blog.

Inagaki diz:
Mas a "janela de comentários" da mesa de debates foi bacana. E ninguém fez uma pergunta do tipo "mto loko seu blog, visita eu?",

FS diz:
ahahaha

FS diz:
melhor assim

FS diz:
meu link é: condominio brasil (aproveitando a pergunta)

FS diz:
visita nós

FS diz:
ainda não está concluído. e ainda vamos mudar um pouco. o primeiro site feito em real time

Inagaki diz:
Mas olhe, essas perguntas básicas foram ótimas para situar a história de cada um dentro da blogosfera. Para mim, foi a melhor parte da mesa de debates junto com a bela fala da Fal.

esther diz:
qual o público que foi ao debate, de que faixa etária e qual o níverl cultural?
Inagaki diz:
Diria eu que 70% do pessoal tinha blogs. Diversas faixas etárias. Sem exageros, dos 8 aos 80. E nível cultural muito bom, a julgar pelas perguntas.

FS diz:
ok

esther diz:
alguém fez comparação entre ler um blog ou ler um livro? perguntou porque um debate sobre blogs num salão do livro? sobre se há diferença na colocação da fala textual?
Inagaki diz:
Não, ninguém fez essa observação. Aliás, eu até esperava que fizessem alguma pergunta a respeito da formação de alguma linguagem específica a partir do advento dos blogs, com textos mais sucintos, quase haikaísticos. Mas a verdade é que a interface dos blogs ainda não é explorada em toda a sua potencialidade pelos escritores.

Inagaki diz:
Porque a literatura que se lê nos blogs não se diferencia daquilo que é publicado em um livro. Não vejo ainda experiências marcantes que usem recursos como links, podcasts, gifs animados ou animações em flash plenamente integrados a um texto.

FS diz:
ou seriam uma nova geração de escritores voltados para a web? o tal webwriting? se o meio muda, muda a escrita ou mudam os leitores? ou ambos?

FS diz:
fal na area... se derrubar é expulso

esther diz:
e se os textos , necessariamente , terão de ser suscintos , mas sem atingir nunca a perfeição de um haikai, apenas porque ler hoje ocupa tempo e tempo não temos

Fal foi adicionado(a) à conversa.

Inagaki diz:
Acho que falta ambição aos escritores atuais. A tal da Geração OO é marcada por autores que se preocupam demais em fazer textos repletos de citações pop, que falem a língua de seus leitores. E no entanto, os Grandes Livros exigem que seus leitores se esforcem para estarem à altura da obra, e não o contrário. Vide "Ulysses", por exemplo.

Fal diz:
oi amadas

Fal diz:
oi amados

Fal diz:
ina me adiciona, amor

FS diz:
oia nóis aqui

Fal diz:
fabiaazevedo@hotmail.com

FS diz:
Ina adiciona só se vc usar rexona

esther diz:
o próprio pound que cultivava o suscinto dos ideogramas era discursivo em seus poemas
esther diz:
e falar em ulisses, quer coisa mais complicada e que saiu recentemente em nova edição com outra tradução?
Inagaki diz:
A questão "tempo" é um tanto quanto falaciosa. Se o leitor estiver disposto, espreme tempo do gomo das horas e mergulhará junto com o escritor na travessia de um romance, seja quantas páginas ele possuir. Veja o caso da Ana Maria Gonçalves, que tive o prazer de conhecer pessoalmente em BH, que está para lançar pela Record um romance de mais de 700 páginas! E eu o lerei, com certeza.

FS diz:
tradução de quem e em que língua?

esther diz:
para o português
Inagaki diz:
Fal, você é DEMAIS. E Rexona não me abandona!!!

esther diz:
a antiga foi do houaiss
esther diz:
esta é da bernardina da silveira pinheiro
Inagaki diz:
Aliás, meu MSN é fimdefeira@hotmail.com. Ô Sampaio, adicione-me aí, mermón!!!

FS diz:
deus me livre. romance de 700 páginas deve levar uma vida inteira pra ler. o fato é, estar a altura do texto é algo que compromete a popularidade da obra. se vc faz citações e referências à algo q o leitor médio não capta sem dúvida vc venderá pouco. PCoelho vende pq fala o óbvio. Joyce criou uma linguagem que precisa ser compreendida para ler Ulisses. Demais né não?

Inagaki diz:
E o Pound, que acabou de ser citado por você, Esther, também dizia: "make it new". A literatura precisa ser constantemente renovada, as palavras precisam ganhar novas conotações através da pena de escritores que almejem recriar a linguagem desgastada do cotidiano. Autores como Joca Terron e Daniel Pellizzari, por exemplo, que não se limitam em escrevinhar autobiografias disfarçadas.

ana laura diz:
mas inagaki, você lê um livro de 700 páginas sem qualquer problema... mas você não se considera exceção? acha que isso é regra?

esther diz:
não conheço estes autores, poderia me esclarecer?
FS diz:
todos aqui lêem um livro de 700 pag sem problema. aliás o último q li sobre XP tinha 1200. o problema é reter um leitor por 700 páginas apenas com uma estória. coisa q só Jorge Amado conseguiu ou estou enganado ?

Inagaki diz:
Meus caros, o caso é o seguinte: a Literatura necessita de autores que formem novos leitores, que saibam da necessidade de entretê-los, mas também precisa de gente que a leve para novos caminhos. Joyce foi lido por poucos gatos pingados, mas quem o leu de cabo a rabo saiu transformado dessa experiência.

esther diz:
e a linguagem nova de que pound fala inagaki, como você diz, é a recriação de palavras, veja gruimarães com seu tutaméia e mesmo os blogueiros que criam palavras valises, reinventam o vocábulo e reconstróem a palavra com novas formas de formular a frase. aí cabe perguntar : de que blogs um leitor sai renovado para vocês?
FS diz:
Ina, vc está sem divida falando de um mundo a parte da média. Nos EUA Joyce é tb p/ elite intelectual.

FS diz:
divida=duvida

Inagaki diz:
Na verdade a Literatura necessita desses dois tipos de escritores. De autores que saibam entreter, mas também de autores que dominem os recursos da linguagem e ambicionem algo além da mera publicação a fim de satisfazer seus próprios egos.

Inagaki diz:
Citação do Joca Terron: "O leitor ideal é cego. Melhor dito, é o cego parado na esquina mais movimentada de uma grande cidade, à espera de quem o ajude a atravessar a rua. O escritor deve ter olhos, porém para que alguma história ocorra, deverá ter a sorte de encontrar um cego esperando alguém que o auxilie a vencer a rua mais movimentada da cidade".
Hotel Hell, blog do Joca.
ana laura diz:
(fabio, lembro q qdo foi lançado o diário de getúlio vargas - 1200 páginas se somar o volume 1 e 2 - e é muito bom - muita gente não leu por causa do tamnho. e ainda hoje vejo muita gente nas livrarias escolhendo livro pelo tamanho, não pelo conteúdo em si)

Inagaki diz:
"O escritor é aquele que subitamente abandona o cego no meio da travessia"

esther diz:
linda, linda citação!
FS diz:
E Orange Clockwork? E o inglês de Trainspotting que nem um novaiorquino com quem assisti o filme conseguia decifrar? Tem que lower the bar e não raise....

FS diz:
Exatamente como o Ina citou. Há 2 tipos de cegos: o que não quer enxergar e o que achará o caminho mesmo sem bengala.

Inagaki diz:
Sim, Fábio, é um mundo à parte da média. Posso citar um exemplo no campo da música: Velvet Underground. O primeiro álbum do grupo não vendeu mais que 150 cópias, e no entanto cada comprador do disco o levou para casa e no dia seguinte criou sua própria banda. Há escritores que possuem esse dom de inspirar quem os lê, e obrigam seus leitores a almejarem mais além.

Inagaki diz:
Ana laura, vale citar que a tradução nova de "Ulysses" chegou a constar na lista de best-sellers da Folha por mera questão de verniz intelectual. O fato é que tem muita gente que compra um livro simplesmente porque está hypado.

ana laura diz:
e a dizer pelos nossos colegas, muitos exibem os livros nas prateleiras sem ter a mínima idéia do conteúdo

ana laura diz:
vc teve aula com o lendário claudio arantes, ina?

Inagaki diz:
O meu livro de cabeceira é o Rayuela de Julio Cortázar, que é um romance que concilia tudo que almejo fazer um dia: renovar a linguagem (até ao antecipar a navegação por hyperlinks, por meio da maneira alternativa em que pode ser lido, fora da ordem numérica dos capítulos), enquanto ao mesmo tempo narra uma história que prende o leitor. Um livro que instiga sem ser modorrento.

esther diz:
você leu o último do eco? tem proposta semelhante.
Inagaki diz:
Daniel Pellizzari, Esther, foi um dos colaboradores do e-zine Cardosonline (o mesmo que revelou outros autores como Daniel Galera, Clarah Averbuck e Cardoso), e recém-lançou seu primeiro romance, "Dedo Negro com Unha".

FS diz:
exatamente. a literatura precisa de ambos. os q entretem (falam a linguagem atual e montam boas estórias) e os q inovam na linguagem (e constroem a nova geração de escritores e leitores). A parte vem os clássicos, q remetem a tudo (por quanto tempo?)

Inagaki diz:
Sobre a pergunta "de que blogs um leitor sai renovado para vocês", eu diria que Nelson Moraes e Dudi Maia Rosa são os dois blogueiros mais instigantes do Brasil. Mas um blog que merece ser destacado é este:

Inagaki diz:
El Hombre Que Comía Diccionarios

FS diz:
o Nelson é sem duvida um destaque em meu blogroll

Inagaki diz:
Já repus muita falta nas aulas do Cláudio Arantes por meio de fichamentos, Ana Laura... :) Mas, dos professores da Cásper, tenho lembranças mais marcantes do Marco Antônio Araújo, o saudoso Aloysio Biondi, Marcelo Coelho (que me deu duas notas 10 das quais me orgulho, ho ho), Matinas Suzuki Jr, Nanami...

esther diz:
taí uma questão, se pensarmos assim na morte nos clássicos nem saberemos mais porque as pessoas escrevem ou porque escrevemos. pois amanhã estas pessoas correm o risco de se tornarem clássicos e morrer.
FS diz:
o Dudi é a percepção visual q abunda (sem trocadilho) fora da blogosfera tb. Engraçado, não gosto de ler espanhol... pq será? entendo mas não gosto.

Inagaki diz:
Ainda não li o último Eco, está na lista.

Inagaki diz:
Sou fascinado pela literatura em espanhol, Fábio. Cortázar, Borges, Horacio Quiroga, Federico Garcia Lorca, Gongora, Vicente Huidobro, Tomas Eloy Martinez...

ana laura diz:
tá, me referi ao claudio arantes por conta das leituras que ele indica
va
esther diz:
do macedonio fernández
esther diz:
no brasil quem você lê, inagaki? autores nacionais
FS diz:
Eu sei Ina. Mas engraçado q não me atrai a língua oposto a estória. Baixo várias coisas q vcs recomendam em espanhol, mas páro no meio, sei lá...

Inagaki diz:
Um escritor que ousa se denominar "escritor" precisa conhecer os clássicos. Sem o devido background cultural, não terá escopo para escrever livros capazes de driblar o oblívio das estantes do balcão de encalhes.

Inagaki diz:
Putz, Macedonio Fernández é um autor que preciso ler, Esther.

esther diz:
se puder sugerir comece com tudo e nada
Inagaki diz:
O Dudi é um blogueiro que explora magistralmente os recursos da interface, fez montagens simplesmente geniais com gifs animados que a gente cansa de ver por aí.

esther diz:
macedonio passa para a literatura como o tirante lo blanc em relação ao dom quixote. prefiro o jeanot martoreli ao cervantes. uma questão de gosto
esther diz:
e macedonio influencia borges e os latino americanos
Inagaki diz:
Dos brasileiros, recomendo a leitura de Murilo Rubião, Campos de Carvalho, Ivan Angelo (que escreveu "A Festa", o romance que mais se assemelha com o livro que um dia eu gostaria de escrever), os já citados Joca e Mojo, mais Daniela Abade e Rubem Fonseca. Além dos mestres maiores da literatura tupiniquim, é óbvio: Machado de Assis e João Cabral de Melo Neto.

FS diz:
sem vc entender os clássicos vc estará perdido no tempo e no espaço. em todas as áreas. Se vc não ler a época clássica, a Média e os expoentes da moderna (não contemporânea) será difícil vc se posicionar para poder adotar uma linha consistente

Inagaki diz:
Exatamente porque sei da influência de Macedonio sobre a obra de Borges estou consciente do quanto preciso lê-lo, Esther.

esther diz:
você citou o campos de carvalho
esther diz:
e ele tem uma concisão blogueira, não acha?
Inagaki diz:
Exato, Mr. Sampaio. Os clássicos te dão o referencial, as linhas mestras, o ponto de partida de qualquer escritor. E conhecer os contemporâneos é ter a consciência necessária dos seus pares, das limitações e das conquistas de cada um.

Inagaki diz:
Hmm, pode-se dizer que em "A Lua Vem da Ásia" há vários posts antológicos, Esther.

Inagaki diz:
Ana, Esther, Fabio, vou ter que dar uma desconectada - o rango está na mesa.

FS diz:
Se vc nunca leu ou assistiu nada de Braulio Pedroso vc não conseguirá escrever telenovela no Brasil. Ele é um gênio da narrativa em tempo real ou não.

FS diz:
ok

e la nave vá diz:
posso postar a conversa?
Inagaki diz:
Por falar em Bráulio Pedroso, pena que "O Bofe" nunca foi reprisado no Vale a Pena Ver de Novo.

FS diz:
se todos concordarem. reunir essa turma fantástica (excluindo-me) é dificil

Inagaki diz:
Sinta-se à vontade, Esther.

esther diz:
que é isto dom fábio?
FS diz:
O cara que fez Beto Rockfeller alem disso merece estar no pateão dos que bebem dessa fonte.

esther diz:
exato, isto valia outra conversa, novelas
esther diz:
é um tema de litígio
esther diz:
assim como a relação entre os blogs e a literatura
FS diz:
E o "O Rebu" ? Genial não? A primeira telenovela com abordagem homossexual além da narrativa em falshback. Avançada demais para a época

Inagaki diz:
A melhor novela que vi na vida foi Roque Santeiro. Mas Guerra dos Sexos chega quase lá.

Inagaki diz:
Só por ter tido Ziembinski, diretor da mítica montagem de "Vestido de Noiva" do Nelson Rodrigues, no papel de um homossexual, "O Rebu" merece citação em qualquer antologia de telenovelas.

ana laura diz:
inagaki, uma curiosidade simples

FS diz:
Mas Roque foi proibida na época que era pra ser. Mas tá valendo e genial, sem dúvida. Dias Gomes ensinou a Clair a escrever boas estórias. Ela popularizou a indústria atual da mocinha (sempre uma) e o final feliz para elas.

ana laura diz:
quantos anos você tem?

Inagaki diz:
32 anos.

FS diz:
O Rebu é talvez a melhor telenovela já escrita até hoje ao lado de Roque Santeiro e Saramandaia pelo surreal.

Inagaki diz:
Não assisti às novelas do Bráulio Pedroso, por exemplo. Por isso é que lamento o fato delas não terem sido reprisadas.

esther diz:
saramandaia faz parte do boom da literatura latino americana, o realismo fantástico que nos deu rulfo mas quem conta é o marques
Inagaki diz:
Dele, só vi os seriados que ele roteirizou para a Manchete, como "Tudo em Cima" e a genial "Tamanho Família".

Inagaki diz:
Telenovelas brasileiras beberam MUITO na fonte do realismo fantástico, vide O Bem-Amado, Roque Santeiro e todas as escritas pelo
Aguinaldo Silva.
FS diz:
Braulio criou tudo o q está aí hoje na TV. Dias Gomes idem. O resto veio atrás.

FS diz:
Saramandaia e o Bem-Amado são pérolas da teledramaturgia. Há qto tempo não se faz algo assim? Glória Perez?

Inagaki diz:
Vixe, há tempos desencanei de acompanhar novelas. Ah, a capa do novo livro do Pellizzari está aqui - o livro

FS diz:
Remete à nossa discussão dos acima da barra e os da média. Quem entenderia "O Rebu" se minha avó, noveleira de carteira, não entendia?

Inagaki diz:
Ih meus caros, agora eu tenho mesmo que ir. Um abração procêis! :D

FS diz:
pena pq o papo agora iria para Angel Heart e como entender o roteiro daquele filme q sei vc é fã.
esther diz:
qual filme, fabio?
FS diz:
Angel Heart com o Rourke e De Niro, sempre ele.

Inagaki diz:
Digo o mesmo, Ana. :) Quanto a "Coração Satânico", aquela cena de sexo entre o Mickey Rourke e a Lisa Bonet entra fácil na minha lista de 10 cenas viágricas do Cinema Mundial, ao lado do striptease da Rebecca Romjin-Stamos em "Femme Fatale" e das seqüências de "Carne Trêmula" do Almodovar.

Inagaki diz:
E Louis Cypher é um nome sensacional de personagem, vai dizer?

FS diz:
Uma pérola do cinema e dificilmente compreeendida. Tive q assisitir inúmeras vezes e ler sobre até entender tudo.

FS diz:
Isso Ina. Aquele filme é o máximo.

Inagaki diz:
Filmes noir sempre têm roteiros intrincados, vide "À Beira do Abismo" com o Bogart e a Bacall.

FS diz:
Idem para o nome do Louis. Deixei uma vez um comentário em seu blog qdo vc falou sobre e pouquíssima gente pescou.

ana laura diz:
queridos... eu também irei

Inagaki diz:
Agora fui mesmo. Inté!


Inagaki saiu da conversa.

esther diz:
gente que tarde gostosa!
FS diz:
e vamos marcar uma discussão sobre algum tema que todos queiram falar sobre. isso é blog

FS diz:
tb achei. a mehlor tarde em mt tempo

FS diz:
o engraçado é q há mt tempo eu e Ina não nos pegavamos num papo como o de hj. vcs são ótimos e maravilhosos.

esther diz:
sinto falta da li , aqui
FS diz:
a Li é 1000 precisamos marcar durante a semana para desanuviar da rotina

ana laura diz:
quero conhecê-la

FS diz:
perdoem eu o Ina q nos pegamos no papo pq a gente se conhece há tempos....

esther diz:
gente, foi ótimo, fábio

Fal foi adicionado(a) à conversa.


FS diz:
acho q a esther nunca teve tanto material para sentar a pua nos blogueiros.... hahahahaha

Fal diz:
(R)

FS diz:
Esther, vc ainda vira visitar....

Fal diz:
eu num posso ir com vc pq eu não tenho holerite, ana

ana laura diz:
a fal para nos salvar

Fal diz:
os gringos não me deixam entrar

FS diz:
digo, me visitar

ana laura diz:
pode, sim

Fal diz:
e além disso, eu fui expulsa da espanha

ana laura diz:
holerite???

ana laura diz:
que é isso???

Fal diz:
eles devem ter um jeito de levantar isso

FS diz:
vc tb Fal. Qdo eu ganhar na Megalottery eu trago vc e o Alê para cá....

ana laura diz:
tb não tenho, não

esther diz:
fal, estou para receber uma grana do governo. te contrato, monto uma firma, e te dou um holerite
Fal diz:
eba

FS diz:
trago todo mundo. jogo toda semana

ana laura diz:
o alê não poderá ir

ana laura diz:
lamento

FS diz:
quase toda semana

FS diz:
pq o Alê não pode ?

ana laura diz:
ele fica. diga isso a ele, fal

Fal diz:
ele fica, ana

Fal diz:
como eu vou cair na gandaia se ele for?

esther diz:
eu tomo conta do ale
FS diz:
hahahaha

FS diz:
a ana toma conta dele... sei....

FS diz:
vc tem q tomar conta de todos nós q somos jovens

ana laura diz:
é, vou tomar conta de todos

ana laura diz:
alguém aqui precisa ter juízo

ana laura diz:
o destino é princeton

FS diz:
mudar o q?

ana laura diz:
ale segue com fal até minha casa

ana laura diz:
e me junto a eles

ana laura diz:
passamos em caxambu

FS diz:
princeton é chato.. bom é NY. aquela cidade é fantástica

ana laura diz:
pegamos a esther

ana laura diz:
com destino à NY

ana laura diz:
onde encontraremos don fabio

ana laura diz:
e mais alguém que se aventurar a ir com ele

esther diz:
quem cuidará da égua, meu deus?
FS diz:
estarei lá.... embaixo da marquise do One Penn Plaza

FS diz:
hahaha, esther vc me mata de rir tb....

Fal diz:
hum

Fal diz:
eu ainda prefiro o fabão aqui

FS diz:
q égua?

esther diz:
escuto agora want to by some illusions com a ute lemper
FS diz:
eu tb Fal. EUA num tá com nada. Muito papo e pouca ação.

FS diz:
Fal, como vc q é tradutora de inglês e nunca posta nada na lingua ? Pq ? Sério, estou curioso, pq vc é uma virtuose na coisa e nunca fala sobre... É assim como eu q nunca posto em ingreis pq acho brega?

Fal diz:
ah, eu não penso em inglês, Fabio. Eu penso em espanhol. E passo o dia todo traduzinho o que eu penso pro portugues, o dia todo, é uma canseira descomunal. ENtão, nem me ocorre. É um blog em pt, eu escrevo em pt, eu tento ao máximo viver o dia todo em pt. Acho que é isso. Na verdade, eu não sei transmitir emoção, eu não sei sentir em inglês. Eu sinto em espanhol e tento sentir em pt

FS diz:
Pois é Fal, vc vê meu caso tb , opero em inglês o tempo todo e blogo em português...

Fal diz:
apois, fabinho

Fal diz:
eu acho esse negócio todo de idioma muito maluco

FS diz:
confissão: qdo comecei a blogar era em inglês...

Fal diz:
que bacana!

FS diz:
no live journal

FS diz:
em 2001

FS diz:
aí larguei graças a Deus

Fal diz:
hahahahha

Fal diz:
sua mulé é americana?

FS diz:
non. eu jamais casaria com americana. elas são que nem manequim, bonitas de ver e ruins de pegar

Fal diz:
então em casa vcs falam em português ?

FS diz:
isso. sempre e qdo xingo o chefe tb. mas ele não sabe

Fal diz:
ah, então vc tá sempre em contato com o português, o idioma tá sempre aí

FS diz:
sabe as coisas q mais me impressionaram em pintura? (olha o verbo)

Fal diz:
o que, amore?

FS diz:
o quadro de Van Gogh (o quarto) é enorme embora todas as reproduções sejam menores.... enquanto os relogios do Dali são mínimos e todas as reproduções são enormes.... tá bom, eu sei, ridículo o q falei

ana laura diz:
não é ridículo

Fal diz:
que coisa bonita isso que vc disse, fabio

FS diz:
o surrealismo é maior do que o que parece e o impressionismo é menor....

FS diz:
engraçado, vc tem q ver isso.... algo q senti mas não li sobre

Fal diz:
sensacional mesmo, roubei

FS diz:
vcs tem q participar do site do Nemo (gente finissima) ainda mais vcs q são um talento para escrever. O site precisa de vcs e não o contrário.

Fal diz:
eu vou mandar sim, fabio, pode deixar




bem, depois de todos combinarem participar do concurso de contos no nemo nox, sonhar com uma visita ao fábio em ny em abril, quando deveríamos ir a paris, a noite adiantada nos conduziu sei lá para onde. um belo dia de domingo, com a gentileza do fábio.